DOS STATES A DUBAI; O QUE DIZEM DE NÓS – Tomislav R. Femenick

DOS STATES A DUBAI; O QUE DIZEM DE NÓS –

Corria a segunda metade dos anos 1950. Em Mossoró, alguns amigos se reuniram na residência de Vingt Rosado para recepcionar o médico Tarcísio Maia, recém-chegado de uma viagem aos Estados Unidos. Note-se que, naquela época, viajar ao exterior era uma façanha restrita aos eleitos dos céus. Que eu me lembre, estavam lá Joaquim Felício de Moura (Quincas Moura), Francisco Mota, Edilson Moura, Francisco Ferreira Souto Filho (Soutinho), Rafael e Gabriel Negreiros, Jaime Hipólito Dantas e eu, como repórter do jornal O Mossoroense. Todos queríamos saber das novidades e, principalmente, como eram os States, como era o povo de lá.

Recordo-me de poucas coisas daquela reunião. Guardo na memória apenas uma pequena parte da conversa. Coisa ligeira. Tarcísio contou que, enquanto aguardava ser recebido por uma autoridade (não me lembro qual ou quem), a secretária do americano quis saber de onde ele era. Ele disse que era do Brasil e perguntou se ela sabia alguma coisa sobre o nosso país. Ela pensou um pouco e respondeu: “Banana, rumba e Carmem Miranda”.

Dez anos depois, na minha primeira viajem ao exterior, deparei-me com um cenário um pouco mais amplo. No meio acadêmico (de um curso que terminou não havendo) sabia-se mais sobre nós, mas alguns ainda achavam que nós falávamos espanhol e que nossa capital era Buenos Aires (Brasília ainda não havia sido construída).

De lá para cá, o panorama mudou, e muito. Levamos, via Pelé, o futebol para terra do Tio Sam e lá vencemos a Copa de 1994, dando-nos mais visibilidade. Nas últimas vezes que eu fui aos Estados Unidos já não nos confundiam com os outros latino-americanos, sabiam que a bossa nova era música nossa, que o Rio de Janeiro e o Cristo Redentor são lindos e que nossa economia estava estre as dez maiores do mundo, oscilando entre o 7º e o 8º lugares; lamentavelmente dizem que este ano cairemos para a 12º posição. Mesmo assim, foi uma mudança e tanto. Todavia, a maior alteração foi no campo acadêmico.

Se a presença de estudantes brasileiros nas universidades americanas e europeias era uma exceção, um ponto fora da curva, hoje já é um fato corriqueiro. No ano passado, somente uma associação de ex-alunos brasileiros da Universidade de Harvard identificou 1.768 pessoas (3% em cursos de graduação, 36% em cursos de extensão, mestrados ou doutorados e 61% associados a outros cursos).

Essa maior presença verde-amarela em campus universitários avançados no exterior tem dois aspectos positivos: primeiro, projeta nossa imagem em ambientes de maiores saberes e no topo das pesquisas científicas; segundo, capacita-nos com a vanguarda do conhecimento prático, tecnológico. Em ambos os casos, trazidos para o Brasil, os saberes científicos e o conhecimento de como empregá-los, alavancam os nossos níveis de emprego e produção, com novos e modernos meios de fazer as coisas.

Por outro lado, nossas universidades públicas, embora patinem em alguns problemas (falta de recursos, falta de comprometimento de alguns professores e alunos, entre outros entraves), têm conseguido alguns resultados notáveis, consideradas as condições em que vivem. As que desfrutam de melhores circunstâncias são também as que mais se destacam no ranking. Note-se que nenhuma universidade particular aparece ente as dez melhores do Brasil. Vamos à ordem de classificação no “Ranking Universitário Folha-RUF”: 1º USP, 2º UNICAMP, 3º UFRJ, 4º UFMG, 5º UFRGS, 6º UNESP, 7º UFSC, 8º UFPR, 9º UNB e 10º UFPE. A nossa UFRN ficou em 22º, em um total de 197 universidades de todo o país.

E o que é que tem tudo isso? Por que saímos do que “pensam de nós” para o que “nós somos”. Porque tem tudo a ver. Tenho um cunhado e uma cunhada que moram em Sydney, na Austrália, uma sobrinha que mora no Texas, um sobrinho que mora em Dubai, uma prima que mora em Nova York. Sempre que falo com eles, pergunto: “E aí, o que os gringos pensam de nós?”. Samba, carnaval, favelas, violência, corrupção e praia, com mulheres usando fio dental, sempre estão no topo da lista. Ou seja, ainda nos vêm como um país exótico, com muitas razões para não ser levado.

 

Tomislav R. Femenick – Mestre em economia, com extensão em sociologia. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do RN

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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