CARNAVAL ONTEM E HOJE –

Não sou um saudosista radical daqueles que exaltam as vantagens do tempo passado e denigrem a modernidade. Pelo contrário, curto os avanços da tecnologia em prol do bem-estar, segurança e conforto do indivíduo, embora lamente o isolamento e a introspecção de nossa juventude ante a rapidez do progresso e a
consequente mudança de hábitos e costumes da atualidade.

O exemplo mais deplorável dessa transformação comportamental está na dependência da internet, que está restringindo de forma rápida e definitiva a comunicação presencial e salutar de antigamente. Isso mesmo, o telefone celular se tornou o universo particular de cada um de nós e, principalmente, da mocidade.
Voltemos ao tema central da coluna: “Carnaval ontem e hoje!”

Brinquei carnavais somente em Natal, quando o tríduo momesco consistia, na verdade, em quatro dias de folia. Isso mesmo! Começávamos a fuzarca no sábado ao meio-dia e avançávamos até o raiar da manhã da Quarta-feira de Cinzas. Na época, grupos de amigos formavam blocos carnavalescos compostos, em média, de 20 a 30
participantes.

Sob a tração de tratores ou caminhões montávamos alegorias para acomodar o bloco e uma pequena banda musical com cinco membros, e partíamos para os “assaltos” a casas de pessoas amigas. Não faltavam convites para acolher a turma e a movimentação acontecia até o cair da noite, quando nos integrávamos ao corso da Av. Deodoro da Fonseca. Nele ficávamos até a movimentação popular se esvair.

Bebia-se bastante, mas ninguém ouvia falar em drogas viciantes – os mais afoitos enfiavam as ventas em lenços embebidos do éter etílico dos lança- perfumes Rodouro ou Colombina. O final da jornada acontecia nos bailes
carnavalescos dos clubes sociais da capital, dentre os mais badalados na época estavam o Aero Club, América, ABC e Rampa. As orquestras tocavam sem intervalos madrugadas adentro.

Dos carnavais de ontem restaram a lembrança do ritmo alucinante das marchinhas com suas letras bobas e despretensiosas, que atravessaram décadas e ainda mexem com o emocional das pessoas sejam elas saudosistas ou não. São tão marcantes tais músicas, que nos bastam ouvir os primeiros acordes de algumas delas para vivenciarmos, em pensamentos, momentos marcantes de velhos carnavais. Eis algumas marchinhas que se eternizaram: “Cidade Maravilhosa – 1934”, “Cachaça – 1953 – Você pensa que cachaça é água/Cachaça não é água não…”, “Allah Lá Ô – 1941”, “Jardineira – 1938”, “Quem sabe, sabe – 1956”, “Mamãe eu Quero – 1937 – Mamãe eu quero/Mamãe eu quero/Mamãe eu quero mamar…”, “Marcha da Cueca – 1972 – Eu mato/Eu mato/Quem roubou minha cueca pra fazer pano de prato…” e “Máscara Negra – 1967”.

Outras, certamente, não se encaixariam nas programações de hoje para não afetar as comunidades LGBTQIAP+ e de outros grupos afins, como estes sucessos carnavalescos de 1981, 1963 e 1929, respectivamente: “Maria Sapatão –

Maria Sapatão/De dia é Maria/De noite é João…”, “Cabeleira do Zezé – Olhe a cabeleira do Zezé/Será que ele é/Será que ele é?…” ou “Mulata – O teu cabelo não nega Mulata/Porque és mulata na cor…”

Vivi essa época intensamente e não guardo nenhum arrependimento nem frustração por algo que fiz ou deixei de fazer. Apenas vivenciei aqueles momentos, na época adequada. Como não sou feito de ferro, eu me dou o direito de ouvir neste Carnaval, Dalva de Oliveira, cantando a sua nostalgia em “Bandeira Branca – 1970”: “Bandeira branca, amor/Não posso mais/Pela saudade que me invade/Eu peço paz…”

 

 

 

 

José Narcelio Marques Sousa Engenheiro civil

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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