A FALTA QUE SINTO –

“Uma jornada chamada Espera”

Já não é raro saber notícias de alguém que foi fisgado pelo Coronavírus e, mais ainda, que trata-se de uma pessoa nossa. Um ente querido, um amigo, uma companheira de trabalho, um familiar. De repente, um sintoma, um teste, uma ida ao médico, uma internação… Uma incerteza.

Seguem-se os dias, os boletins médicos, as angústias, as pequenas melhoras, entuba não entuba, está reagindo de forma lenta ou alvissareira. De fora, resta-nos orar, comunicar a evolução do quadro clínico aos outros familiares e aos amigos que diariamente indagam sobre o “como está?”. Enfim, ESPERAR.

Pois é. Assim foi com a minha amiga jornalista Daniele Lisboa com relação a sua mamãe querida Catarina Cardoso Aires Lisboa.

Reproduzo aqui um dos momentos de reflexões onde Daniele expõe seus instantes, que foi do da ‘esperança’ ao do ‘descanse em paz’ pelos quais passou.

Escreveu assim:

“Quando minha mãe foi para a UTI com Covid-19, iniciei uma jornada, chamada Espera. Esperei, orei, vigiei. Nem o tempo acelera a espera. Ele só esquece algo que ainda não sabe. A aceitei estar e ser, como tudo que está sendo o que é.

A Espera me desnudou a beleza do sopro que é a vida, sem a ceifa do tempo.

Fui ao hospital receber a notícia de que havia terminado a última página do seu livro da vida, e descobri: a Espera era Esperança.

Do início ao fim, esperancei, amei, compreendi, respeitei, até onde não pude.

A Esperança tornou-se Luto. Uma dor murchando meu corpo. A alma, rasgada, falta-lhe um pedaço.

A artista partiu, ficou a obra. A cristã partiu, ficou a fé. Da amiga, a amizade. A auditora, deixou trabalho exemplar. Da plantadeira, um jardim encantador.

Era persistente, resistente, determinada, enérgica, dona uma força, dum amor duro feito flor selvagem brotando onde não se espera.

Por isso, achei que iria vencer o Covid-19. Mal sabia: chegara sua hora. Minha mãe, avó de meu filho, partiu. E eu? Não consigo ter palavras para o que fica. Só sinto. Sinto muito.

As mensagens de conforto e lágrimas de saudade são luzes para quem é lembrado com carinho, e para quem continua no caminho.

Sou grata a cada um que tem trazido o bálsamo do consolo – eis onde sinto a luz divina, que a sublimou, como pedi.

Peço mais: descanse em paz, mãe.”

É desse modo que a saudade floresce na dor: a saudade do abraço que nos faz esquecer do mundo, que nos restabelece a esperança, que nos aproxima de Deus.

Sim. A vida segue. Mas não é a mesma vida. O cenário muda. A lembrança aflora. O amor se transforma. Não fomos preparados para um apartado definitivo. O amanhã será outro, pois o abraço, a palavra animadora e acolhedora de quem amamos será sentida de forma diferente. “É a falta que sinto”. Ainda bem que temos o consolo e a promessa de Deus da vida eterna, não aqui, mas no Seu jardim divino.

Catarina já está florindo no jardim do Pai.

E você, Daniele Lisboa, siga firme!

 

 

 

 

 

Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil, escritor e Membro da Academia Macaibense de Letras (josuacosta@uol.com.br)

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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