SENTIMENTO TELÚRICO –

Certa vez, uma conversa num encontro social motivou tema interessante ainda não suficientemente estudado. Quais os estados brasileiros bairristas, dotados de forte sentimento de teluricidade? No nordeste, à primeira vista, a Bahia, o Ceará e Pernambuco assumem e assomam o patamar dos notáveis. Pernambuco, por exemplo, existe o “senso de pernambucanidade”, permanente disposição afetiva e “patriótica” em defesa das coisas da terra, com tal entusiasmo e emoção que até parece religiosidade. Assim também se diz do baiano e cearense que exageram seus intrínsecos valores de ordem intelectual, espiritual, consuetudinários e econômicos a extremos, ao ponto de menosprezar e hostilizar tudo que se refira as demais unidade federativas.

O médico e articulista Elmano Marques suscitou o assunto com relação as regiões e municípios do Rio Grande do Norte. Existe aqui comportamento bairrista e onde? De antemão, estabeleceu-se a premissa do potiguar não ser um telúrico como o gaúcho. Poderia sê-lo, posto que, motivações religiosas, culturais, históricas, econômicas, além de belezas naturais sem fim, constituírem o seu rico patrimônio universal de orgulho e autoestima. Mas, quais os “bolsões” de bairrismo acendrado existentes? Natal primeiramente, assume essa identidade de cidadela querida e resguardada pelos seus habitantes? Pouco provável porque as opiniões são díspares. Que causas inibem a maioria dos natalenses em manifestar seu sentimento pela capital como fazem os cearenses, pernambucanos e baianos? O problema é que quando assim procedem, se mostram tímidos, sob tensão de notório complexo de inferioridade. Bem, o que afirmo é uma impressão. Pode ser que outros não enxerguem assim.

Todavia, a razão de trazer à baila a discussão desse assunto é para suscitar entre os sociólogos, professores e pesquisadores sociais a elaboração de um trabalho ou de uma tese. Por que Mossoró é tida e havida como cidade bairrista? Que sentimentos alimentam o seu povo para assim se conduzirem? Emulação com Natal? Perscrutar a psique social é uma tarefa para os cientistas dessa área. A antropologia cultural, por outro lado, irá apreciar as características inerentes a cada homem no que tange aos costumes e as crenças, de par com outras ciências, a fim de determinar a teluricidade comportamental dos naturais de cada município ou região. Trata-se de apaixonante assunto que acredito interessar a todos os interioranos do Rio Grande do Norte. Macaíba, Parnamirim, Ceará-Mirim, São Gonçalo, que integram a região metropolitana preservam algum bairrismo? Ou a proximidade com a capital é motivo de dispersão ou de falência sentimental? O que dizer do Seridó, região mais hermética e de características sociais atípicas? E como a abordagem é perfunctória e indagativa, que outros ingredientes como o clima e o solo influem na formação do sentimento telúrico? Ficam as indagações para os estudiosos.

 

 

 

 

 

 

Valério Mesquita – Escritor, Membro da Academia Macaibense de Letras, Academia Norte-Riograndense de letras e do Conselho Estadual de Cultura  e do IHGRN– [email protected]

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