Marleide, uma senhora cinquentona e muito gorda, esperava, fora do provador de uma das melhores lojas de Natal, que sua mãe se definisse sobre as peças do vestuário feminino que queria comprar. O período era de promoção e a loja estava lotada. A filha já estava impaciente com a indecisão da mãe, e resolveu deixá-la sozinha no provador, para fazer suas escolhas, sem sua interferência. Enquanto a aguardava, puxou conversa comigo, que também estava esperando que minha filha saísse de um dos provadores.

Muito conversadeira, a mulher me disse que sua mãe, com 87 anos, ainda era cheia de vida, muito vaidosa e saudável. Tinha uma saúde de ferro. Frequentava academia de hidroginástica, aula de dança de salão, e fazia parte do Clube da Terceira Idade. Não perdia uma excursão organizada por essa associação nem os bailes semanais, onde se destacava como “pé-de-valsa”. Além de tudo isso, ainda tinha uma excelente memória.

Fiquei até com inveja da disposição dessa idosa, cantada em verso e prosa por essa filha apaixonada. Confesso que, mesmo tendo idade para também ser sua filha, não aguento mais rojão e quando danço me canso rapidamente.

Depois de ficar sabendo de toda a performance da idosa, fui a ela apresentada pela filha, fora do provador da loja. Tomei um susto com o graveto que vi na minha frente. A senhora tinha traços de quem fora bonita, quando era jovem. Lembrei-me dos versos da poetisa Anna Lima, minha avó materna, ao responder um questionário que, antigamente, era usado entre amigas mocinhas. À pergunta “o que mais temes na vida ?”, ela respondeu: “A velhice caprichosa, que faz da moça bonita, uma megera maldita, uma carcaça horrorosa”.

Magrinha, trêmula, mas muito simpática e bem vestida, a senhora entregou as peças escolhidas à filha, para que as levasse ao caixa. Fiquei curiosa para saber o segredo daquela vitalidade propagada pela filha. E puxei conversa:

– Estou encantada em saber como a senhora é cheia de vida e gosta de se divertir! Sua filha lhe fez muitos elogios! Qual o segredo dessa eterna juventude?

A senhor idosa respondeu:

– Ah, minha filha, eu não entrego os pontos nunca! Adoro passear, dançar, viajar, e o melhor é que eu tenho um namorado, trinta anos mais novo do que eu! Todo dia eu me encontro com ele. Adoro beijar e ser beijada!

Com malícia, indaguei:

– E rola mais alguma coisa, além dos beijos?

A idosa deu uma gargalhada e disse:

– É claro, querida! Se não rolasse, não teria graça!

E ainda perguntei:

– Como é o nome do seu namorado?

A mulher ficou pensativa, procurando o nome do amado no teto e nada de encontrar.

Para “salvar a Pátria”, sua filha se aproximou com as compras já pagas, para chamá-la para ir embora.

Mostrando-se aflita, a senhora perguntou:

– Ô, Marleide, como é mesmo o nome do meu namorado?!!!

Violante Pimentel – Escritora

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