COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: COISAS DE GAGOS E FANHOS – Antonio José Ferreira de Melo

COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: COISAS DE GAGOS E FANHOS –

Algumas características que eram frequentes antigamente, parecem diminuir nos tempos atuais.

Os mais antigos podem se lembrar que tínhamos, com frequência, a constatação de pessoas que possuíam deficiência no falar.

Uns, em maior número, pela ocorrência do lábio leporino, eram os fanhos e outros que trocavam as letras ou tropeçavam nas silabas, eram os gagos.

No primeiro caso, as cirurgias reparadoras e no segundo o uso da fonoaudiologia, estão contribuindo para essa redução.

Nos meus tempos de criança, tive muitos colegas que eram gagos.

Embora não se constituísse em bullying, pois tudo era apenas brincadeira, tinha até formas carinhosas de distinguir os colegas gagos, colocando um aditivo ao apelido: Gaguinho do Alecrim, Chico Gaguinho, Galego Gaguinho, Gaguinho isso, Gaguinho aquilo.

OS GAGOS – AS HISTÓRIAS

 

JOÃOZINHO GAGO

Joãozinho Gago é o meu amigo João Dantas.

Na nossa época de juventude, participamos de muitas presepadas e um vez numa festa no América Futebol Clube, já sabendo qual seria o resultado, pedimos que ele chamasse o cronista J. Epifânio para vir até a nossa mesa.

Então ele gritou “XO, XO, XOXOTA EPIFÂNIO!!!!!!!”

Além da risadagem dos que estavam próximos, Epifânio que não gostava do “produto”, veio, mas, não muito satisfeito.

O TAXISTA GAGO DE JOÃOZINHO GAGO

Recentemente, OUVI de Joãozinho Gago, a história de um taxista gago, lá das banda do Rio Grande do Sul, por onde ele andou.

Essa história foi motivo de muitas risadas, que demos, do lado de fora da igreja, numa dessas missas de sétimo dia que estamos indo para encontrar os amigos e relembrar histórias engraçadas, do morto, e também dos nossos contemporâneos, independentemente de que estejam vivos ou mortos.

A história do taxista gago de Pelotas, tentei escreve-la, mas não deu para transforma-la em algo socialmente legível, pois, além dos detalhes, pouco descritíveis aqui, ela só serve mesmo contada ao vivo e a cores, na representação original do autor e ator.

Quando encontrarem Joãozinho Gago, peçam para ele contar.

O GAGO DIRETOR DO DNER

Como eu queria contar uma história de gago, pedi auxilio a João Dantas, o nosso Joãozinho Gago, e OUVI dele esse caso, vivido por ele.

Joãozinho era gerente da Xerox do Brasil no RN, e, por falta de pagamento, cortou o crédito do DNER, suspendendo a assistência técnica.

Até que houvesse um problema decorrente da falta do serviço, tudo seguiu normalmente.

Porém, quando a máquina em uso pelo DNER, precisou do “toner”, (pó usado pra fazer a cópia), o pessoal do escritório pediu o fornecimento e foi informado que não ia ser concedido.

Segundo ele, não demorou para chegar um diretor, que queria, pessoalmente, falar com a Gerência, e estava bastante exaltado, pois tinha que imprimir a prestação de contas do mês.

A secretaria entrou na sala e informou: “o homem do DNER tá aí, está afobado, e, para completar, é muito gago”.

Joãozinho pede pra ela mandar o homem entrar e se prepara para a discussão, ainda por cima, levando em conta a gaguice dos dois.

Solicita que ele se sente, mas recebe a sua recursa.

Veja bem o clima.

Mesmo sem razão, o Diretor do DNER começa a sua complicada e exigente exposição: “eu, eu, eu…pre, preciso de To, to, to, tonnerrr, pra a Xe, xe, de, xerox…tenho que co, co, co, copiar a pré, prestação de co, contas e, e e, e exijo …”.

Cortando a exposição do diretor, na tentativa de facilitar, Joãozinho disse: Já, Já, en, entendi, Do, Dotor. Van, van, vamos conversar. Van, vamos ter calma, porque também sou, sou, sou ga, gago.

Foi água na fervura.

O diretor, agora “ca, calmo”, olhou pra Joãozinho e disse: a, a, a, assim, es, es, es, estan, tamos, em ca, casa.

Sentou, tomou um cafezinho e tudo foi resolvido, depois de acertado o pagamento.

