COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: OUTRAS COISAS DA FAZENDA UMBUZEIRO (III) – Antonio José Ferreira de Melo

COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: OUTRAS COISAS DA FAZENDA UMBUZEIRO (III) –

DAS ESTÓRIAS

Quando nos reuníamos, em especial, para as feijoadas noturnas das sextas feiras, muitas histórias surgiam, procurando sempre o lado engraçado dos fatos.

Querginaldo era um dos trabalhadores e vizinho da fazenda, que, com bom humor, contava coisas que ocorreram e ocorriam no Distrito do Umbuzeiro.

Numa delas ele contava que manteve um relacionamento com a mulher de um vizinho seu, que gostava de caçar, e, normalmente as caçadas duravam toda a noite.

Portanto, quando via os cachorros sendo “arrumados”, já sabia que ia haver “festa”.

Numa dessas noites, imaginando a caçada em andamento, partiu pro abraço.

Quando já estava no “bem bom”, escutou o “sopro” do cachorro, e imaginou que o vizinho tinha abortado a caçada e voltado pra casa.

Juntou as roupas e saiu, na carreira, passando por baixo das redes dos meninos. Ao passar pela cozinha, a roupa enganchou na bateria, derrubando as panelas e fazendo o maior barulho.

Aí foi que ele se apressou, saindo de “porta afora” e só parou quando chegou na mata.

Passado o susto e constatando que não havia movimento estranho, resolveu voltar.

Foi quando concluiu que o cachorro que tinha “soprado”, era o dele, uma vez que o “sócio” não tinha retornado da caçada.

Sim. Bateria é aquele tripé de metal, com uns ganchos onde se dependuram as panelas, hoje já em desuso.

OS PASSAROS ENGAIOLADOS

Quando menino eu tinha a mania criar pássaros em gaiolas.

Depois, quando já tinha minha casa, possui alguns pássaros excepcionais e alguns deles foram mortos pelos gatos.

Conclusão: passei a detestar mais ainda os gatos e não suportar ver pássaros engaiolados.

Tomando conta da fazenda Umbuzeiro, divulguei que era do IBAMA, como forma de contribuir para evitar a matança de animais e a prisão de pássaros.

Quando o “caminhão da feira” passava pela fazenda eu mostrava uma carteira qualquer, prendia as gaiolas com os passarinhos que iam ser vendidos na feira de João Câmara, e soltava eles no mato.

Ainda tinha mais. Fazia uma preleção sobre a importância de preservar a natureza, e os que iam levar os pássaros para vender na feira, só não me mandavam à PQP.

Porém, vontade não faltava.

No entanto, veja só. Num desses sábados, depois do almoço, eu estava deitado na rede, em baixo de um cajueiro, e vejo dois meninos vindo em minha direção, cada um com uma gaiola na mão.

Me fazendo de doido, quando chegaram perto, perguntei: o que vocês vão fazer aqui com essas gaiolas?

Eles falaram: trouxemos para que o senhor solte os passarinhos.

Fiquei com uma pena danada, mas disse: vocês é que devem soltar, para terem a felicidade de ver a alegria da liberdade.

Eles soltaram os pássaros, mas como as aves estavam muito tempo engaioladas, perderam a condição de voar.

Eu, que pretendia dar um cochilo depois do almoço, passei, juntamente com os meninos, uma boa parte da tarde, acompanhando os momentos de adaptação dos pássaros, até que readquirissem a capacidade de voar e reconquistassem a liberdade.

Ao final, foi a alegria de todos.

AS EMAS E OS CACHORROS

Levei para a Fazenda Umbuzeiro umas emas, que, em pouco tempo, se transformaram num rebanho de mais de trinta aves.

Era bonito de se ver.

No início, pelo tamanho, e até pela sua agressividade, as emas eram temidas pelos cachorros da vizinhança.

Porém, como eram cachorros acostumados a caçar, por falta de cuidado dos seus donos, passaram a ameaçar a minha criação.

Chegando na fazenda, soube de um ataque que resultou em duas emas mortalmente feridas, sendo obrigado a mandar mata-las para aproveitar a carne.

Arquitetei uma vingança. Guardei no frízer, os pedaços que não prestavam para o churrasco e, na semana seguinte, levei o popular veneno chamado “chumbinho”, que também é conhecido como “mil gatos”, pois é um grande exterminador de ratos.

Preparei a mistura e reservei, como se diz na culinária.

Promovi a feijoada de sempre, porém, mais cedo que o horário costumeiro, fiz de conta que estava com sono e o pessoal foi embora.

Depois que saíram, mandei distribuir as porções da carne envenenada em alguns locais próximo à sede da fazenda, e também perto das casas da comunidade.

Resultado: 12 cachorros mortos.

O pessoal pensava em me acusar pela mortandade, mas os meus companheiros de feijoada atestavam: não foi o “Dotô”. Ele bebeu muito e quando nós saímos, já estava quase dormindo na cadeira.

Porém, até hoje, se comenta no Umbuzeiro que fui eu quem matou os cachorros.

Agora, se alguém vier a ler esse relato, vai concluir pela veracidade da desconfiança.

O CHURRASCO DO BURRINHO

O meu amigo Raminho, lá do Rio do Fogo, me falava que que uns gringos que possuíam terras na região de Touros, quando vinham para o Brasil, lhe encomendavam um jumento novo e gordo, macho ou fêmea, para fazer um churrasco.

Eu desconfiava do sabor, mas resolvi, que um dia, ia experimentar.

Eis que, apareceu na estrada uma jumenta parida, e, obviamente, sem dono, que mandei colocar num dos cercados da fazenda.

Acho que com uns 6 a 8 meses a cria da jumenta estava realmente de fazer gosto. Bem gordinha.

Mandei chamar Raminho e fizermos um churrasco, podendo atestar que a carne é de excelente qualidade.

MEU VIZINHO

Chegando no Umbuzeiro, uma das primeiras pessoas que conheci e que se transformou no meu maior amigo, foi Raul.

Homem rude, considerado um dos brabos da região.

Como ele se identificou comigo, a mim se juntou, para que defendêssemos o pedaço.

Constituiríamos uma parceria.

Porém, veja bem como tudo se modifica.

Anos depois, os netos de Raul, por falta de opção financeira, começam a furtar castanha de caju, inclusive as minhas, para satisfazerem as suas necessidades de rapaz/homem.

Fui lá, contei o que estava ocorrendo, e disse: Raul se você não controlar os seus netos, para não acontecer coisa pior, vou mandar prendê-los.

E ele falou: se o senhor fizer isso, estamos encontrando um problema.

Foi aí que encontramos o problema.

Denunciei os netos de Raul, que foram presos e ele ficou com raiva de mim.

Apesar disso, nunca deixei de passar na sua porta e ele morreu sem me perdoar.

Veja como são as coisas das vida. É assim que se conhece o dilema da opção.

A MORADORA DA BEIRA DA ESTRADA E A FLOR

A natureza contempla a vida.

Nos limites da Fazenda Umbuzeiro, na beira da estrada, morava uma bonita mulher.

Isso pode parecer o trecho de um “conto da carochinha”, mas não é.

O fato é que, próximo ao banheiro que ficava fora da sua casa, nasceu uma flor diferente das outras.

Era uma alamanda branca, que não nasce na região, pois só é nativa, a alamanda roxa.

O meu amigo Gilberto Lira, só acreditou quando eu lhe levei uma foto, e me disse que era uma mutação.

Ainda hoje o pessoal tem dúvidas da origem e do porquê daquela alamanda branca.

E eu também.

 

Antônio José Ferreira de Melo – Economista

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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