Nas décadas de mil novecentos e cinqüenta e mil novecentos e sessenta, a Redinha era a praia de veraneio mais procurada pelos natalenses, devido à proximidade com os outros bairros da cidade. Ponta Negra e Pirangi eram consideradas distantes, pois só se chegava por lá em veículo próprio, não havia na época transporte coletivo.

O nome Redinha, não se sabe exatamente qual foi a sua origem. Alguns advogam que as diversas redes de pesca estendidas em varais “na Costa” deram origem ao nome. Câmara Cascuda escreve que o nome Redinha faz referência a região de Pombal em Portugal. Havia na Redinha de Fora as casas e ruas as margens do Rio Potengi, e a Redinha de Dentro na foz do Rio Doce. Há outra versão que meu pai garantia ser a mais correta é que um comerciante, talvez o primeiro veranista, construiu uma rancho de palha e fez para si uma pequena jangada. Nos finais de semana quando se deslocava para praia dizia – vou descansar na minha redinha (rede de dormir).

O veraneio começava no final de dezembro e ia até o início de fevereiro, era a época das férias escolares. Neste período, as famílias trocavam suas casas de moradia pelas casas de veraneio, só ocupadas na época das férias escolares.

O meio de transporte mais comum de chegar até a Praia, era atravessar o rio. Existia a rodovia precariamente construída e poucos tinham automóveis. A travessia era feita em lanchas motorizadas ou em botes a vela de propriedade do Sr. Luiz Romão, proprietário da Agencia Pernambucana que ficava na Rua Tavares de Lira na Ribeira, e também era a distribuidora de jornais e revistas, além de uma amplificadora que dava as notícias mais urgentes. Nessa travessia feita de bote, dava para contemplar as edificações da “cidade grande” que ficavam na margem do Rio Potengi, tornando a viagem mais agradável. Às vezes pela falta de vento, os boteiros tinham que molhar a vela pra aumentar a velocidade da embarcação e fazia com que essas tocassem – nas partes mais baixa – na água, dando um “friozinho” na barriga, pois levantava muito um dos lados, em relação ao rio.

A travessia feita em uma “linha” diagonal que unia o trapiche da Redinha – lugar de embarque e desembarque construído de madeira- ao Cais Tavares de Lira, que ainda hoje fica no bairro da Ribeira. Com isto tínhamos a visão do Forte dos Reis Magos, dos bairros de Santos Reis, das Rocas, da Ribeira e algumas igrejas na Cidade Alta.

Nos anos 50, a Redinha tinha apenas uma igrejinha construída pelos pescadores em 1924, onde abrigava a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes, edificada no alto de um pequeno morro, com sua porta de entrada virada para o rio. Com isto, os navios que entravam ou saiam do Porto de Natal, quando passavam em frente à igrejinha, davam três apitos, fazendo com que a meninada corresse para as janelas e terraços de suas residências para apreciar aquela “enorme” embarcação. Às vezes, tripulantes acenavam para as pessoas e banhistas do rio. Chamavam a atenção os hidroaviões ou hidroaeroplano. Um aeroplano preparado para decolar e pousar (“amarar” ou “amerissar“) sobre a superfície da água. A base de estacionamento era uma rampa construída no bairro de Santos Reis, lugar ainda hoje conhecido como “Rampa.”

Redinha dos boêmios – Gil Barbosa, José Luiz Leal, Eimar Vilar, Jahyr Navarro, Airton Gazaneo, Paulo Bezaerra, Etiene Reis, Túlio Fernandes Filho, Tota Zeroncio, entres outros. Redinha dos intelectuais – Túlio Fernandes, João Medeiros Filho, José Idelfonso Emerenciano, Protásio Melo. Redinha de senhores conhecidos na nossa sociedade – Mirabeau Pereira, Clodoaldo (Cloro) Leal, José Herôncio, Dante de Melo Lima, Clidenor Lima, João Ferreira, Leonel Leite, Wilson Maranhão, Humberto Teixeira, Antonio Barra Maia (Pitota) e ouros que contribuíram muito para o progresso da praia, hoje bairro.

O veraneio era uma festa e o Redinha Clube ponto de encontro entre os veranistas. Ali, os jovens iam namorar ou faziam apenas “rodas de encontros”. Campeonato de ping pong (tênis de mesa), jogos de vôlei e futebol de salão. A energia elétrica gerada por um velho motor a querosene, localizado no mercado da praia as vinte e duas horas apagava tudo e a iluminação das casas era feita por lampiões a querosene. Antes de desligar o motor, eram dados três sinais – apagava a luz- em um intervalo de meia hora para dar tempo de todos se deslocarem para as suas residências. Os rapazes se deslocavam até o mercado e  nas barracas de Dona Severina ou de Geraldo e Dalila, formavam grupos de seresteiros que faziam serenatas pelas madrugadas, cantando músicas de Vicente Celestino, Nelson Gonçalves, Chico Alves, Silvio Caldas e outros cantores da época.

 Os piqueniques, onde a juventude se reunia e ia para a foz do Rio Doce ou para a Lagoa de Genipabu, saiam pela manhã e voltavam à tardinha.

A parte social era movimentada no Redinha Clube, com festas dançantes para adultos e jovens.  O ponto alto das festividades era a Festa do Caju, que coincidia com a festa religiosa de Nossa Senhora dos Navegantes, festa muito bonita. A Santa saia da Igrejinha em procissão ia até o trapiche, e em uma embarcação percorria o estuário do rio potengi até a Base Naval. Essa embarcação era acompanhada por várias outras, criando um belo visual.

Para mim, assim era a Redinha que eu vi na minha infância.

Guga Coelho Leal – Engenheiro e escritor

As opiniões emitidas são de responsabilidade dos colaboradores

Uma resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *