Carlos Alberto Josuá Costa

Cada vez que apuro o olhar sobre Macaíba – berço de tantas famílias que conduziram no peito a verdadeira cidadania – tenho uma visão como se outra cidade fosse, pela transformação de formas e virtudes das terras de minha infância.

Salvo alguns lampejos arquitetônicos que relutam em se manter, já não descortinamos os traços da beleza de suas fachadas e janelões que davam ares de cidade tranquila e acolhedora.

Hoje, a efervescência urbana caracterizada pela falta de planejamento comum na maioria das cidades interioranas, aliada ao processo de saída de seus filhos para alçarem caminhos profissionais e pela chegada de “não filhos” pela proximidade da capital, não é mais possível identificar a Macaíba de outrora.

Claro que os tempos são outros. E como tal acompanho a dificuldade de se administrar uma cidade que parece não caber dentro de si.

O grito permanente, daqueles cujos laços são estreitos – a exemplo do artigo “Soma de todos os medos” de Valério Mesquita – entre outros, chama atenção para o fato de tamanha violência que domina os recantos da cidade, onde impera o poder da droga.

É simples relativizar tal problema, quando apenas se busca justificar: “Isso acontece em todas as cidades”. “É assim mesmo”. “Tá uma coisa séria”, e fica por isso mesmo.

É possível sim, agir, ainda que tardio.

Os males que se achegam em detrimento da harmonia e da paz urbana, se dão exatamente pela demora em tomar decisões. Em reuniões e reuniões, sem a praticidade da ação.

É dito e conhecido que o câncer tem cura quando tratado na fase inicial. Assim também deveria ser as ações administrativas a partir das primeiras invasões de propriedades, das primeiras apreensões de drogas, dos primeiros sinais de desordenação urbana, do caótico trânsito, das primeiras mendicâncias, das primeiras ausências dos aspectos culturais, das primeiras ‘fugas’ escolares, das primeiras ‘dores’ na saúde, dos primeiros gritos de injustiças, dos primeiros registros criminais.

Não dá para esperar! A banda já não passa mais, até porque o mestre Augusto, artista na arte em madeira e exímio tocador de tuba, se recolheu silenciosamente sem entender por que a sua, a nossa Macaíba, foi tomada pelo medo.

As facções criminosas se organizam, as entidades radicais se organizam, os fanáticos se organizam, por que então a sociedade também não se organiza para dar um basta em tantos afrontes que dizimam as famílias, as instituições e os preceitos morais vigentes?

Ser jovem está deixando de ser sinônimo de vigor, principio de vida, esperança de um futuro melhor, de novos líderes, de novos talentos, para ser de “marcado para morrer”, destroçando lares e alimentando ódio e vingança sem fim.

Já não se inauguram novas escolas, formadoras de valores cívicos e éticos, mas se alargam covas para a nossa juventude.

Vamos Macaíba, vamos sair dessa situação. Você, torrão amigo, não foi idealizada para tal infortúnio. Você é “pátria” de homens e mulheres nobres – não pela ostentação – mas pelo orgulho de ser macaibense.

A Macaíba que aprendi a amar andando pelas ruas na bicicleta de Rui Maciano, no passear pelas calçadas dando bom dia e boa noite, no aprender o ‘bê a bá’ com a professora Enedina, no ver o rio Jundiaí com suas margens limpas – sem manguezais invadindo tudo, de acompanhar as conversas e as brincadeiras de Ranilson Costa (meu pai) com seus amigos Paulo Holanda, Bridenor, José Maciel, Alfredo Mesquita, Cícero Luiz, José Mafra, João Santiago, Aguinaldo, Oscar, José Maciel, Juvenço, Edgar, Romão, Juvino, Seu Euclídes, Manoel Firmino, Prof. Rivaldo, Geraldo Pinheiro, Leite, Zé Distinto, Carlos Marinho, Lourival, Odilon, Eider, Wagner Ribeiro, Walter Ferreira, José Inácio, Tonito, José Félix, Clóvis e – tantos outros – que com suas contribuições enalteceram a cidade dos ilustres, não pode se deixar vencer pelo crime.

Afinal, fui menino lá tal qual Valério, Olímpio, Osair, Hélio Pinheiro, Karl Leite, Leonardo, Marlos Rocha, Pabel, Heriberto, Itamar, Luciano, Edilson, Roberto Holanda, Artur Mesquita, Franklin, Evilázio, Fernando Ribeiro, Cícero Macedo, Costinha, Marquinhos, Robinson, Marlos Rocha e tantos outros que como nós nos assustamos com o inesperado, com a insegurança e com a dizimação dos jovens atuais.

Seu lugar, Macaíba, é no pódio da grandeza de uma cidade que almeja e pode alcançar a paz.

Vamos agir, vamos buscar alternativas, vamos pelejar de verdade, vamos dialogar com os poderes públicos, vamos também contribuir para que nossos jovens não sejam dizimados pelos estilhaços de ‘pólvoras’, encurtando sonhos e criando monstros de ódio e indiferença pela vida.

Lembro a Manice (Eunice Lima) que estando lá pertinho de Deus, moldando suas rosas de tecidos para Nossa Senhora da Conceição, não se esqueça de pedir Sua benção para a Macaíba de todos nós.

Vamos devolver Macaíba aos cidadãos macaibenses e àqueles que, por adoção, os fizeram de lar.

Vamos investir na educação de nossos jovens.

Vamos olhar atentos para o futuro.

Carlos Alberto Josuá Costa, Engenheiro Civil e Consultor (josuacosta@uol.com.br)

Ponto de Vista

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  • Parabéns! Você é graduado em Engenharia e deveria também ter sido graduado em Jornalismo.

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