BONECOS, MORANGOS, REBORNS E CHUPETAS: UMA CRISE IDENTITÁRIA DA HUMANIDADE –
“A identidade tornou-se uma tarefa interminável: estamos condenados a buscá-la, mas nunca a possuí-la de forma plena.” (Bauman, Sociólogo e Filósofo polonês da pós-modernidade). Nas ruas, vitrines e nas redes sociais, há adultos acalentando bebês que não respiram, colecionando bonecos em forma de chaveiro, como se guarda relíquias, ou amarrando-os às bolsas, como o que há de mais valioso. Saboreando morangos que parecem pintados à mão e com chupetas penduradas no pescoço, ou na boca, de quem já carrega número de CPF, responsabilidades sociais e boletos pessoais. Um mundo infantil deixou de ser lembrança e passou a ser abrigo. Está é, visivelmente, a estética infantil invadindo o mundo adulto como forma de anestesia. “A felicidade é o cumprimento súbito de um desejo reprimido, tornado possível pela fantasia.” (Freud, neurologista austríaco, criador da psicanálise).
De acordo com a Psicanálise, o adulto infantil é uma maneira de regressão como defesa. Para Freud, regressão é um mecanismo no qual a pessoa retorna a estágios anteriores, revivendo comportamentos, desejos ou modos de pensar da infância. Não é apenas um gosto estético ou cultural, mas, muitas vezes, um ato inconsciente de defesa contra a ansiedade, a solidão ou a sensação de impotência diante de responsabilidades adultas. Essa volta não é literal no tempo, mas simbólica e psíquica: o indivíduo procura refúgio em experiências passadas que eram mais seguras e menos exigentes para lidar a vida contemporânea.
Essa realidade também é uma forma de consumo como espelho identitário. Na lógica que Guy Debord chamou de “sociedade do espetáculo”, o que conta não é viver, mas exibir. Todos os objetos supracitados têm sido mostrados como experiências e encenações: A vida deixa de ser algo íntimo para se tornar um palco onde o valor das coisas está na capacidade de ser fotografada (nãonecessariamente consumida), curtida e replicada. Assim escreveu o autor: “Tudo que era diretamente vivido se afastou em uma representação.”. E nesse afastamento trocamos a profundidade do ser pela superfície da imagem em poucas dimensões.
“Toda a infelicidade dos homens vem de uma única coisa: não saber ficar quieto em seu quarto.” (Pascal, filósofo francês).
A imagem vale mais do que a experiência; o clique, mais do que a memória. Mas, ao final, o que encontramos? O espelho continua nos devolvendo um rosto que pergunta, sem filtros. Parece vir também de não saber ficar sozinho dentro de si. “ A fama é vazia e a glória, efêmera” (Marco Aurélio, Imperador Romano do segundo século d.C, filósofo estoico)
E nessa feira de vaidades e regressões, o homem infantil emerge — não o da inocência, mas o da recusa. Uma criança por covardia, não por pureza. O estoico diria: largue o boneco, coma o morango de verdade (mesmo que feio) e encare a vida como ela é — imperfeita, urgente e não tão bonita e organizada como um feed editado. Vive-se uma crise do “eu” e o apego ao banal: O homem moderno prefere vínculos com objetos do que com pessoas. Estímulos fofos e suaves como antídoto para a violência do real. A procura que nunca termina: no excesso de bonecos, morangos e chupetas, talvez o que se busca é o que não se encontra — a si mesmo.
Que tal enfrentar o vazio sem preenchê-lo com plástico e açúcar?
Tatyanny Souza do Nascimento – Psicanalista e escritora
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