Se todos as mortes – por causas indeterminadas e síndromes – se confirmassem por Covid-19, o número de óbitos em Manaus poderia ultrapassar a casa dos 700 na semana analisada, uma vez que os números de sepultamentos em cemitérios particulares não entraram na análise. Pelo menos 266 mortes que ocorreram dentro de casa no mesmo período, de acordo com a Prefeitura, também entram na contagem.
Conforme boletim epidemiológico divulgado nessa quarta-feira (29) pela Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM), 51 óbitos registrados no Amazonas estão em investigação pelo Laboratório Central de Saúde (Lacen-AM).
No mês passado, o Estado do Amazonas entrou em estado de alerta após registrar, entre novembro e março, 329 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), segundo a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS).
Embora seja comum o aumento de síndromes no período sazonal – de novembro a maio, durante o regime de chuvas – no último dia 19 de abril, o número de mortes pelo novo coronavírus no Amazonas já havia superado as mortes por SRAG, em 2019: foram 182 mortes por Covid-19 neste dia, enquanto no ano inteiro de 2019 o número de óbitos por SRAG chegou a 89.
Com uma média atual de 100 sepultamentos por dia, enterros noturnos e conflitos sobre o sistema de agrupamento de caixões, a Prefeitura de Manaus estima que a situação ainda pode piorar. Segundo projeção divulgada pelo Poder Municipal, o número de enterros na capital pode chegar a 4,2 mil no mês de maio. No domingo (26), Manaus registrou o maior número de enterros desde o início da pandemia do novo coronavírus, com 140 sepultamentos.
A subnotificação de casos já havia sido alertada por um estudo elaborado pelo chefe do Departamento de Matemática da Ufam, professor Dr. Alexander Steinmetz – em conjunto com Prof. Dr. Sandro Bitar – que analisou os números da pandemia no estado.
No início de abril, Steinmetz afirmou que quando o Amazonas chegasse a 2 mil casos confirmados, era possível que existissem, na realidade, entre 14 mil e 20 mil casos totais, incluindo assintomáticos e não testados. “É uma estimativa de todos os casos na população. Muitos casos passam por debaixo do radar porque a pessoa nem percebe que tem a doença”, disse.
Mortes por insuficiência respiratória
O ex-sogro de Jean Carlos morreu, aos 70 anos, na tarde desta terça-feira (28) com sintomas que podem ser da doença. Ele contou que o idoso estava há mais de sete dias com falta de ar e que chegou a ir ao hospital mas foi mandado de volta pra casa. Depois que os sintomas se agravaram, ele foi internado.
“Ele foi pro HPS Delphina Aziz antes de piorar e eles não aceitaram. Mandaram ele para policlínica do bairro, e lá ele também foi destratado. Passaram um remédio e ele foi pra casa em casa. Até que ele foi piorando e o filho conseguiu levar ele pro hospital de novo, porque ele não queria mais ir. Ele foi internado no Platão Araújo e lá ele faleceu”, contou o pedreiro.
À reportagem, Jean Carlos declarou que não acredita que a causa da morte tenha sido Covid-19, porque “se fosse, todo mundo em casa estaria contaminado”.
Acreditando que o idoso tenha morrido por insuficiência respiratória, Jean foi ao cemitério N.S. Aparecida solicitar a abertura da cova da ex-esposa, para que o ex-sogro possa ser enterrado junto da filha.
Na última sexta-feira (24), o técnico em enfermagem Alessandro Pascoal de Souza, de 40 anos, morreu após oito dias internado na própria unidade onde trabalhava, HPS Platão Araújo. Ele apresentava sintomas semelhantes aos de Covid-19, mas faleceu antes que o resultasse do exame ficasse pronto. Na certidão de óbito, a causa da morte foi registrada como síndrome respiratória aguda grave.