VIRAMUNDO 60 –

Maria Paula veio de Alexandria morar em Natal na casa da tia Salete, costureira, moradora das Quintas.

Não gostou do lugar. Uma casa humilde, em rua de areal onde nem carro passava.

A vizinhança ouvia rádio que tocava músicas altas e na pracinha tinha um alto falante que oferecia “páginas musicais” aos namorados.

Com 22 anos tinha um corpo ainda em formação. Branca, de olhos castanhos claros, cabelos ondulados, seios pequenos e pernas ligeiramente grossas.

Em pouco tempo foi estudar no Atheneu, a noite e conheceu Evilasio, um moreno esbelto, forte, bonito que andava numa lambreta vermelha.

Paulinha adorou conhecê-lo e se exibia pras amigas que morriam de inveja.

Resolveram morar juntos. Evilasio trabalhava no Banco e Paulinha não conseguia emprego.

Uma amiga sugeriu que fossem conhecer um cabaré na Ribeira, o Arpege. Ela encantou-se e ficou vendo o movimento de homens e Mulher e ávidos por sexo e bebida.

– Como é o trabalho aqui?

– Simples. Você fica disponível e quando alguém se interessar voce escolhe uma mesa, pede rum com Coca-Cola e decidem o que que querem fazer.

Dadas essas explicações Paulinha gostou da ideia.

– Sim e aí quanto eu ganho?

– 70% do que ganhar. O rapaz paga a bebida, o quarto e a você.

O expediente é das 5 da tarde a meia noite, de 5a a domingo.

O Arpege tinha boa reputação, assistência médica e esquema de segurança privada.

A disciplina era severa com acompanhamento dentro e fora da casa.

Dona Roberta, gerente das meninas, em reunião, tinha sempre conselhos de comportamento.

Evitar exibições de afetos exagerados no salão e preservar a discrição.

Mulher de cabaré não pode se apaixonar, nem amar nem ser amada.

Nada de compromisso com ninguém nem ter ciúme de ninguém nem de nada.

Eram as ordens principais.

Imediatamente Paulinha separou-se de Evilasio e saiu do Atheneu.

Era mais negócio o trabalho no Arpege. Morava lá. Dormia de dia e “trabalhava” de noite.

Ganhava bem. Tinha dinheiro todo dia.

Uma noite, ao sair do quarto, viu, de costas numa mesa com uma mulher; Evilasio, seu ex-companheiro.

– Oi amor, você por aqui.

– Nossa e você virou prostituta?

– Toda mulher é prostituta, depende da companhia.

Ele não entendeu muito bem e saiu chateado do lugar.

Paulinha ficava em média com quatro homens por noite o que lhe rendia uma boa grana e tinha uma preocupacao: não podia se apaixonar, amar nem ser amada por ninguém.

Aprendeu a fingir e estava sempre bem com seu sorriso enigmático que disfarçava com um bom cigarro e rum com Coca-Cola.

A vida passando lentamente e a tia Salete quando soube que sua sobrinha vivia de “vida facil” ficou decepcionada e tentou levá-la de volta pra casa mas Paulinha não aceito. Ficaram inimigas.

Paulinha alugou casa com uma amiga e foram trabalhar na “casa dos amores” em Ponta Negra.

– Paulinha você tem namorado?

– Não.

– Não gosta?

– Tenho toda noite um diferente pra que eu quero mais? Aprendi que se apaixonar, amar e ser amada é
coisa de gente burra.

– Que é isso?

– Não quero compromisso com ninguém. Aprendi isso no Arpege.

Encontrei Paulinha no Asilo Juvino Barreto, num dos apartamentos de frente pra Praça e perguntei:

– Em quem você se inspirou na sua vida solitária?

– Em Rita Loura.

 

 

 

 

Jaécio Carlos –  Produtor e apresentador dos programas Café da Tarde e Tribuna Livre, para Youtube.

As opiniões emitidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

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