VERSOS EM QUARENTENA –

Em tempo de pandemia fomos tomados por um ‘vai e vem’ de mensagens, as mais diversas, que notadamente se agrupam em pelo menos cinco categorias: as controvérsias da politicagem, as tomadas de pavor do vírus e suas consequências, as “abalizadas” sobre a solução do mal, as falsas e as “vírus pra que te quero”.

Poderíamos ainda incluir, as de receitas culinárias, de atividades físicas, de exercícios para a mente, de indicação de filmes, de “aprenda alemão em 3 minutos”, de caras e bocas de aprendizes de salvadores da pátria e do anúncio da chegada dos quatros cavaleiros do apocalipse.

Mas aqui quero me ater àqueles que, mesmo sabendo do perigo que o Corona lhes impõem, têm tomado os cuidados necessários para atravessar esse momento crítico. Parte desses procuram tornar mais ameno o clima emocional evitando entrar em parafuso pelo confinamento e postam coisas do cotidiano do “deixa a vida me levar (vida leva eu!)”.

Pois bem.

Rodou por aí uma imagem de uma garrafa de vinho com o rótulo “PUTEIRO”. Sabe-se que esse rótulo foi falsificado a partir do verdadeiro e existente vinho português “OUTEIRO”. Ao receber de um amigo a tal imagem, com ela vinha uma indagação: “Ao expert para opinar. É bom esse vinho? Melhor que “QUINTA DA RAPARIGA?”.

A ele respondi em verso despretensioso:

O vinho por ser um líquido / Em todo canto se amolda / A QUINTA saiu de moda / Mas outro entrou ligeiro / A vez agora é do tal vinho “PUTEIRO”.

 Uma outra mensagem recebi da escritora e poetisa Heloisa Brandão, que ao escrever um de seus textos me enviou com a ressalva de “recebo críticas e correções”. O escrito tinha como tema a busca por um amor.

Li e respondi:

Na vida não há engano / Quando um poeta relata / Mesmo passando o pano / O coração não desata / Pois então fale sem dó / Que eu estou escutando.

A réplica foi imediata:

“Depois de muito vinho / Tocando a vida e gostando / Querendo bem, na medida / Achando a vida bonita.”

Dei sequência:

Nos braços do nobre Baco / Num deguste de trato fino / Eis você aí curtindo / Na taça tem o batom / Cada gole achando bom.

Ela retrucou:

“Essa é uma maneira / De afogar as minhas mágoas / Que doem como uma chaga / Que ardem como uma chama / Ferindo a pobre alma.”

 Continuei:

Nada de pobre alma / Seu fogo não se apaga / Mesmo no vinho afogada / Tem que seguir a jornada.

E foi adiante:

“Vou seguindo a vida sim / Um dia me recompensa / Com o grande amor que procuro / Nessa vida quase sem fim”.

E acrescentou:

Isso tudo que escrevo /  É pra fazer uma rima / Pois o poeta que é bom / Não foge da sua sina”.

Respondi:

Acenou com um adeus / A bela amiga poeta / Aqui agora me resta / Dizer ao meu bom Deus / Que proteja essa mulher / Que busca por esse mundo / O amor que ela quer.

Pois ela emendou:

“Com certeza vou encontrar / Pois é vontade Dele / É maior que meu querer / E Deus não vai faltar”.

Peguei o embalo:

Pois antes de encontrar / Mande a foto desse vinho / Pois aqui vou lhe ajudar / Mas só depois de degustar.

E ela:

“O vinho de boa safra / Lá das terras portuguesas / Vou mandar pra comprovar / Que o vinho é muito bom / Disso tenho certeza”.

 Novamente eu:

Pois então tô esperando / Para esse vinho tomar / Se daqui ou de além mar / Da Mina Velha vou gostar.

 Então a foto chegou. Era do vinho tinto MINA VELHA – Reserva.

A desaceleração imposta pelo isolamento social tem o bônus de limpar as agruras da vida e abrir espaço para as coisas simples, como esse diálogo rimado.

Que busquemos também o nosso amor. Ele está aí ao seu lado, basta reencontrá-lo.

Cuidem-se!

 

 

Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil, escritor e Membro da Academia Macaibense de Letras ([email protected])

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

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