UM OLHAR MAIS APURADO – 

“Josuá!”. Com essa exclamação restou-me buscar a admiração associada a uma felicidade de quem há muito esperava por um momento assim, sem nenhuma esperança que um dia pudesse acontecer.

O contorno do rosto, os traços da face estavam escondidos sob o adorno da moda, a máscara, que esconde o sorriso, mas realça a plenitude do olhar.

O olhar foi redescoberto nesse tempo de pandemia como um exercício de “salvação” para sabermos quem está falando conosco. “Falou comigo, mas até agora não sei quem era”. A segunda chance é identificar a voz: “Só reconheci porque você falou”. Ou ainda, o somatório do olhar com a voz: “Estava reconhecendo o olhar, mas com dúvida. Quando você falou foi que associei que era você”.

Os olhos falam por si só e não escondem o que o coração guarda. Pode ter sido um gesto de gratidão ou de desagrado que estava adormecido ao reconhecer que, lá atrás, algo ou alguma coisa ficou gravado na “alma” dos nossos sentimentos.

Esse passado precisa ser respeitado tal como foi vivido. No entanto, sempre é salutar que abramos a caixa dos sentimentos ou dos ressentimentos e renovemo-nos harmoniosamente com as pessoas e as coisas que nos afetaram em alguma circunstância da vida.

O que já foi já foi, mas com o que aprendemos podemos ressignificar o hoje como um dia de recomeço.

Confúcio, nos ensinou: “A experiência é uma lanterna dependurada nas costas que apenas ilumina o caminho já percorrido”.

A vida é curta, o caminho é estreito, a jornada é longa.  Nesse caminhar precisamos dar largueza para ir colhendo e acolhendo aqueles que se cansam e desistem no primeiro tropeço. Basta sabermos que estamos aqui , não sozinhos, mas parceiros de vidas que se aproximam e esperam o melhor de nós.

Com o engajar dos anos, o corpo muda, a mente muda e apenas nós, em nosso íntimo, sabemos quem realmente somos. E nesse saber devemos ter a certeza que ainda dispomos de terra fértil para plantar e colher o que há de melhor no ser humano: fazer o bem.

Pois é, o olhar ganhou destaque. Trate pois de exercitá-lo, pois será necessário e útil enquanto durar a incoerência e o desprezo pela vida por aqueles que insistem em enganar o vírus. Lembre-se que o vírus não tem olhos e, quem sabe, encontrará você sorrindo e o deixará chorando por não proteger as palavras e aguçar o olhar.

Engraçado é que tenho encontrado pessoas que me são caras e que, talvez, por não saberem que cultivo o olhar para tudo de forma simples e acolhedora descem a máscara para que eu tenha a certeza de que são elas mesmo.

João Gilberto canta e encanta quando em ‘ESSE SEU OLHAR’ do compositor Antonio Carlos Jobim nos diz: “Ah se eu pudesse entender / O que dizem os seus olhos”.

Quer treinar o seu olhar?

Vislumbre o olhar de uma criança e faça um contraponto com o de um adulto. Será fácil perceber o quantum de divino há em cada um.

Apure seu olhar.

 

 

Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil, escritor e Membro da Academia Macaibense de Letras ([email protected])

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *