Nelson Freire

Entendo hoje o tempo como uma mera questão de abrir e fechar os olhos. Assim, trago até agora os personagens da minha historia sempre comigo, e às vezes, presto contas dos meus atos a mim mesmo, principalmente no silencio do meu escritório, o canto do apartamento que é o meu mundo, o meu universo, onde já me habituei a conversar comigo e com os meus outros eus.

Com o jornalista que recomecei a ser nesses últimos tempos; com o economista que sempre fui; com o empresário que procurou manter a tradição da família enquanto pôde; com o musico que deixou aflorar à pele o amor às notas e aos sons, herança do sobrenome Medeiros; e até com o advogado que continuei insistindo em ser, ao me tornar Bacharel em Direito. E sigo em frente, porque, como ensinava Câmara Cascudo, “um homem é invariavelmente a soma dos muitos homens que nele vivem”.

Nesse meu canto especial, o meu escritório, é onde eu converso com o meu eu político, apaixonado pela vida publica, obcecado pela possibilidade de somar, de fazer mais pela cidade, pelo estado, pelo povo já tão descrente e cansado de ver escândalos sucessivos na cena política local e nacional. E troco ideias comigo mesmo sobre as questões que nos afetam a todos enquanto cidadãos.

Talvez eu seja de fato um modelo excessivamente romântico, em desuso e já antiquado para os padrões atualmente em voga. Ou seja, em descompasso com a realidade atual. Como um aluno fora de faixa, como diriam os professores, ou um medicamento “com prazo de validade vencido”, como escreveu Valério Mesquita numa de suas belas crônicas.
Alguém que ingressou na política com uma grande dose de idealismo, querendo se doar numa missão que entendia ser importante para a coletividade, mesmo que poucos a entendessem assim. E talvez até por causa da minha inquietude visível e da multiplicidade dos meus eus, poucos imaginassem ser essa a minha principal motivação de fazer política.

Volto um pouco ao passado ainda mais longínquo e constato que, se eu não participei mais assiduamente da política estudantil desde a adolescência, foi porque me foi vedado esse direito no inicio da minha juventude. Como tantos outros direitos, durante os dois primeiros terços do período revolucionário, que começou em 1964 e que ceifou muitas vocações.

Eu era um jovem provinciano vivendo numa cidade ainda pequena e pacata, fora da efervescência das grandes metrópoles, tentando compreender o que se passava ao seu redor, mas sem conseguir espaço para exercitar uma vocação que aflorava timidamente. Num tempo em que os grandes líderes foram amordaçados e que não havia a preocupação na formação de novos. Uma época de ebulição permeada de medos e incertezas. Por isso eu já questionava comigo mesmo, nos momentos de reflexão, aquela realidade de tantos conflitos.

Mas sinto que, mesmo que já tenha saído da primeira margem do rio, o percurso até o outro lado tem sido longo e sem maiores sobressaltos, até certo ponto tranquilo e gratificante, pelo que agradeço diariamente a Deus, em quem deposito fé e confiança inabaláveis. Por isso eu pretendo prosseguir no caminho que decididamente escolhi por livre e espontânea vontade, certo de que estou fazendo o melhor que posso. Nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar, como cantou Elis Regina.

Nelson FreireEconomista, Jornalista e Bacharel em Direito

Ponto de Vista

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