É PARA DAR CONTA? –
Nas redes sociais tudo parece fácil, rápido, perfeito. A vida virtual exige que a gente seja saudável, produtivo(a), divertido(a), amoroso(a). É para dar conta? A pergunta fica no ar, mas a resposta quase nunca aparece — porque ninguém consegue, de verdade, chegar a esse padrão.
Mostram-se corpos esbeltos, carreiras brilhantes, famílias felizes reunidas, mostram o trabalho feito, a risada solta, o prato colorido, a viagem dos sonhos. Mas o que fica por trás dessa vitrine é outra história: a luta diária para encaixar tantas responsabilidades, emoções e expectativas num espaço tão limitado quanto o dia tem horas.
Tentar corresponder a tantos papéis e ainda ser o “influencer” da própria vida real é adoecedor: a ansiedade cresce, o sono desaparece, o sentimento de insuficiência aumenta. Porque ninguém mostra os dias ruins, os cansaços, as dúvidas, e a paciência, quando acaba — e isso é um insight doloroso que poucos admitem.
É quase uma armadilha: quando enxergamos os outros “dando conta”, nos cobramos ainda mais para estar à altura daquela imagem ilusória. Mas ninguém, jamais, dá conta de tudo isso — e tudo bem. A saúde mental sofre, sim, quando nos esquecemos de ser humanos antes de sermos perfis na internet.
O que falta à sociedade virtual é um pouco de verdade crua, aquela que fala de imperfeições, de cansaço, de limites humanos. Porque o desafio real não é mostrar que dá conta, e sim aprender a aceitar que não dá — e que, mesmo assim, seguimos aqui, tentando.
No altar da modernidade, ergue-se o culto à produtividade. É como se o tempo, antes uma estrada aberta para a reflexão, tivesse se transformado num campo de batalha onde cada segundo não aproveitado vira pecado. “Se não está produzindo, está ficando para trás” — essa máxima ecoa nas mentes e corações acelerados pelos implacáveis minutos que correm contra nós.
Vivemos presos à ideia de que o valor está no que entregamos, no resultado palpável, no número que sobe nas planilhas. A pausa, o descanso, o ócio criativo quase não encontram lugar à mesa. Quem desacelera é tachado de preguiçoso, desatualizado, um andarilho perdido numa dimensão onde o tempo corre e não espera.
Mas e se, no meio dessa pressa, esquecemos do essencial? Se a produtividade vira um carrasco da alma, que nos empurra sempre mais rápido e mais longe, arriscamos perder o que realmente importa — a presença, a essência, a possibilidade de simplesmente ser. O medo de ficar para trás, afinal, pode ser o que nos deixa de fora do próprio presente.
No culto à produtividade, o sacrifício vira norma, a ansiedade vira ritual e a vida perde a cor. Quem dita o ritmo da existência deve ser o coração, não o relógio. Talvez seja hora de desacelerar, não para ficar para trás, mas para caminhar ao nosso próprio lado e realidade, no tempo certo de cada um. No fim das contas, o que vale mais: dar conta de tudo — ou dar conta de si mesmo? Será que a gente precisa mesmo dar conta de tudo, ou só do que faz sentido para nós? E se o verdadeiro “dar conta” for apenas continuar, com calma, sendo, em essência, quem se é?
Tatyanny Souza do Nascimento – Psicanalista e escritora
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