CARÍSSIMOS COLEGAS… – José Narcelio Marques Sousa

CARÍSSIMOS COLEGAS… –

No final do ano da graça de 1969, Carlos Eugênio F. de Souza, orador da 6ª turma de engenheiros civis da UFRN, iniciava o discurso de conclusão de curso de 24 colegas esperançosos ante as perspectivas da profissão que abraçaram e na qual depositaram todas as fichas do jogo da vida apostando em sonhos de sucesso e de realizações pessoais, com esta saudação: Caríssimos colegas…

Nenhum deles demonstrava qualquer dúvida ou desencanto pela trajetória iniciada em 1965. Naquela noite mágica não cabia espaço para divagações do tipo. Reinava ali, tão somente, a felicidade decorrente do epílogo do curso. O futuro? Ah, seria uma barbada, em se tratando de doutores engenheiros portadores de anéis com pedras de safiras azuis adornando os dedos.

Ei-los reunidos, em 2019, 50 anos depois, festejando as bodas de ouro da turma que elegeu como patrono o engenheiro civil José Nilson de Sá. Dos diplomados, quatro deles não compareceram ao encontro porque foram ceifados da vida e do nosso convívio, prematuramente. Os saudosos Remarque, Paulo, Odemar e Jovelino.

Como não poderia deixar de ser, o reencontro foi efusivo, em parte, pela excepcionalidade da data. A alegria estampada no rosto de cada colega presente à comemoração era decorrência da ventura de rever e abraçar a todos.

Quem de nós, naquele pretérito ano de 1969, imaginaria o desfecho de agora. Ninguém possuía bola de cristal para avaliar como estaria a saúde de cada um, qual o nível de sucesso obtido ou quais as dificuldades enfrentadas por todos, até então. Naquele exato ano, nada disso, sequer se supunha supor.

Depois das trocas de figurinhas de praxe, eis que surgem os relatos de vida daqueles idosos engenheiros impressionando a alguns ou extraindo suspiros de admiração e saudável inveja noutros – se é que podemos classificar a inveja de salutar.

Olhando nos olhos de cada colega, com a perspicácia aguçada pelo tempo, víamos, que por detrás da máscara de felicidade que exibiam, estava oculta outra faceta. Essa, uma estampa genuína do sentimento emanado do fundo do olhar.

Os olhos são péssimos dissimuladores da verdade. Ao ouvirmos um “Está tudo bem, se melhorar estraga!…”, quase sempre não exprime a realidade dos fatos na existência do indivíduo. Porém, naquela noite, ninguém queria nem precisava estragar a ilusão das mil maravilhas oferecidas no discurso de todos.

Numa típica noite de celebrações, em torno da mesa da amizade, era normal exaltarem as realizações alcançadas e os sucessos obtidos ao longo das últimas cinco décadas; em contrapartida, também foi natural omitirem as porradas e baques, sofrimentos e dores produzidas e acumuladas no mesmo período.

A ininterrupta trajetória do tempo nos familiarizou com a complexidade da vida, suas agruras e decepções. Enquanto tentávamos esconder nossos fracassos da curiosidade dos colegas de curso, a indiscrição do nosso olhar mostrava de forma clara e incisiva a crua realidade subtraída.

A realidade, caríssimos colegas, nem sempre é como sonhamos. As desilusões nos perseguem e as decepções arrebentam nossos corações. Nos recusemos a aceitar que a verdade de nossas vidas não seja repleta de plena felicidade. Quanto a morte? Aconselho dar ouvidos a Confúcio, que dizia: Para que nos preocuparmos com a morte, se a vida tem tantos problemas que temos de resolver primeiro.

Saravá a todos vocês, colegas-amigos-irmãos!

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro e Escritor

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