ALUIZIO LACERDA

Aluísio Lacerda

À beira da fogueira, noite de São João, prosa boa como há tempos não se via, o papo esbarra nas fraudes do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).

Gente que não precisa desse crédito, mas não perde o hábito de levar vantagem em tudo. Gente que se alia a técnicos dispostos a fazer o papel safado, inclusive dificultar eventual ação fiscalizadora dos agentes financeiros. Ação criminosa que não existe somente ao Norte do Rio Grande, há tempos vem sendo investigada em praticamente todas as regiões do país.

A concessão fraudulenta de financiamentos com recursos do Pronaf é o tiro de misericórdia numa ação governamental já muito criticada em função da ausência de controles e do envolvimento de gente de todo tipo – desde agentes públicos quanto privados.

Entre uma fatia de canjica e dois goles de Quentão, um técnico agrícola foi narrando o que viu, ouviu ou soube por terceiros nem sempre indignados. Gente que compra umas vaquinhas e as revende por um terço na semana seguinte. Gente que tenta convencer o técnico que o seu projeto não tem nada de errado, embora o “pequeno sítio” fique em cima de uma duna.

Há farra com os recursos da agricultura familiar em praticamente todas as regiões do Estado. Na mesma rodada de conversa, o Quentão já queimando as orelhas, foi dito que para os lados de Macau, na região salineira, também há registros à espera de providências, o que pode levar algumas pessoas à cadeia.

O agente público foi questionado sobre o seu silêncio diante de tamanha bandalheira. Ele jura de pés juntos que nunca ficou calado e que levou tudo ao conhecimento de seus superiores. Isso ao longo de toda a sua carreira funcional. A plateia ficou silente. E todos sorveram mais uma lapada de Quentão.

Um esclarecimento aos curiosos que não conheceram o Sertão de nunca mais, nos festejos juninos: Quentão é a mistura de um litro de cinzano com uma garrafa de boa cachaça. A bebida é levada ao fogo e servida fumegando. Ninguém fica quieto.

Dizem que a Polícia Federal tem notícias desse desmantelo com recursos públicos transferidos pela União. Deve ser verdade.

Na região Norte do país, região de Campo Novo, lá em Rondônia, por exemplo, a PF desarticulou recentemente um desses esquemas criminosos de concessão de financiamentos fraudulentos com recursos do Pronaf.

A mesma ação, batizada de “Operação Parasitas”, ocorreu no interior de São Paulo, em abril deste ano.

Por enquanto foi suspenso o exercício da função pública de quatro investigados, o sequestro de uma propriedade rural, a proibição de afastamento da comarca onde residem dez investigados e a indisponibilidade de valores em conta corrente (R$ 1 milhão).

A ação criminosa consistia na concessão fraudulenta desses financiamentos, através do Banco do Brasil. Documentos falsos eram acatados por servidores do banco e da Emater, com a assessoria de escritório de contabilidade.

Aluisio LacerdaJornalista  (Publicado originalmente em O NOVO JORNAL)

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