A CHAMA OLÍMPICA –
Do caos nasceram as estrelas. As estrelas são fogo e iluminação. Simbolicamente, o fogo é vida, espírito, paixão, porque ilumina. Em todos os recantos do mundo é considerado sagrado porque purifica, renova, regenera. Os devotos acreditam que o fogo tem a força de convocar as forças celestes e da natureza.
No Brasil, repete-se como ritual de passagem, a Chama Olímpica é conduzida por centenas de cidades brasileiras. Esperamos que ela desça em transcendência, como as línguas de fogo pousaram sobre as cabeças dos discípulos de Jesus, no povo brasileiro, neste momento de caos nacional.
Estive em Olímpia, na Grécia, de onde partiu a Chama. Emoção, epifania, quase êxtase. Lá relembrei leituras antigas, vendo o campo onde se desenvolviam, de quatro em quatro anos, os Jogos Olímpicos das cidades gregas em paz, elas que praticavam guerra como se fosse esporte. Olímpia tem a riqueza artística do mundo helênico. No museu arqueológico, os bronzes geniais, os próprios instrumentos de trabalho de Fídias, a taça em que ele bebia vinho e o Hermes de Praxiteles.
Os jogos iniciados em 776 a. C. funcionaram em paz e alegria até o final do século V d.C. quando foi proibido pelo imperador romano Teodósio I. Aos olhos do imperador cristão a nudez dos atletas e o culto pagão a Zeus e outras divindades seriam obscenos. O próprio fogo, por crença mitológica teria sido roubado do Olimpo por Prometeu para dar aos homens, testemunhava a idolatria.
Os jogos ocorriam por sete dias, com os atletas vestidos apenas de óleos perfumados jurando no primeiro dia a lealdade e respeito às regras e os juízes a equidade nos julgamentos. Os competidores seriam julgados por sua agilidade, força e habilidade. Vitoriosos, além da coroa de folhas, eram honrados com nome escrito, muitas vezes estátuas e sempre direito à comida pelo resto da vida. Certamente, aos olhos de hoje, as Olimpíadas mereceram reparo: as mulheres e os escravos não podiam participar nem mesmo assistir. Em compensação, havia palestras, aulas de filosofia, história, geometria, artes. E mais, canto, dança, música, teatro, poesia.
Que a chama acenda o fogo da esperança num momento em que foi instalado o caos político nacional, dos desastres ecológicos como Mariana, à incompetência administrativa e econômica, corrupção e violência, ameaça epidêmica e de terrorismo. Aqueçam os nossos corações e se restabeleça paz e harmonia com o futuro desejado e merecido do nosso País.
Diogenes da Cunha Lima – Presidente da Academia de Letras do RN
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