Públio José

Na vida do apóstolo Pedro inúmeras passagens relatam sua rica convivência com Jesus. Entretanto, uma das mais significativas diz respeito ao início da caminhada do apóstolo com Jesus. Jesus chegara à praia e estava sem condição de falar à multidão porque “esta o apertava”. Olhando de um lado para outro, Ele divisou o barco de Pedro, naquelas circunstâncias a tribuna ideal, o púlpito perfeito. O texto bíblico não relata, mas Jesus deve ter pedido licença, permissão a Pedro para utilizar o seu barco como palanque. Naquele momento o espaço que pertencia a Pedro – o seu barco – era um elemento importantíssimo para o discurso que Jesus pretendia proferir. Pedro era tido como uma figura explosiva, sanguínea, e era de se esperar, pelo seu agir natural, que ele negasse a Jesus o seu espaço. Além do mais porque acabara de chegar de uma pescaria – pescaria, por sinal, totalmente infrutífera.

A lógica, portanto, indicaria uma recusa total de Pedro às pretensões do Mestre. A história nos informa que o futuro apóstolo estava passando por momentos empresariais dificílimos. Pedro devia impostos a Roma e o faturamento advindo da pesca, naquele tempo ainda feita em condições extremamente precárias, não vinha correspondendo às suas expectativas. Entretanto, Pedro acedeu. Abriu seu espaço físico para a pregação da palavra de Jesus. Este foi um momento importante, demarcatório na sua vida. No primeiro contato com Jesus ele aceitou interagir, colaborar. A narração está contida na Bíblia, em Lucas 5, do versículo 1 ao 13. Mas, o mais importante não foi somente Pedro emprestar seu barco a Jesus – foi também abrir coração e mente para o conteúdo do que Jesus falava e, conseqüentemente, aceitar, na sua lógica, a essência do discurso proferido.

Depois de ouvir a Jesus pela primeira vez Pedro nunca mais foi o mesmo. De início foi testemunha e alvo principal de um milagre promovido pelo Mestre. Após emitir a sua fala, Jesus – sabedor das extremas dificuldades empresariais que ele enfrentava – se volta para Pedro e lhe ordena que se faça ao largo e lance as redes ao mar. Ainda impactado pelo discurso que ouvira minutos atrás, Pedro faz uma declaração de fé ao afirmar: “Mestre, havendo trabalhado toda à noite, nada apanhamos, mas sob a tua palavra lançarei as redes”. O resultado é por demais conhecido. As redes ao serem trazidas à tona estavam abarrotadas de peixe, e, de tão pesadas, quase que se romperam, necessitando da ajuda de outros pescadores que estavam próximos. Foi um caso típico de superprodução inesperada…. Pedro, assim, sentiu na própria pele o resultado da abertura de seus espaços para Jesus.

Em nossas vidas nós também temos nossos espaços a administrar, a preencher. A questão é saber com que tipo de proposta, de discurso nossos espaços estão sendo preenchidos. A nossa residência é um espaço importantíssimo; nossa mente, a família, ambiente de trabalho, o ambiente social que habitamos – enfim, as áreas ao nosso redor que influenciamos, mas também os espaços, sob nossa responsabilidade, que sofrem influências externas, influências de outrem. Pedro poderia ter negado seu espaço a Jesus. E aí, o que teria acontecido? A pesca tão frutífera, que quase afunda o barco e quase rasga as redes, teria ocorrido? Certamente o Evangelho de Jesus teria de ter uma outra redação, um outro desfecho. Pedro cedeu seu espaço físico e mental para Jesus. É hora, então, de se perguntar: com que tipo de conteúdo nós estamos preenchendo nossos espaços físicos, mentais e espirituais?

Em certos ambientes só se fala em dinheiro; em outros é a ascensão social, política e empresarial que ocupa todos os momentos. Para certas pessoas o importante é curtir futilidades, superficialidades. Um grupo, extremamente numeroso, é integrado por gente que não pensa em outra coisa que não tenha um forte peso material. E a salvação? Poucos se preocupam em buscar uma explicação para esse fenômeno espiritual que irá marcar nossas vidas para a eternidade. Para a grande maioria o imediatismo é que importa, com a vantagem correspondente. Outros estão ocupando seus espaços com crimes, mortes, seqüestros, corrução. Para alguns o se prostituir é a atividade ideal, compensadora. Pedro destinou todos os seus espaços a Jesus. Deu-se bem, fez história. Resta saber, a essas alturas, se é positiva ou não a destinação que estamos dando aos nossos espaços. Não já está na hora de refletir?

Públio José – jornalista – (publiojose@gmail.com)

 

Ponto de Vista

Recent Posts

COTAÇÕES DO DIA

DÓLAR COMERCIAL: R$ 5,1810 DÓLAR TURISMO: R$ 5,3700 EURO: R$ 5,5400 LIBRA: R$ 6,4830 PESO…

1 dia ago

Dia do Trabalhador: veja o que abre e fecha no comércio de Natal na quarta-feira (1º)

O comércio de rua e os supermercados de Natal estarão fechados no feriado do Dia…

1 dia ago

Manifestantes pró-Palestina invadem prédio da Universidade de Columbia; presos em protestos chegam a 1.000

Após ignorarem um ultimato da direção para desmontar acampamento, manifestantes pró-Palestina quebraram janelas e invadiram um…

1 dia ago

Rei Charles III retoma agenda pública com visita a centro de tratamento para câncer em Londres

O rei Charles III voltou nesta terça-feira (30) a comparecer a compromissos públicos, após meses ausentes para…

1 dia ago

Petrobras e governo do RN assinam acordo para instalação de projeto piloto de geração de energia eólica em alto mar

O governo do Rio Grande do Norte e a Petrobras assinaram nessa segunda-feira (29) um memorando…

1 dia ago

Onda de calor se estende e deve durar até segunda semana de maio

Inicialmente prevista para acabar nesta semana, a quarta onda de calor do ano deve durar até…

1 dia ago

This website uses cookies.