A chocante prática do estupro –

Sob as diferentes formas que se apresente, o estupro é uma prática ignóbil e irracional. A partir do instante em que não existe consensualidade no sexo, a violação libidinosa do corpo com penetração é considerada crime sexual. Ainda que o estupro ocorra em ambos os sexos, a mulher é a vítima historicamente mais atingida.

Embora nos choquemos com essa agressão ao corpo humano, o estupro ainda é aceito com brandura em muitas sociedades, mesmo sem estar oficializado na legislação do país.

É verdade que nos repugna o estupro isolado de uma mulher. Agora, imaginarmos uma vítima indefesa ser atacada pela libido insana de machos liberando seus mais primitivos e cruéis instintos, é inconcebível para o raciocínio do indivíduo civilizado. Nem no mundo animal tal prática é assimilada como corriqueira.

Li, não sei onde, que um em seis homens é um potencial estuprador. Desconheço em que se baseou tal estudo, mas que tal constatação preocupa, ah, incomoda, sim senhor! Quantos milhões de estupradores andam à solta aguardando a oportunidade de dar o bote e mostrar a face obscura de sua tara? Lobos travestidos de cordeiros. Nem pensar em admitir nossos vizinhos, amigos ou colegas como potenciais estupradores enrustidos. Dessa forma eu também seria um dado nessa estatística escabrosa.

Não é por aí o raciocínio. Por mais que a mulher insinue sensualidade ou provoque o sexo oposto com escassez de pudor, nada justifica a atitude bestial do estupro. Mesmo estando ela ciente de que, dos cinco sentidos, a visão é o mais estimulado no homem, pelas artimanhas femininas no processo de sedução ou de tentação.

Lembro-me bem, na década de 60, da comoção que causou em Natal a curra de uma jovem praticada por um grupo de adolescentes. Na época, não me dei conta da gravidade do procedimento, tampouco entendi a revolta exagerada de minha mãe. Adulto, eu tive consciência da brutalidade daquele ato, que se tornaria no Brasil uma prática corriqueira vista com leniência e até descaso pelas autoridades.

É lamentável que estupradores permaneçam impunes por adesivar um estigma depreciativo na mulher violada que, por sua vez, prefere silenciar a enfrentar a vergonha de se ver autointitulada vítima de um crime sexual.

O pior é que nem sempre o autor do estupro, físico ou psicológico, é um estranho. Ele pode ser o marido, o namorado, um parente ou um amigo. As histórias contidas e contadas nos arquivos das páginas policiais são inacreditáveis, porquanto estarrecedoras. Sempre esbarrando no receio e na vergonha da mulher violada de, ao escancarar o crime perante a sociedade, se tornar vítima da repercussão negativa que a estigmatizará pela vida afora.

Se vigorasse na Justiça a Lei de Talião do “olho por olho, dente por dente”, e a reciprocidade pelo crime consistisse na emasculação do estuprador, tais agressões minguariam, por mais intensa que fosse a libido, diante do risco do agressor perder sua personalidade sexual.

A crueldade do estupro feminino está de fato de subtrair à mulher o direito de comandar as ações e os desejos do próprio corpo, sendo tratada como um objeto abjeto. Concordo plenamente com a análise a que chegou a revista Veja, na reportagem sobre o estupro: “para combater a chamada ‘cultura do estupro’, é preciso antes derrotar a ‘cultura do silêncio’”. Mesmo que a duras custas – acrescento.

José Narcelio Marques Sousa – É engenheiro civil – jnsousa29@gmail.com

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