Diversidade, Empoderamento e Vira-Latismo: Novas Evidências Olímpicas –
Nesses dias frios de julho, 12 horas têm separado realidade e sonho. Do outro lado da esfera terrestre, na terra do “sol nascente”, não há apenas uma distância vista pelas lentes geográficas, socioeconômicas ou culturais. É que do lá de cá, onde estão mais de duzentos milhões de brasileiros, toda distância que dita uma realidade quase sempre impiedosa, pode ser encurtada por sonhos palpáveis. A esperança parece ser mesmo o “sonho acordado de Aristóteles”.
E como estamos acordados madrugada a dentro, naquela eterna esperança que se renova a cada 4 anos, na forma de torcedores olímpicos, penso que há algo de novo, desta vez.
E como há. Pelo menos, três aspectos têm-me chamado à atenção nesses Jogos: o reconhecimento da diversidade, o empoderamento feminino e o vira-latismo assumido. Cada um abraça seu revisionismo conceitual, com quebra de paradigmas e tabus. Sem medo de se exercer uma felicidade até então represada nas lides esportivas.
A diversidade exerce sua grandeza, em todos os sentidos. Na hora de se mostrar a competitividade das provas ou jogos, ficam de lado os valores culturais, políticos e socioeconômicos. É assim que o esporte precisa exercer sua soberania. No entanto, preciso registrar uma diversidade interior, que está dentro da própria atividade esportiva. Refiro-me ao respeito maior por modalidades antes discriminadas. Percebo que, em cada edição, o COI admite novas práticas. Duas delas, por exemplo, trouxeram à ribalta o surf e o skate, justo os esportes que acabaram de nos proporcionar a alegria por três medalhas: um ouro e duas pratas.
O surf em si, mesmo não tratado antes como esporte olímpico, trazia uma identidade nacional mais exposta a grande mídia. O que cabe aqui como reflexão é essa “explosão” do skate no Brasil. Hoje, estimam-se 8,5 milhões de praticantes, uma marca surpreendente, o que revela uma popularização que pouco se tinha conhecimento. Ou seja, apesar da grandeza desse esporte, sua reverberação nunca foi mostrada em igual proporção. Por quê?
A resposta é simples: preconceito com despojamentos, quebra de protocolos, tudo em nome da liberdade, do estar nas ruas. De fato, essa postura criou um ambiente discriminatório, de até reconhecer seus praticantes como marginais, latu sensu. Sei bem desse significado, porque ao gerir os equipamentos denominados de CEU’s pelo Brasil, no meu tempo de Secretário Nacional do Ministério da Cultura, acatei inúmeras demandas de incorporação de pistas de skates, num projeto original que não as contemplava. O pleito das comunidades e da juventude que queriam exercer sua liberdade nas praças, pela opção sadia do esporte, foi uma força maior e comovente. Por essa e outras demandas sociais, a colheita dos resultados se tornou real. Afinal, o povo sabe aferir seu valor.
De propósito, armei o texto de um modo tal que essa vitória do skate permitisse a introdução do outro aspecto a comemorar nesse início de jogos olímpicos: o empoderamento feminino. O tema veio logo à tona de modo retumbante, com nome e sobrenome forte: Rayssa Leal.
Pois bem, nesse novo padrão olímpico, a expressão forte está na excelência do papel da mulher advir de uma “fada sonhadora”, que aos 13 anos de idade acabou de impor ao Brasil que “sonhar é preciso e pode se revelar como real”. Não importou ser mulher, nordestina do interior do Maranhão ou uma pré-adolescente. O importante foi exibir – e daí provar – que o talento é capaz de vencer. Até preconceitos.
Ademais, diante desse contexto olímpico, não foi apenas um duplo tabu quebrado, somente porque se valorizou a diversidade, até mesmo nas modalidades esportivas. Rayssa representou a resiliência e superação dentro do seu próprio esporte, que sempre olhou com desconfiança para o êxito feminino.
Para não “perder essa viagem” a respeito da representação feminina, que tal também destacar Rebeca Andrade, da ginástica olímpica. Na expectativa que ela repita o sucesso de Daiane dos Santos, há toda uma torcida pelo ineditismo de uma medalha olímpica para a ginástica.
Todavia, vale dizer que essa possibilidade se dá hoje noutro contexto, pois Rebeca fez questão de demonstrar uma coragem cidadã ao expor suas raízes ancestrais e identitárias. Evoluir na sua apresentação em solo com o “Baile de Favela” foi outro exemplo de quebra de tabu. Taí, então, uma nova referência de superação pela força da raça, do gênero e das suas origens.
Por fim, os aspectos que expus ajudam a revelar também um outro, cuja velha percepção a seu respeito precisa ser revista. Refiro-me à retomada do “complexo de vira-latas”, que ocasionalmente é colocado como uma inferioridade da raça, que tenta reproduzir o brasileiro como um eterno derrotado. Numa visão evolutiva desse rotulação que soa pejorativa, houve o momento onde sua introdução, dentro da crônica rodrigueana, foi necessária para mexer com os brios da “pátria de chuteiras” . Esse esforço valeu para que em 1958 se mostrasse que nossa seleção de futebol era não só competitiva, mas capaz de ser vencedora.
Agora, longe de se pensar apenas na capacidade eventual de vencer, o que existe e pauta as relações é um orgulho nacional, genuíno, que enxerga muita riqueza na diversidade étnica e cultural. Embora haja quem ainda não acredite nesse jeito mestiço de ser, o fato é que essa realidade é mesmo transformadora e já começa a ser aceita e valorizada. Com todos os méritos.
Como defende Giannetti nos seus textos, não há porque não se orgulhar do nosso “vira-latismo”. Essa é a essência do brasileiro desde quando foi mazombo e com ela poderemos fazer da nossa sociedade exemplo de múltiplas conquistas, seja qual for a atividade. Está aí Rayssa, que na forma lúdica de quem se entretinha com seu brinquedo, saiu das praças de Imperatriz (MA) e restaurou uma liberdade geracional. Com a força da rua e o gosto popular, ambos em dose suficiente para se ganhar o mundo.
Os exemplos que extraio desse início de Olimpíadas ajudam na esperança pela construção de um outro país. Capaz de se espelhar na sua diversidade, que saiba respeitar a igualdade de gênero e que assuma ser um “vira-latas”, com muito orgulho.
Alfredo Bertini – Economista e colunista da Folha de PE e do Blog Ponto de Vista
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