COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: COISAS DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO – Antonio José Ferreira de Melo

COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: COISAS DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO –

O Tribunal de Contas do Estado, criado no final do Governo Dinarte Mariz, teve como primeiro Presidente o Ministro Mota Neto, sendo sucedido pelo Ministro Romildo Gurgel, que, salvo engano, passou uns 10 anos no cargo.

No meio da briga entre Dinarte Mariz e Aluizio Alves, o Tribunal de Contas se consolidou como o instrumento de fiscalização da aplicação dos recursos públicos, e o Dr. Romildo Gurgel se constituiu, também, num importante instrumento, dentro da articulação política do Rio Grande do Norte.

Muito respeitado, na verdade, o Dr. Romildo, era mesmo, muito temido. A sua capacidade de atingir os desafetos ou quem lhe desgostasse era inimaginável.

Apesar dessa sua “áurea poderosa”, e do fato de que eu contava com pouco mais de vinte anos, mantinha com ele uma boa aproximação funcional, o que não era coisa muito comum.

Como eu “tomava conta” do plano de aplicação e a consequente liberação dos recursos do Fundo Especial e do Fundo de Participação, tinha que, frequentemente, estar em contato com o Tribunal de Contas, tendo acesso ao Gabinete do Ministro Presidente, através do seu “fiel escudeiro”, Secretário ou Diretor Geral, Severino Lopes.

OS RECURSOS PARA OBRAS DO TC

Foi Severino Lopes que me pediu ajuda para o destaque de recursos destinados à conclusão de umas obras em execução no prédio do Tribunal.

Eu levei o assunto ao Secretário de Planejamento, que recebeu o “de acordo” do Governador, me autorizando a dar início ao processo.

Providenciei a tramitação administrativa, chegando ao ponto de faltar apenas a autorização do Secretário, para a remessa ao Tribunal, ou seja, o “despacho”.

Como o Secretário viajou sem despachar o processo, o assunto teria que aguardar sua volta e, por conta dessa demora, Severino me telefonou, dizendo que o Presidente estava cobrando a liberação.

Eu, simplesmente, e, irregularmente, “despachei” o processo.

Tomando conhecimento desse meu “despacho”, o Ministro Romildo Gurgel me chama ao gabinete, e diz: “meu filho, meu filho, nunca faça o que não lhe compete”. E repetiu, com a sua voz cavernosa, ressaltando: NUNCA!!!! NUNCA!!!

Eu, tentando me justificar, disse que, como estava autorizado pelo Governador e pelo Secretário, procurei, tão somente, atender os interesses do Tribunal.

Foi quando ele disse, e eu OUVI muito bem: “jovem, meu jovem, o inferno está cheio de bem intencionados. Um dia você pode pagar caro, por atos tipo esse”.

Conselho melhor, não poderia receber.

Foi o primeiro e último “despacho”, fora da minha competência.

Nunca mais ultrapassei os meus limites.

O ARQUIVO

Às vezes imagino quão seria o “poder de fogo”, do Dr. Romildo Gurgel, nos dias atuais.

Veja bem. Na época dessas histórias, segundo eu OUVI, pois eu não VI, ele tinha um arquivo organizado em “pastas suspensas”, constituído de recortes de jornais, ou mesmo anotações diversas, com notícias negativas, não somente sobre os seus inimigos, mas também sobre qualquer pessoa que tivesse qualquer condição de vir a ser, por exemplo, um político ou mesmo um pretendente a autoridade.

Imagine o Doutor Romildo, hoje, com todos os recursos da informática.

AS CONVERSAS “RESERVADAS” E O MINISTRO DESOBEDIENTE

Para que se tenha ideia de como o Dr. Romildo era “precavido no trato de assuntos delicados” e “exigente pela obediência às suas ordens”, duas histórias eu OUVI, uma vez que eram contadas, “à boca pequena”, dentro do Tribunal.

A primeira, dizia respeito às suas precauções ao tratar de assuntos “perigosos”.

Conversava dentro da água, na Praia do Forte, os participantes nus e com água até o pescoço.

Impossível esconder um gravador da época.

A segunda, falava de um caso envolvendo um dos Ministros, que dizia não assinar uma resolução, por não estar de acordo com o Dr. Romildo.

Ao tomar conhecimento da “insubordinação”, o Presidente chama um dos graduados servidores do Tribunal de Contas – do qual eu não lembro o nome – que era conhecido como exigente, sendo pessoa de sua confiança.

Nessa condição, era o indicado para receber do Dr. Romildo, a incumbência de apanhar a assinatura, que estava sendo negada.

Atendendo à ordem, foi, porém, voltou “de mãos abanando”, sendo obrigado a escutar o seguinte: Fulano, Fulano, você é um incompetente, Fulano!

Volte e diga ao Ministro que eu quero ver a assinatura dele, AGORA.

Enfatizou. AGORA!!!

O advogado foi e voltou com o documento assinado.

SEVERINA – A ADMINISTRADORA GERAL DO ESTADO

Essa, eu também OUVI lá.

Severina, que se autodenominava ADMINISTRADORA GERAL DO ESTADO, se arvorando da sua condição de “falta de juízo”, andava por todas as repartições públicas “dando ordens” e “exigindo providências”.

Esse seu comportamento, dentro do Tribunal de Contas, já era motivo de insatisfação do Ministro Presidente.

Eis que, certo dia, Severina chega na Secretaria do Gabinete da Presidência, determinando a adoção de providências para assuntos idealizados pelo seu fraco juízo.

O Ministro Presidente, tomando conhecimento de sua presença, manda que ela entre no Gabinete e tranca a porta.

Severina, apavorada, parecendo uma catita sob a ameaça de um grande gato, não podia imaginar o que resultaria de tão ingrata situação.

Do alto dos seus cento e tantos quilos, Dr. Romildo começa a afrouxar o cinturão e desabotoar as calças, dizendo: “Severinaaaa, agora vou lhe comerrrrrrr”!!!

Repetindo a ameaça, procura se aproximar dela.

Ela, aos gritos, correndo do “assédio”, pula por cima do sofá e das poltronas do gabinete, até que o Doutor Romildo resolve encerrar a encenação e abre a porta, lhe concedendo a “liberdade”.

Nunca mais Severina passou por perto do Gabinete do Ministro Romildo Gurgel.

 

Antônio José Ferreira de Melo – Economista, antoniojfm@gmail.com

 

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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