Vicente Serejo

Adianta pouco dizer que a comunicação, tenha seu uso como marketing ou não, muitas vezes é vendida como um elixir desses milagreiros que curam todas as mazelas. Os que vendem o milagre continuarão vendendo e os que compram também. Como não serve de pano para cobrir o fracasso. Mas, há uma velha certeza que há anos aprendi e até hoje nunca ninguém ousou contestar: a mensagem pertence a quem recebe e só a este cabe aceitar e rejeitar.

Dois dados atuais mostram a assertiva: os níveis de aprovação do Governo Dilma caídos a 62% de desaprovação e a queda do ministro da comunicação, jornalista Thomas Traumann, depois que vazou um documento por ele elaborado apontando os graves problemas do governo Dilma. Ele, certamente, anteviu que os R$ 200 milhões de reais para o marketing este ano seriam inócuos se antes o governo não tratar de ajustar a sua imagem hoje desgastada com a corrupção.

Não há em comunicação equação mais óbvia. Quem somar a despesa com marketing do Governo Rosalba Ciarlini, vai verificar a alarmante perda de dinheiro público que a governadora jogou pela janela ao longo de quatro anos. Este colunista, alguns ainda lembram, foi admoestado no seu direito de opinar, acusado de despeito, por afirmar que o problema do Governo Rosalba não estava na sua comunicação, mas no posicionamento do próprio governo com a sua gestão.

Agora, está na Folha com todas as letras e números: cai o ministro da comunicação pelo vazamento de uma análise interna a revelar, camada a camada, os graves problemas do governo Dilma que errou de destino e caiu na desgraça popular. Ferida e sob o pretexto de suspeitar de fogo amigo do seu auxiliar direto, Thomas Traumann, com ou sem trauma, para fazer esse pobre jogo de palavras, a este restou desocupar as gavetas do birô e sair. Como se tivesse uma culpa.

Sua antevisão parece clara. Ora, ele sabia que dispõe, no orçamento e sem cortes, de uma pequena montanha de R$ 200 milhões para o marketing do Palácio ao longo deste ano e ainda mais de todos os outros ministérios, somando qualquer coisa da ordem de R$ 5 bilhões. Mas, sobretudo, sabia que os problemas que desgastam a imagem do Governo Dilma não nasceram nem cresceram por erros da comunicação. E foi apontar os erros que precisam ser corrigidos.

Houve uma luta interna antes da queda do ministro da comunicação. Os petistas estão com olhos de cobiça nos milhões da verba publicitária governamental. O escândalo do Petrolão abateu a imagem do governo com denúncias acatadas pelo Supremo. Agora, e está também na Folha, veio a estratégia de ter a verba publicitária para usar na negociação com as mídias formais e informais. Com que objetivo? Fortalecer o mercado publicitário ou influenciar? Eis a questão.

Vicente SerejoEscritor e Jornalista

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