COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: COISAS DA REDINHA ou RIDINHA? DOS ANOS 50 e 60 –
Segundo Luís da Câmara Cascudo – em sua Acta Diurna – é REDINHA e não RIDINHA.
Diz ele: “Redinha é uma vila do Conselho de Portugal, distrito de Leiros, na Extremadura. De lá emigrou o topônimo para batizar a praia da cidade do Natal”.
Pronto. Falou e disse.
Eu sempre achei que a denominação, REDINHA ou RIDINHA, era por conta da imagem das redes de pesca, que depois de lançadas ao rio ou ao mar eram colocadas para secar nas varas, com forquilha, cortadas nos mangues das Gamboas do Rio Potengi.
Naquela época não existiam os ecochatos, nem as entidades do meio ambiente, tipo o IBAMA e nem o IDEMA, controlando os pés de mangue e nem os caranguejos e os siris.
Porém, os homens e a natureza viviam em equilíbrio. Já era uma prática não pegar as fêmeas ovadas dos caranguejos “uçá” e nem dos siris, em especial os de raiz, avermelhados e de maior tamanho.
Íamos para o mangue para trazer as “latas de querosene” cheias dos caranguejos, que pegávamos enfiando as mãos e braços nos buracos que demonstravam a sua presença.
Vez por outra um deles “agarrava” o dedo e só largava quando utilizávamos a faca para forçar a abertura da pata. Depois de todo o sacrifício, não soltávamos o bicho, especialmente se tivesse a pata grande.
Quando chegávamos em casa, colocávamos para cozinhar e começava a festa, cujo divertimento, nessa época, era gozar do prazer de comer caranguejo, até cansar.
O fato é que, respeitando o que possa ter tido de bom nos anos anteriores, podemos atestar que nos anos 50, 60 e 70, a praia da REDINHA viveu gloriosos momentos de alegria e felicidade.
AS DIVISÕES
A Redinha se dividia em três setores: MARUIM, FRENTE e COSTA.
O MARUIM se caracterizava pelo fato de que, ao se localizar junto ao mangue, estava sujeito ao ataque dos maruins, que são mosquitos provenientes da lama.
A FRENTE era a área de praia do Rio Potengi que se iniciava após o grande quebra-mar, próximo à “boca da Barra”, e se estendia até o Maruim, passando pelo Redinha Clube e o Mercado Público.
A COSTA era a parte da praia que ficava em frente ao mar aberto, incluindo a “croa”, próxima ao farol.
AS HISTÓRIAS
Quando éramos meninos íamos pescar nos vários quebra-mares, mas tínhamos que voltar antes do entardecer, porque no final do Maruim, apareciam as almas do cemitério dos Ingleses, junto à Gamboa.
Quando estávamos pescando no grande quebra-mar ou nadando para a croa, se sentíssemos o cheiro de melancia, era por que tinha a presença de algum cação ou tubarão, que são a mesma coisa.
Os cortes sofridos nas afiadas ostras do mangue, eram tratados com merthiolate, que ardia pra danado. Confiávamos nele porque existia a máxima de que: “o que arde cura e o que aperta segura”, mas, normalmente, as feridas inflamavam por falta de asseio, uma vez que não havia resguardo no tratamento. Dizia-se que os cortes abriam e fechavam, acompanhando o movimento da maré.
O DIA A DIA
A Redinha daquela época tem muita coisa para contar.
Namorávamos um namoro inocente nas areias da praia, com brincadeiras que, tempos depois, seriam consideradas “sem futuro”, pois não contávamos com a liberalidade que veio a surgir depois.
Para conseguir realizar as fantasias que a idade trazia, vez por outra era obtida uma “escapulida sexual”, com as funcionárias das casas dos veranistas.
O Redinha Clube era o ponto de encontro. Na parede estava escrito: 10 MESES DE PRISÃO E 2 DE LIBERDADE. Os 2 significavam os meses do veraneio. As suas festas tinham características impares, que até hoje recordamos. O piso era de cimento queimado e dançávamos com os pés descalços.
OS MOLEQUES
Nós, os moleques da época, nos nossos 15 anos e seguintes, tínhamos o espaço da liberdade aos nossos pés.
Nos domingos, quando o horário da maré era favorável, atravessávamos o rio, a nado, na “preia-mar”, “preiamar” ou “preamar”, ou seja, na “maré plena” ou “maré cheia” e na “baixa-mar” ou “maré baixa”, ou seja, na “maré vazia”, quando eram atingidos os pontos máximos e o fluxo da agua parava.
Isso, para encontrar os amigos na praia do forte.
