ESTA É DE VERÍSSIMO –
Um homem dos seus quarenta anos, voltava para casa no horário de sempre, quando sentiu um pneu furar. Encostou o carro no meio-fio e começou a batalha com o macaco. Ergueu o carro, trocou o pneu e já fechava o porta-malas, quando a sua aliança escorregou pelo dedo sujo de óleo e caiu no chão.
Ele deu um passo para pegar a aliança, mas sem querer a chutou. A aliança bateu na roda de um carro que passava e voou para um bueiro, onde desapareceu diante dos seus olhos. O que fazer? Limpou as mãos, entrou no carro e seguiu para casa, pensando no que dizer para a mulher e qual seria sua reação.
Em suas elocubrações assim fantasiou a conversa: Você não sabe o que me aconteceu! – O quê? – Uma coisa incrível. – Diga! – Você não notou nada de diferente em mim? – Não. Então ele lhe mostraria o dedo sem a aliança e contaria tudo, exatamente como acontecera.
Que coisa! – diria a mulher, calmamente. E ele: – Não é difícil de acreditar? E ela, perdendo as estribeiras: – Não. É perfeitamente possível. SEU CRETINO. Está me achando com cara de boba? De palhaça? Eu sei o que aconteceu com essa aliança. Você tirou do dedo para namorar.
E continuando com a ladainha de revolta: – Chega em casa a essa hora e ainda tem a cara de pau de inventar uma história em que só um imbecil acreditaria. Ela, então, sairia de casa com as crianças, sem querer ouvir explicações.
Voltando à realidade dos acontecimentos, ele chegou em casa sem dizer nada. – Por que o atraso? Muito trânsito. Por que essa cara? Nada, nada. E, finalmente: – Que fim levou a aliança? E ele disse:
– Tirei para namorar. Para fazer um programa. E a perdi no motel. Pronto. Não tenho desculpas. Se você quiser encerrar nosso casamento agora, eu compreenderei.
Ela fez cara de choro. Depois correu para o quarto e trancou a porta. Dez minutos depois reapareceu. Disse que aquilo significava uma crise no casamento deles, mas que eles, com bom senso, a venceriam. – O mais importante é que você não mentiu para mim. E foi tratar do jantar.
O conto acima se chama A Aliança, extraído do livro As Mentiras que os Homens Contam, lançado em 2000, a mais famosa obra de Luis Fernando Veríssimo ou Veríssimo, como ele se intitula em seus livros. Com seus contos leves e engraçados ele superou seu pai, Érico Veríssimo, entre os mais lidos e famosos do Brasil.
Luis Fernando usava nos seus escritos uma linguagem coloquial, com diálogos e descrições que criavam situações inusitadas e engraçadas. Seus temas abrangiam o cotidiano, relacionamentos, política, cultura gaúcha, culinária e memórias pessoais. Seus personagens sempre recorrentes e anedóticos, como o Analista de Bagé, o Dr. Pompeu e a mulher do Silva são figuras impagáveis da nossa literatura.
Com as mortes de Millôr Fernandes e de Luis Fernando Veríssimo criou-se um vácuo difícil de ser preenchido no espaço cultural e do humor inteligente do nosso Brasil. Sinto falta de seus escritos. Certamente, eles exercitam seus dotes satíricos em algumas publicações lá para os lados desconhecidos da morada eterna.
José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil
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