COLLANE – Flávia Arruda

COLLANE – 

Seja adornando o pescoço, pequeno ou longo com penduricalhos; seja maxi exagerados ou uma simples gargantilha feita de metal ou de couro; seja ela feita de fios de algodão ou de seda; seja de plástico ou de borracha. Que seja incomum, desigual ou extravagante, isso não importa. Todos têm suas tribos e versões das mais inusitadas, entre linhas e cores, tamanhos e formatos, com os mais surpreendentes adornos e enfeites, que dão o toque especial ao designer, tais como: pedras preciosas, pérolas, conchas, penas ou contas feitas com sementes, cristal, vidro, borracha, cerâmica, plástico e o que vier na telha… Isso mesmo, já tive um exemplar feito com madeira compensada, cordas e acrílicos, era uma verdadeira obra de arte contemporânea.

Pois bem, tanto secular quanto religioso, os colares exercem a função mágica de proteção, poder e imponência. Não podemos negar que certas peças revelam ar de superioridade e, em certas culturas, conferem status e hierarquia de quem os veste.

Vejamos no mundo tribal: “Se queres conhecer um guerreiro olhe o seu colar”. Como reza algumas tradições, os colares trazem títulos, habilidades, capacidades e identificação sociocultural. Enfeitá-lo com dentes, pedras e sementes, constituem-se em distintivos dos guerreiros, ou seja, quanto mais badulaques, mais nobre é o guerreiro.

Agora, se formos lá pelas bandas do Pacífico Central, em um arquipélago vulcânico, cheio de penhascos, cachoeiras, florestas tropicais e praias com areias coloridas chamado de Havaí, seremos recepcionados com colares floridos, que por lá tem o nome oficial de “Leis”. Vale dizer que não são meros enfeites ou agrados aos turistas que visitam suas ilhas. Os “Leis” são, na verdade, símbolos de paz entre lideranças opostas, o “Lei” simboliza, oficialmente, que a paz entre dois grupos está acordada.

Ah! Não podia deixar de lembrar os colares faraônicos. No Egito Antigo, a coisa era bem mais pesada, os faraós eram abusados e muito “amostrados” por sinal, traziam peitorais com “toneladas” (exageros à parte) de ouro e pedras preciosas, que de tão pesadas necessitavam de um contrapeso nas costas – só de pensar já me deu dor na coluna (Será que naquele tempo existia óleo de cânfora, “gelol” ou “emplastro Sabiá”?).

Segundo o esoterismo: “O colar é o símbolo da segurança e do elo protetor espiritual”. E diz mais: “presentear um colar quer dizer que quem oferece o presente respeita o conhecimento do presenteado”.

Pois bem, outro dia ao chegar à minha casa, após a labuta, encontrei em cima da minha cama um envelope dos Correios. Senti, em primeiro lugar, o prazer e a alegria de receber algo; em segundo lugar, a surpresa ao ver o nome do remetente da correspondência: Riz Silva, a melhor e mais romântica poeta lá das bandas do Norte.

Se Dorothy Gale teve a Bruxa boa do Norte para lhe apresentar Oz e enviá-la ao Mágico de Oz, dando-lhe um beijo de proteção em sua testa, por que eu não posso ter uma poetisa massa do Norte para me presentear com os amuletos feitos com sementes naturais, extraídas da mãe terra?

Céus! Só agora estou me dando conta dos elos que tenho construído nos últimos tempos. Eu que andava por aí, feito tonta, colocando toda a responsabilidade nas minhas plantinhas que não vingavam. Ah, de certo que elas têm suas contribuições, no entanto, tenho de reconhecer que cada colar com o qual fui presenteada, veio revestido de esmero e desvelo, com a mágica proteção suprema, sublimada pelo carinho de quem os ofereceu.

Rendo-me em agradecimento ao Gladiador romano, dentre toda a bruteza da armadura, expôs sua sensibilidade ao me presentear com a medalha de “São Bento”, com a oração:

A Cruz Sagrada seja a minha Luz.

Não seja o dragão o meu guia.

Retira-te, satanás.

Nunca me aconselhes coisas vãs.

É mau o que tu me ofereces. Bebe tu mesmo o teu veneno.

Dentre todos, o max colar azul turquesa destaca-se pela imponência da realeza egípcia, que me foi presenteado pela suprassumo da competência profissional: Francione. Ele é um arraso, deixa qualquer mulher poderosa!

O relicário, que trago em meu peito, eterniza a felicidade de um instante, guardado nos achados de memória, das vivências que emolduram a alma e embalsamam o bem mais valioso: o amor.

Em meio a toda essa viagem milenar, entre crenças e devoção, dos mergulhos na alma, no resgate de sonhos e desejos, entre agradecimentos e gratidão, dos elos que construí o que mais poderia dizer? Agradecer de novo, claro.

Riz Silva, adorei os três colares que você me enviou. Sim, isso mesmo, presente pouco é bobagem! Com a poetisa lá das bandas do Norte é assim, proteção para ser proteção só vale se for trindade.

 

 

 

 

 

 

Flávia Arruda – Pedagoga e escritora, autora do livro As esquinas da minha existência, flaviarruda71@gmail.com

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