Certa vez, descuidamos do horário de voltar e quando chegamos na prainha do RO, a maré já estava secando, com a correnteza “puxando” para a “boca da barra”. Como não tinha jeito, pulamos no rio e metemos o braço. Só que não conseguíamos vencer a correnteza e foi necessário que a lancha que fazia o transporte de passageiros nos acudisse, antes que saíssemos de barra à fora.
Entre outros divertimentos praticados no Redinha Clube, jogávamos ping-pong, jogo inventado na Inglaterra, que depois virou tênis de mesa e era motivo de muita discussão com Carlos Maia, o “gerente” da mesa. No Clube também tinha um “reservado”, onde jogávamos pif-paf.
Embora hoje o hábito de fumar cigarro esteja fora de moda, naquele tempo era um sinônimo de masculinidade.
Contando com pouco dinheiro, possuíamos poucas condições de ter cigarros suficientes para todo o tempo das nossas partidas de baralho. Quando a disponibilidade acabava, ficávamos procurando as maiores “piúbas” para matar a vontade de fumar.
Falando nisso, é lembrar que o pessoal com idade maior que a nossa, também tinha os seus problemas com relação a falta de cigarros.
Às vezes, por falta de dinheiro, outras, pela miserabilidade de alguns fumantes que gostavam da “godela”.
Mario Luz, irmão de Ró, primo de Brega e do meu médico e amigo Natinha, sempre possuía a sua carteira de cigarros e os seus companheiros se aproveitavam disso.
Como se acostumaram a pedir mais “um” sem comprar nenhum, ele cansou, e passou a negar.
O “amigo” dizia: Adão foi feito de barro, Mario me dá um cigarro.
Ele respondia: Peixe só presta, frito no dendê, lá em seu Clidenor tem cigarro pra vender.
Clidenor tinha um “local” no mercado e era o marido de “Dona Dalila”, que foi imortalizada por conta da tapioca com peixe frito.
À noite, para sair da rotina, dançávamos o coco de roda na frente do mercado e depois quando o motor do gerador era desligado e a luz apagava, íamos furtar coco verde nos quintais amigos.
A TURMA DOS GRANDES
Existia a turma de mais idade que a nossa e, portanto, possuidora de mais regalias e poder.
Os seus componentes tinham liberdade e outras condições que não possuíamos.
Bebiam e faziam serenatas, coisas que nos deixava “babando de inveja”.
Os seresteiros eram escolhidos pelo dom artístico de cantor ou violonista, ou os dois. As serenatas se constituíam em instrumentos para as tentativas de iniciar namoros ou consolidar o sucesso da conquista. Para chamar a atenção no galanteio, as vezes, inventavam novidades.
Uma dessas novidades, foi encontrar uma pessoa que falasse “alto” para participar de uma encenação, durante um tema romântico.
O “ator contratado” teria que dizer, em voz alta: (FULANO) QUE FIM LEVOU AQUELA MULHER?
Sem que nenhum do grupo dispusesse da característica exigida, se lembraram de Arturzinho, que fala muito alto.
Pronto. Problema resolvido, tudo organizado.
Na hora da serenata, quando Artur gritou a frase, na verdade, deu um grande berro, ao invés da namorada ser surpreendida agradavelmente, as crianças da casa acordaram assustadas e começaram a chorar, com medo.
SAÍRAM TODOS EM DISPARADA!!!!
Nesse episódio, Zé Luiz era o homem do violão.
Nele estava escrito: QUEM TE OUVIU, JAMAIS ESQUECERÁ QUEM TE POSSUI.
(ZÉ NÃO ERA ESSE ALAIN DELON, TODO…).
Para os mais novos: Alain Delon era um ator francês, sinônimo de homem bonito, da época.
Bons tempos aqueles.
Antônio José Ferreira de Melo – Economista – antoniojfm@gmail.com
DÓLAR COMERCIAL: R$ 5,3730 DÓLAR TURISMO: R$ 5,5580 EURO: R$ 6,259 LIBRA: R$ 7,1290 PESO…
A Netflix anunciou na manhã desta sexta-feira (5) acordo de compra dos estúdios de TV e cinema…
A Polícia Civil prendeu nessa quarta-feira (3), em Natal, um dos suspeitos de partipação na morte da…
A Polícia Federal prendeu um investigado por contrabando de cigarros em flagrante após localizar material configurado…
A Justiça do Distrito Federal determinou que o Airbnb pague, na íntegra, os custos de uma…
A polícia paraguaia levou dois dias para concluir a contagem da carga de maconha apreendida perto…
This website uses cookies.