OS FANHOS – AS HISTÓRIAS

A PAQUERA E RONIA

Eu VIVI uma dificuldade, ao encontrar e tentar paquerar, sem saber, uma menina fanha.

Foi num veraneio da Redinha.

Uma lourinha, muito bonitinha, faz o seu “debut”, numa das festas do Redinha Clube e eu me apressei em tira-la para dançar, “antes que outro aventureiro lançasse mão”.

Comecei o velho ritual da aproximação.

Como é seu nome? E ela responde “Rônia”. E eu: bonito o nome, bem diferente…

Continuando, lhe pergunto: você mora em Natal? E tenho como resposta um sonoro “hun, hun”, que significava “sim”.

Dando sequência, para saber onde estou botando os pés, indago pelo bairro onde ela mora. Aí, quando ela falou, eu constatei que aquela que eu tinha entendido, não era a verdadeira pronuncia do seu nome.

Ela respondeu: “noro no Ralegrin”.

Como escrevo tentando representar os sons e nem sempre consigo, vou traduzir. “Moro no Alecrim”.

Encerrada a “parte”, vou leva-la até o tamborete de onde lhe tirei para a dança, pois eram os “assentos” do Redinha Clube, e fui “baixar noutro terreiro”.

Teria dificuldades, num papo mais comprido.

FON-FON I

Essa eu também VIVI.

Tínhamos um amigo que falava fanho e era gente muito boa. Era fanho, mas não se incomodava com o apelido de Fon-Fon, que colocaram nele.

Na verdade, lhe conheci através de Carlos Limarujo, que era seu colega na Escola de Engenharia.

Com ele, houve uma ocorrência, que se constituiu numa séria coincidência e que poderia ter desandado para um caso grave.

Tinha um fanho que possuía uma oficina de conserto de equipamentos de som, junto à praça Augusto Severo, já quase esquina com a Dr. Barata.

Limarujo mandou consertar o som do Diretório da Faculdade, e, na data aprazada para o recebimento foi buscar, e eu, como estava de carona, fui junto.

Ocorre que, pela dificuldade de estacionamento, já naquela época, ele pediu a Fon-Fon, para descer e perguntar ao também fanho da oficina se o conserto já tinha sido realizado.

O fato é que o nosso Fon-Fon, em lá chegando, perguntou se o equipamento de Limarujo já estava pronto.

O Fon-Fon da oficina, olhando atravessado, pergunta se ele quer fazer gozação com a “fanheza” dele, e começam uma fanha discussão, sem que o nosso fanho conseguisse convencer o fanho da oficina que também era fanho.

A cada explicação que ele dava, a situação piorava mais.

Conversando dentro do carro, eu e Limarujo, não estávamos sabendo o que estava ocorrendo.

Porém, lá pras tantas, achando que o nosso emissário estava demorando muito, olhamos para a oficina e sentimos, à distância, o clima de beligerância em que tinha se transformado a simples busca da informação sobre a conclusão do serviço do som.

Corremos pra lá, chegando a tempo de evitar que o nosso Fon-Fon fosse atingido por um golpe de chave de fenda, dado pelo Fon-Fon da oficina.

FON-FON II

Essa, nós OUVÍAMOS.

Um funcionário do Governo do Estado, muito conhecido por nós, moleques da época, era o responsável pela guarda do Ginásio Silvio Pedrosa e tinha o apelido de FON-FON, decorrente de sua deficiência, já que era fanho.

Pai de um filho de poucos meses, como todo pai, procura ajudar nas tarefas educacionais, entre elas a de ensinar a falar.

Veja bem, logo “ensinar a falar”…

Ele, didaticamente, falava, repetidamente: meu filho, diga “FAFAI”, querendo se referir a “PAPAI”.

O menino foi aprendendo, como qualquer criança que inicia à falar, até que conseguiu balbuciar: “FAFAI”.

Então, Fon-Fon, embora feliz pelo “meio” sucesso obtido na iniciação do filho nas primeiras palavras, procurava “consertar” a fonética, e dizia, “pacientemente”, não meu filho, é pra você dizer “FAFAI”.

O menino, como bom aluno, repetia: “FAFAI”.

Fon-fon, chegando ao ponto máximo do estresse, por não conseguir o objetivo, já afobado, diz: filho da puta, quem diz “FAFAI”, sou eu. VOCÊ DIZ: “F – A – F – A – I”!!!!!!!!!!!!!!!!!

Precisou a mãe acudir o bichinho, para que ele não levasse umas tapas.

Antônio José Ferreira de MeloEconomista

 

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

 

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