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Balança comercial bate novo recorde

Os analistas costumam em seus relatórios sobre a economia brasileira, buscar maneiras de explicar alguns fenômenos econômicos, evitando jargões de mercado, para melhor compreensão das pessoas. Assim surgiram os termos “efeito Miami” e “efeito Disney”,  que retratou o  boom de compras no exterior e de importados no Brasil no final da década passada, causado pela valorização do real. Mas desde que a crise tomou força e o dólar encostou em R$ 4, em 2015, o fenômeno arrefeceu e estimulou a busca por produtos nacionais, que ficaram mais baratos. Essa substituição, somada à retomada das exportações e à queda na demanda interna, vem resultando em superávits recordes na balança comercial e contribuindo para reduzir o rombo externo do País. Em um ano de recessão, com inflação elevada e uma meta de déficit fiscal de R$ 170,5 bilhões, esse superávit comercial é um dos poucos indicadores positivos. Mas a queda recente do dólar, porém, sinaliza uma inversão de tendência e acende o alerta sobre o processo de reconquista de novos mercados no exterior, retomado com mais fôlego recentemente por empresas brasileiras.

O saldo de US$ 36,2 bilhões entre janeiro e setembro é o maior registrado desde o início da série histórica e mais do que o triplo de igual período do ano passado (US$ 10,2 bilhões). O desempenho comercial é o principal fator por trás do chamado ajuste externo – a redução no rombo nas transações do País com o mundo. No acumulado dos últimos 12 meses, o resultado da conta corrente está negativo em US$ 23 bilhões, menos de um quarto do registrado em 2014, no pico, de US$ 104 bilhões. O déficit menor afasta frentes de pressão no câmbio, que poderiam agravar a crise econômica, como aconteceu nos períodos de dificuldade enfrentados pelo Brasil no passado. Se, por um lado, reduzem a fragilidade externa, os dados da balança comercial revelam também uma realidade menos animadora. Os recordes vêm sendo puxados mais pelo recuo das importações do que pela melhora das exportações, num claro sintoma da grave recessão econômica. Até setembro, as vendas brasileiras ao exterior somaram US$ 139 bilhões, queda de 3,5% em relação a igual período do ano passado, enquanto as compras acumulam queda de 23%, em US$ 103,2 bilhões. Isso apesar de um incremento de 9,4% nos volumes exportados e a retração de 5,7% nos importados.

Essa situação atual demonstra o impacto da recessão na demanda por importados e a persistente dificuldade de competir no exterior, pois se o câmbio permanecer nesse nível, perto de R$ 3, o ano de 2017 poderá ser muito difícil. Em julho, a Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB) projetava um superávit de US$ 47 bilhões na balança comercial neste ano. Hoje, prevê US$ 44 bilhões. Após uma valorização de cerca de 20% do real no ano, surgem sinais de que a tendência de substituição de importados começa a se reverter.

Outubro deve ser o primeiro mês com novos registros de empresas importadoras depois de seguidos meses de queda. A onda de crescimento de exportadores já foi interrompida. Nessa tendência e com a retomada da demanda interna, a previsão é que o saldo comercial recue para US$ 35 bilhões em 2017. Para a entidade, o dólar ideal para garantir as exportações com os custos atuais seria de R$ 3,80. A variação cambial é sentida com muito mais velocidade nas importações. Cálculos do Itaú Unibanco mostram que a depreciação demora um ano para impulsionar as exportações de manufaturados.

Por isso, a maior parte dos produtos não se beneficiou da alta do dólar no início do ano, quando atingiu o pico de R$ 4,15. Dos 67 itens de maior volume exportado, apenas 27 tiveram crescimento no ano, segundo os dados oficiais. Há melhoras perceptíveis em setores importantes, como aviões (17,7%), automóveis (36%), celulose (1%) e calçados (1%). Ainda assim, não foi suficiente para alavancar as exportações de manufaturados, que devem terminar no menor nível desde 2006. Na análise por fator agregado, o único avanço (20%) foi dos semimanufaturados, grupo que reúne produtos como borracha sintética e celulose. As compras dos dois principais destinos de manufaturados ainda patinam. Os envios para a Argentina cresceram 1,32% e aos Estados Unidos, caíram 6,42% até setembro. O efeito mais longo da variação cambial nas exportações explica porque a Agrale, montadora de tratores e ônibus, espera um leve aumento da participação das vendas externas no faturamento em 2017, para 15%, ante os 14% previstos para este ano. Mas lamenta que o período de desvalorização do dólar tenha sido curto demais.

Mantido o patamar atual do dólar, a previsão é de que a fatia do comércio exterior perca espaço nas vendas a partir de 2018. Mais do que níveis ideais de dólar, o que os exportadores cobram do governo é estabilidade e um conjunto de reformas que possa minimizar a dependência do câmbio. Só assim acreditam ser possível reduzir a diferença entre o posto do Brasil como oitava economia do mundo e a posição de 25º exportador global.

Ponto de Vista

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