NUM RESTAURANTE EM LONDRES –
Aconteceu há exatos trinta e seis anos. Sobrevivíamos na Inglaterra eu, minha mulher e três filhos ,com os minguados cruzeiros da UFRN, convertidos em Libras Esterlinas. Do bolso lembro bem, da noite também: chovia a cântaros, o frio gelava os ossos. Do local nem tanto, mas recordo uma lareira em brasa, uma mesa retangular, uma toalha alvíssima. Ao redor, um silêncio sepulcral, pois – engraçado – inglês não fala em restaurante, só nos pubs é que a verborreia desenfreada predomina.
Ao nosso lado um garçom de meia idade, educado, meio careca, empertigado, impassível, imune às paixões humanas. Com a garrafa inclinada entre as mãos, facilitando a visualização do rótulo, sugeria austero:-“ This one I strongly recommend. Expensive, Sir, but perfect ! Inexperiente, escolado até então em inúmeros goles de cachaça “Rainha”, de Bananeiras, minha cara de idiota indecisão, possivelmente o incitou: -“ I’m afraid you should try it. By all means, Sir”.
Sua aparente atitude de superioridade anglo-saxã provocou o meu revide, o que fiz a seguir, sem medir consequências. Um cheirinho, de amador, no bordo do cálice e um ligeiro gole. A bem da verdade, a coisa começou muito acima da garganta: vermelho escuro, cheiroso, encorpado, musculoso, como diria o sr. Gilvan Passos. De lombra induzida rápida, lógico, pois começávamos a batalha de estômago vazio.
Sorvi lentamente, refreando uma avidez falsamente instintiva. Suave e sedosa, a fera tocou meus lábios, subindo lentamente ao céu da boca. Nele, a felicidade filtrada em doçura juntou-se a um desbragado estalar de língua, seguido de um incompreensível e sonoro “Eita, porra!”, imediatamente equilibrado por um quase imperceptível e educado suspiro de Margot. Acompanhando um carneiro da Nova Zelândia no molho de agrião, detonamos a primeira garrafa. A segunda deveu-se mais àquela sensação enganosa de poder e à ilusão de riqueza que o vinho dá: o prazer aberto ao infinito.
O deleite da abundância esbanjada e a desordem financeira subseqüente nos fizeram retornar à original condição de “working class”. Por quase um ano só nos permitimos degustar “plonk” a, mais ou menos, uma libra esterlina, a garrafa de três litros. Foi uma única vez (aliás, duas, se levadas em consideração as garrafas derrubadas), mas valeu.
Continuo alimentando o ritual de sabedoria e espera de uma satisfação semelhante que, talvez, não vai mais se repetir. Comparados a ele, os demais até hoje , induzem um prazer menor. Parecem cada vez mais anódinos. Deixam apenas, a impressão física de um frouxo amolecimento das panturrilhas: Château Rayas, cem por cento uva Grenache, envelhecido. Talvez o melhor e mais requintado Châteauneuf-du-Pape do sul de Rhône.
Contei para Elmano, hoje um renomado esculápio, liso à época, que parece ter gostado do papo, pois alguns anos após me disse, lá em Ari: “Comprei o Château Rayas, degustei e concordo, Zedelfino “. Nem me convidou para repetir o feito . De graça, dessa vez. FDP ingrato!
José Delfino – Médico, poeta e músico
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