SONHOS ? –

Dalton Mello de Andrade

Não sei como começar. Foi um sonho estranho e inesperado. Sempre que se vai para a cama, sonhar é uma possibilidade evidente. Quase uma obrigação, já que dormir sem sonhar não é dormir. Sempre que vou dormir, fico aguardando um sonho, que sempre vem.

Muitas vezes, tão sem importância que nem sequer me lembro dele. Outras vezes, tão fortes que não me saem da cabeça durante dias. Foi o caso deste que vou contar. Procura-me um amigo – devia ser intimo, pela forma como se dirigiu à mim, mas não o reconheci – e contou-me a seguinte historia.

Você sabe como eu sempre fui um cara religioso, desde menino, então como rapaz e até hoje. Não perco Missa aos domingos, confesso e comungo toda semana, presença habituai em tudo quando é novena e nunca faltei a uma procissão. Sou o que se pode chamar de católico convicto. Mais do que convicto, crente fervoroso e que nunca duvidei de nenhum de seus dogmas.

Isso vem mudando ultimamente, e estou preocupado. Não consegui ainda identificar as causas. Fico imaginando: posições do Papa, Homílias nas igrejas, acusações de pedofilia, e outras sandices, têm me levado a um permanente crescimento dessa dúvida? Comecei a buscar as possíveis causas. Continuei participando a tudo como antigamente, mas iniciei minha pesquisa pelo que resolvi chamar de “novidades religiosas”.

Comecei com Lutero. Suas posições me pareceram muito lógicas e sensatas. Depois fui para Calvino e semelhantes. Li muito sobre espiritismo, que me deixou intrigado. Li muitos escritores ateus, agnósticos, descrentes totalmente. Li a Bíblia protestante, li o Livro dos Mormons, li até o Alcorão. Me voltei para a Ásia, lido sobre budismo, xintoísmo. Reli Darwin, os que os contestam, os criacionistas, o escambau. Tudo isso sem esquecer que era católico. E sem mudar meu comportamento.

Mas tanta leitura me começou a aumentar a dúvida, que acho todos nós temos, por mais crentes que sejamos em alguma religião. O que vai acontecer quando eu morrer? Vou direto para o céu, pelo meu comportamento católico, vou ficar em algum purgatório, aprendendo a verdade, ficar vagando no espaço, um espírito procurando sossego? Ninguém sabe. Meus amigos que se foram nunca vieram me dizer nada. A surpresa e a dúvida continua.

Diante de tudo isso, Dalton, disse o meu amigo, já pedi a minha família que mandem tatuar na minha testa, depois de morto, uma enorme interrogação – ? -, para mostrar minha ignorância e falta de confiança em tudo que vivi ou li a respeito de religião e vida após a morte. E perguntou-me: o que é que você acha? Uma grande ideia e sou capaz de imitá-lo.

 

Dalton Mello de Andrade – Escritor, ex-secretário da Educação do RN

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

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