COISAS QUE EU VI, OUVI E VIVI: COISAS DO POVO DE NATAL NO RIO DE JANEIRO – Antonio José Ferreira de Melo

 

COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: COISAS DO POVO DE NATAL NO RIO DE JANEIRO –

Muitos de Natal, em determinada época do final do século passado, em especial, na década de 70, fizeram história no Rio de Janeiro, que para lá se dirigiam, na maioria dos casos, em busca de emprego.

Existem histórias hilárias desse povo, na terra do samba.

Aqui vai um retalho.

MARKET E A QUOTA DA CERVEJA

O meu amigo Market, sempre foi conhecido como “mão de vaca”, “unha”, “amarrado”, quando se tratava de tirar dinheiro do bolso.

A turma de Natal, já enturmada com alguns amigos cariocas, costumava se encontrar nos finais de tarde, para beber Chopp ou cerveja, num daqueles bares de calçada.

Obviamente, cada um pagava a sua parte, e também, cada um, bebia de acordo com as suas possibilidades.

Embora fosse verdade que ninguém “nadava em dinheiro”, no entanto, a cordialidade se fazia presente, quando alguém estava “sem nenhum”.

Num desses finais de tarde, chega um dos “habitues”, que, provavelmente, por estar “liso”, diz que não vai beber.

Devido a insistência, aceita beber, só e somente só, um copo da cerveja que estava sendo servida, e, depois de “cinco mil reis” de papo, vai se levantando e se despedindo do grupo.

É quando Market diz: ei rapaz, uma cerveja custa “$X” e você bebeu um copo, o que significa dizer que tem que pagar “1/4 de $X”.

Isso, baseado no conhecimento dos bebedores, de que uma garrafa de cerveja dá para quatro copos.

Porém, o resultado da cobrança não foi o esperado.

Como no Rio de Janeiro, muitas vezes, o dia se inicia com chuva, embora depois faça um bruto sol e calor, como tinha ocorrido nesse dia, o convidado portava um guarda chuvas, que foi devidamente quebrado na cabeça de Market.

UMA FIGURA DE NATAL EM COPACABANA

Natalense não é como cearense, mas se encontra em tudo o que lugar.

Assim sendo, encontrar um Natalense andando de bicicleta, num final de tarde, em Copacabana, é difícil, mas não chega a parecer um exagero.

Eu, estando na “Cidade Maravilhosa”, e a caminho do hotel, vejo uma figura conhecida, andando de bicicleta.

Pedi ao motorista do taxi para se aproximar e gritei: “sai do meio papa jerimum!!!!

Recebo de volta: “vai se foder, SEU FDP”!!!!

Era Sandra Eloi, minha amiga de infância.

O SHOW NO SEIS E MEIA

Em outra oportunidade, estando lá, a serviço, e desenvolvendo uns trabalhos na Fundação Getúlio Vargas, aproveitei para me encontrar com alguns componentes da confraria Natalense.

Na oportunidade, estava havendo um show num teatro, cujo nome não me lembro, e o programa se chamava “seis e meia”, pelo fato de se iniciar nesse horário da tarde/noite.

Foi lá que combinamos nos rever, e se apresentava nesse dia, a nossa conterrânea Teresinha de Jesus.

Excelente show, reuniu uma “reca” de norte-rio-grandenses, alguns não vistos de há muito.

Terminado o espetáculo, um grupo boêmio resolve iniciar os trabalhos etílicos no baixo Leblon, me convida, e eu vou.

De carona, observo o pessoal combinando para comprar uns “baseados” num fornecedor conhecido.

Fumar maconha nunca fez parte dos meus vícios, e imaginei logo sendo preso e mais ainda, a repercussão na imprensa da nossa terrinha, uma vez que à época eu ocupava um cargo público.

Imaginei até a manchete da Tribuna do Norte: SECRETARIO DE PLANEJAMENTO DE NATAL, PRESO NO RIO DE JANEIRO, TRAFICANDO MACONHA.

Graças a Deus, o final da história não teve nada de trágico, e sim, de cômico.

Os nossos conterrâneos ficaram p. da vida, pois os baseados eram feitos com bosta de burro.

CARLOS VAGNER

Carlinhos Vagner foi um dos meus grandes amigos e companheiro de farra em Natal, nos tempos das serenatas.

Dono de uma bonita voz, além de ser um grande tocador de violão, resolveu ir tentar a vida artística no Rio de Janeiro, onde chegou a fazer algum sucesso, mas não conseguiu subir muito nos degraus da fama.

Porém, pela sua maneira alegre e comunicativa de viver, fez muitas amizades.

Chegando ao Rio, ligo para ele, para que nos encontrássemos, e, coincidentemente, na noite desse dia uns seus amigos iam tomar uns drinques na sua casa.

Me convidando para fazer parte do evento, combinamos o horário, mas como a minha reunião demorou mais do que o previsto, me atrasei, em relação a hora marcada.

Quando cheguei no prédio, a porta do edifício já estava fechada e não tinha como fazer contato, pois ainda não existia o celular.

Lá de baixo, escutava as gargalhadas e as cantorias.

Tentando identificar a origem do som, fui para a lateral do prédio, esperei fazer silêncio e gritei o nome de Carlinhos.

Deu sorte. Ele colocou a cabeça na janela e me vendo na calçada, gritou: ARRODEIE!!!!, que era para eu voltar para porta, que ele ia abrir.

Escutei uma sonora vaia. “Arrodeie” é coisa nossa.

Grande farra nesse dia. Estavam presentes: Wanderlei Cardoso, Clara Nunes e outros, que a memória me trai.

O CACHORRO DE CARLOS VAGNER

No dia seguinte à grande farra, fomos ao show de Elizeth Cardoso no Canecão e depois partimos para curtir a noite de Copacabana.

Na madrugada, Carlinhos não me deixou ir para o hotel e fui dormir no sofá do apartamento dele.

Veja a situação em que me meti.

Acordo, dia já claro, com vontade de ir ao banheiro, depois dos chopes da noite.

Eis que, ao tentar me levantar, vi que, apenas a mesa de centro da sala, me separava de um grande cachorro pastor alemão.

Quase mijo ali mesmo, tamanho foi o susto.

E o pior é que a vontade aumentava e eu não via perspectiva de solução, até que a filha da mulher de Carlinhos surge, e eu, sem outra alternativa, lhe chamei para me acudir.

Ela, em trajes sumários, cai na risada, e dizendo que o cachorro não morde, vem buscar… O cachorro.

EGGES CUM LAITE

Não lembro a figura, mas acho que essa eu OUVI de Gotardo Emerenciano, sobre um determinado “emergente” na sociedade carioca.

Se não foi Gotardo, fica sendo, e eu sei que ele não vai me processar pelo uso da imagem.

Com, uma fome danada, e com pouco dinheiro, o emergente se encontra com um Natalense mais antigo no pedaço, e pergunta ao experiente conterrâneo: amigo como se come aqui, com pouco dinheiro? Ele fala: ali no restaurante, onde servem “Egges cum laite”.

O novato se entusiasma com a ideia de comer um prato tão sofisticado e, ainda mais, barato.

Mesmo desconfiando de tanta bondade, vai acompanhando o conterrâneo, até o estabelecimento gastronômico.

Porém, ao invés de restaurante, o amigo para num boteco de quinta categoria, e então, ele sofre a grande decepção.

“Eggs cum laite”, era apenas, ovos com leite.

Coisas do povo de Natal.

 

Antônio José Ferreira de Melo – Economista, antoniojfm@gmail.com

 

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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