SAUDADES DE UM VELHO TIO –

Cara de cachorro mijando na chuva…

Era assim que um velho tio se expressava para identificar, entre os sobrinhos, aquele que teria feito alguma estripulia ou travessura e a famosa cara de sonso denunciava…

Foi assim que aconteceu com a melancólica entrevista concedida pelos Presidentes da República, da Câmara dos Deputados e do Senado Federal- Temer, Calheiros e Maia, para abafarem os malfeitos de Geddel Vieira e se vitimarem acerca do complô para aprovarem, na calada da noite, uma nefasta lei que descriminalizaria o caixa 2, largamente utilizado nas campanhas eleitorais brasileiras, inclusive por eles; e as caras de sonsos não deixaram dúvidas: todos são culpados e cúmplices. Os três presidentes, por falta de talento para serem tenores, assumiram o papel dos três patetas. Entre caras e bocas, cacoetes manjados e explicações vazias expostas em “o”, mostrava a insegurança das insignes autoridades e a certeza do papel ridículo que faziam. Os homens públicos se superam na mediocridade e nas técnicas de enganação.

A República apodreceu e, sem qualquer alusão a ideologia de gênero, caberá a uma mulher, por total falta de homens públicos dignos, colocar pontos finais em algumas questões nacionais e impor-lhes uma surra de toga. Tudo tem um limite e a classe política, com a conivência da estrutura da República, perdeu a noção da ética (se é que sabe o que é) e da moral e montaram um Estado na anormalidade de privilégios e rapinagem. A cena foi tão claramente estúpida e falsa que não foi necessário o concurso de especialista em inteligência e informações para analisar a farsa em seus semblantes. O Brasil está intoxicado pela droga da amoralidade pública e a internação é iminente. Os nomes, como pedras de dominó, caíram um a um, num xadrez de corrupção, descasos, desmandos e agressão à República e se tornaram banalizados nas hostes do crime.

Somos um país sem lideranças e sem possibilidade de surgimento de novos líderes. A praxis do excesso com que sobreviveram os atuais (e falsos) líderes na contramão de privilégios e abusos, em todos os sentidos e até onde nada faz sentido, destruíram a imagem do homem público brasileiro aos níveis da mais baixa prostituição, com direito a cafetina, que se endeusam nos neons das tenebrosas transações e seus padrinhos em todos os poderes e mancharam a atividade, que seria a mais nobre: a política, no mais denso lamaçal por onde transitavam (e ainda transitam) com a desenvoltura dos que fazem da maldade suas plataformas existenciais e, assim, destruíram o país e aniquilaram os valores e virtudes sociais.

Somos um monte de nada. Imaginem se a MM Carmen Lúcia tivesse conhecido meu velho tio, hoje falecido, e com ele aprendido como identificar e julgar um sonso, de forma sumária e sem possibilidade de erro: as caras de cachorros mijando na chuva; a sentença viria rápida e eficaz, doze lapadas de palmatória e eles iriam pensar duas vezes em arriscar as mãozinhas (ou mãos grandes) em novas estripulias e vagabundagens, digo, travessuras. Que falta faz o meu velho tio, mas como a esperança é a última que morre, acreditemos na MM e na sua envergadura moral, já demonstrada algumas vezes, inclusive com o cirúrgico entendimento sobre o crime de caixa 2, em um vídeo que viralizou nas redes sociais, que cada um receberá o que merece. O início da queda de Calheiros já está com data marcada. Uma única dúvida: será que a MM sabe o que é uma palmatória? Não? Sem problema. Uma boa surra de toga cai bem. Pode bater nos três, sem pena. Eles saberão o motivo da sentença.

Eu sei que a MM deve pautar-se pelos princípios e axiomas jurídicos, como boa cientista jurídica que é, mas, sinceramente, sinto saudades dos tempos de meninice onde os malfeitos eram julgados pela cara de cachorro mijando na chuva que o peralta fazia e, sem direito a recursos, o meu velho tio fazia a palmatória chiar. Agora, nos tempos da prevalência dos direitos políticos, os malfeitos continuam e a cara de cachorro mijando na chuva dos malfeitores nada mais é do que um pequeno detalhe.

Fui!

 

Adauto José de Carvalho Filho – AFRFB aposentado, Pedagogo, Contador, Bacharel em Direito, Consultor de Empresas, Escritor e Poeta.

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