JOSE MARIA FIGUEIREDO

José Maria Barreto de Figueiredo

É frequente vermos estampada, em grande manchete, a noticia: “político irresponsável desvia verbas e se locupleta às custas do erário público”. Nos jornais, revistas e televisão, este é o assunto mais convidativo para despertar a atenção do leitor ou do telespectador. O fato já se tornou tão comum que o rótulo de desonesto acompanha normalmente a quem envereda pelo caminho da gestão da coisa pública.

“Rem pulicam gerere” é a máxima que perpassou o período dos gestores romanos, adeptos das teorias de Platão, onde foram haurir os seus conceitos básicos, entre os quais a honestidade guardava lugar de destaque: “honestas im primis”.

A bem da verdade, os casos de improbidade existem, mas as exceções também existem, e não são poucas. Sem querer arrogar-me em advogado de defesa, pois leigo em leis como sou, certamente não seria bem sucedido.

Quero, no entanto, dar o meu testemunho em favor de um cidadão do qual o Rio Grande do Norte deve se orgulhar. Trata-se do senhor Agnelo Alves, que infelizmente nos deixou recentemente.

Eu o conheci há 45 anos e tive a honra de assessora-lo no seu primeiro escalão, ainda jovem e recém egresso do curso de graduação em Ciências Econômicas da UFRN. Ao meu lado estavam Jussier Santos, Nelson Baia, Benivaldo Azevedo, Edmundo Aires, Milfon e vários outros sonhadores como eu. Nós formávamos o time jovem do prefeito de Natal, Agnelo Alves.

De visão empreendedora, ele procurava capacitar sempre mais a sua equipe para a grande gestão que sonhava fazer para o bem-estar dos seus munícipes.

Algumas ações de Agnelo foram notáveis e merecem ser lembradas com justiça para não caírem no esquecimento. Uma delas foi o Segundo Plano Diretor da cidade do Natal, que em muito aperfeiçoava o Primeiro, concebido por Giácomo Palumbo, arquiteto italiano que aqui esteve no inicio do século XX.

Criticado por muitos incrédulos, este Plano teve a visão ousada de planejar Natal até o ano 2010.

Quem hoje caminha pela Ribeira, aprazível e de saudosa memória, decantada por Câmara Cascudo, certamente ignora que aquela grande obra de saneamento e urbanização estava traçada no Segundo Plano Diretor de Natal, marco da gestão do Prefeito Agnelo Alves.

Seguindo este planejamento, Agnelo abriu as avenidas 16,17 e 18, e entre muitas outras vias importantes para Natal, abriu a Avenida 15, que representa o pulmão da cidade, ligando a zona Norte à zona Sul e, através da BR 101 é o caminho de ingresso às diversas áreas da nossa capital.

Agnelo concebeu a construção do Agnelão, depois denominado Estádio Machadão, na área que posteriormente daria lugar ao atual Arena das Dunas. Na época ele era um projeto arquitetônico ousado, em forma de “sombreiro mexicano” , com capacidade de abrigar comodamente 40 mil pessoas, em substituição ao saudoso e superado Juvenal Lamartine, no Tirol.

No auge do seu fervor administrativo, as aves de rapina tramaram a cassação de Agnelo. Esse foi o premio que recebia por seu trabalho incansável. Era a força do arbítrio autoritário de 1966 contra um cidadão indefeso que, em nome do pdovo e por ele escolhido livremente, cuidava dos destinos da sua cidade capital.

Mexeram, remexeram, vasculharam tudo e nada encontraram para imputar-lhe como crime de desonestidade. Sobro-lhe uma causa de condenação: “ele é um Alves”.

Condenado ao silencio, abandonado por uns, mas sempre lembrado pelos seus verdadeiros amigos, depois de mais de 45 anos passados,ele ressurgiu dando nova aula de administração. Parnamirim, que o acolheu e o consagrou nas urnas por duas vezes seguida como seu Prefeito, sentiu orgulho do seu gestor.

Se na década de sessenta Anelo inovava em seu Plano Diretor de Natal, em Parnamirim  ele mostrou como administrar com honestidade, tendo colocado no centro da cidade um Painel no qual o cidadão via quanto o seu município arrecadava e como o seu imposto era utilizado em favor do bem publico.

Ainda jovem, em minhas andanças, como delegado da LBA/RN conheci um bispo de Coxabamba, cidade boliviana, Dom Bertoldo Buhll. Em sua rigidez saxônica ele costumada repetir-me: “Se lós políticos son buenos, aplaudámoslos; pero, si son malos,virtuperémoslos”  –  Aos bons políticos, o nosso aplauso; aos desonestos, o nosso desprezo, a nossa abominação

Agenelo, por tê-lo conhecido de perto, sempre mereceu o meu respeito e admiração como homem probo e administrador sábio: um visionário na gestão da coisa publica.

Por todos os ensinamentos que dele recebi, eu sinto orgulho de ter sido seu colaborador.

Parabenizo a você Agnelo, in memoriam. Você merece a distinção dos justos. Para você eu continuarei tirando o chapéu.

Descanse em Paz!

José Maria Barreto de Figueiredo – Economista e Chanceler da UNIFACEX

2 respostas

  1. Vindo do Meu Amado Mestre Zé Maria, não poderia sair outra coisa; o cabra é bão! E além disso; num é p’rú tê murrido; Agnelo “era qui nem istôpa; num tinha derêito nem avêsso; era bão de tôdo lado; o de dento e o de fora”!…

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