VIRAMUNDO 53 –

Maria Doralice, era de Serrinha, cidadezinha do interior do Rio Grande do Norte e adorava ouvir Jane e Herondir cantando Nao se vá. Aonde estivesse e ouvisse essa música ela parava e chorava. Não resistia.

– Dorinha por que você chora quando escuta essa música?

– Me lembro de mamãe quando saiu de casa com um caminhoneiro.Papai chorava de saudade e isso me deixava triste.

Doralice cresceu e veio estudar em Natal morando na casa de tia Jardelina.

– Vou botar você na Escola Doméstica. Vai aprender a ser dona de casa pra casar com sargento da Aeronáutica ou funcionário do Banco do Brasil.

– Num quero não. Ouvi dizer que aquela escola só tem gente besta. É muita frescura.

– Mas você vai. Foi sua mãe que pediu. Era o sonho dela.

– Tá bom, eu vou.Dorinha se entrou logo com Maria Betânia e Socorrinho, duas galegas afoguiadas e doidas por homem mais velho.

Betânia namorava com seu Jesuíno, comerciante do Alecrim, viúvo, pai de dois filhos e ia buscá-la na escola toda tarde.

As três ficavam o fim de semana, juntas. Pra onde uma ia as outras duas iam juntas.

As colegas da escola chamava Doralice de Maria vai com as outras e ela se irritava.

O filho Dr seu Jesuíno, Abel era da Aeronáutica e isso fez dele o seu preferido.

Quando Jane e Herondir vieram cantar no América Abel comprou uma mesa e foram juntos com Betânia e Jesuíno.

Socorrinho ficou fora das amigas pela primeira vez.

Quando começaram a cantar Não se vá, Doralice saiu chorando e foi abraçar os cantores.

– Dorinha o que aconteceu?

– Saudade de papai. Minha mãe saiu de casa com um caminhoneiro e só dez anos depois apareceu. Ela queria estudar na Escola Doméstica e sair de Serrinha mas vovó não tinha dinheiro e ela ficou em Serrinha mesmo.

Naquela época pertinho da igreja de Nossa Senhora do Desterro, tinha um alto falante que tocava músicas atendendo pedido de pessoas que iam a praça.

No dia que mamãe saiu de casa dizendo que ia rezar, o alto falante anunciava:

– Atenção ouvintes, seu João da esquina oferece a dona Severina, sua amada esposa, está linda página musical: Não se vá, com Jane e Herondir.

– Mamãe nunca mais voltou. Levou apenas pasta de dentes, escova e um pente.

O show terminou e eles foram jantar no restaurante Sal e Brasa.

Lá encontraram dona Deolinda primeira professora de Dorinha em Serrinha.

– Menina você está bem? Casou?

– Ainda não. Este é Abel, meu namorado.

– Bonito rapaz. Cuide bem dela.

E assim feito. Doralice e Abel casaram em Serrinha, na Igreja de Nossa Senhora do Desterro e contou com a presença surpresa da mãe.

Choraram juntas, abraçadas.

– Dorinha, minha filha, estou feliz com você formada na Escola Doméstica e casada com Abel, sargentos da Aeronáutica.

Ao lado da igreja o auto falante:

– Atenção, atenção, as colegas de dona Doralice oferecem, com amor e carinho, está linda página musical: Danúbio Azul.

Aproveitei a oportunidade, na Igreja mesmo, depois do Casamento, é perguntei:

– Dorinha, quem você gostaria de homenagear neste momento?

– Dolores Duran.

 

 

 

Jaécio Carlos –  Produtor e apresentador dos programas Café da Tarde e Tribuna Livre, para Youtube.

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