ROTINA DE UM APRENDIZ –

“Sempre estou à espera de uma inspiração; quando ela demora vou em sua busca.” (Josuá Costa).

O novo dia já amanheceu. O corpo ainda teima em permanecer acolhido, sabedor de que a noite anterior, mais uma vez, foi demasiadamente longa sem que os olhos cerrassem de forma amigável como aos que deitam e dormem.

É dito que quando alguém dorme tranquilamente que é o sono dos justos. Serei então injusto?

Os bem-ti-vis já me avisaram que era tempo de espreguiçar, juntar os lençóis e agradecer a Deus pela vida em geral, pelos que me vêm à lembrança e pela a minha própria.

Confiro os ponteiros de um velho despertador que teima em apressar o ponteiro grande e, dando um desconto para agradar o cliente (eu mesmo) checo os quatro cantos do teto como exercício para aguçar a visão periférica, essencial para quem deseja ver a rotina diária de vários ângulos.

Pés na chinela amoldada ao meu pisar, abro o livro ‘Mananciais no Deserto’, e alinhando com o calendário absorvo a mensagem do dia e dela procuro fazer a diretriz das atitudes que me aguardam.

Mamão papaia, café com leite e um pãozinho assado fazem meu desjejum, ao tempo que ‘passeio’ o olhar pelas manchetes do jornal acomodado na bancada pelo fiel colaborador da faina caseira.

Pressão arterial e circulação abastecidas pelos fármacos garantem o trato feito com o cardiologista e me ‘empurram’ para a poltrona da sala, onde passo a debulhar cada espaço do jornal. Através da leitura vou desenhado o mapa da coerência e da crítica, extraindo aquilo que me faz bem e renegando os afoitos dos “faça o que digo, mas não faça o que faço” do atual contexto político e social que atravessamos (a gosto ou a contragosto).

De lá, como uma forma de espairecer, vou “conversar” com a pitangueira e as verduras plantadas em jarros, admirando o quanto são receptivas ao cuidado que recebem.

É hora de ir ao cesto de revistas – Filosofia, Literatura, Língua Portuguesa, Cult, Deguste -, e de lápis em punho vou lendo e sublinhando os tópicos que me comprometo a aprofundar no dito e no escrito.  Nesse meio tempo, saco uma palavra cruzada e reorganizo as sinapses. Algumas vezes “brigo” com quem bolou aquela, por uma simples discordância, tipo: “O branco dos olhos” – com quatro letras. Depois de rebuscar todas as prateleiras da memória me rendo, e sem querer querendo, pesco a solução que me diz: “Alvo”. Com desprezo deixo pra lá.

Como compensação pelo desagrado com a ‘Coquetel’ vou visitar os livros na estante e folheando a esmo algumas páginas do “escolhido” busco uma inspiração qualquer, para me motivar a ir ao teclado ou ao caderno de anotações.

A mensagem “Mande o artigo mais cedo hoje” enviada pelo amigo Nelson Freire para o blog Ponto de Vista, acende o “aperreio” da mente e trato de ir em busca da inspiração, pois já não vale a pena ficar esperando por ela.

Então no cantinho da mesa abro o chromebook e vou escrevendo o que o pensamento dita e me inspira. Sei que amanhã você lerá e por isso tenho o cuidado de enquanto escrevo fazer a pergunta silenciosa: está claro assim ou é melhor ‘dizer’ de outra maneira?

A xícara de café, ao lado, esfria e diminui entre uma pausa e outra, para reler o que já está na tela.

Aprendi que o título do artigo se retira do texto. Porém sempre escolho um título provisório como ponto de partida, para ir coordenando o pensamento e o arranjo das letras, que vão enlaçando o pensar e o escrever. Depois, se for preciso, remonto ou troco por um título mais adequado.

O professor Dalton Melo de Andrade já alertava: “Escrever é uma arte. Para alguns, fácil. Para outros, uma dificuldade. Estou no meio. Gosto de escrever. Quando tenho inspiração, a palavra vem fácil. Quando não tenho, desligo o computador e deixo para depois.

O também mestre, Ivan Maciel de Andrade, cita em seu artigo “O Escritor e sua Vida Privada” que, “Escrever é sempre um ato de confissão, por mais que o autor disfarce ou declare ojeriza à exposição.” Já em “O Ofício de Escrever”, o admirável autor, indaga: “Qual a motivação que leva alguém a escrever…”?

A minha motivação é poder transmitir a parte da “conversa” com aqueles que não tenho oportunidade de falar efetivamente. Através dos  comentários recebidos tiro as lições e absorvo as opiniões como incentivo para continuar a escrever.

Salve, portanto, àqueles que todos os dias escrevem para os jornais e para as mídias digitais. Eles possuem uma fonte inesgotável de inspirações.

Enquanto isso vou semanalmente amealhando assuntos para algum escrito que possa ser útil.

Afinal, sou apenas um aprendiz das letras.

Envio o artigo e respiro fundo.

 

 

Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil, escritor e Membro da Academia Macaibense de Letras ([email protected])

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

 

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