QUANDO A ERRATA DIZ TUDO – 

(Tributo ao escritor Francisco Obery Rodrigues)

Um hall com livros e fotos da família, um expositor com seus livros autorais, um escritório, mais livros e cds, uma janela pela qual se vê o céu, uma poltrona macia e, nela, um escritor lúcido de memória ativa, cheio de paz compartilhada com quem o visita. Um café no meio da tarde, uma canjica, uma pamonha, um bolo fofinho, a companhia de uma de suas filhas, Simone Rodrigues, a presença da escritora Anchella Monte e eu.

O cenário perfeito para uma conversa cheia de reminiscências e encantos, pela jovialidade de um homem que acumulou vivências e experiências de vida: um construtor de amizades e de certezas que o impulsionaram ao dom de escrever e amar o que faz.

No primeiro livro que me presenteou, “Relembranças e Experiências”, me encantei com sua sensibilidade tratada no capítulo ‘A Sabedoria’. Diz ele: “Primeiro quero fazer uma quase sutil distinção entre sabedoria e sapiência. Enquanto esta requer erudição, a sabedoria não é privilégio dos sábios, mas da capacidade de julgamento do comportamento humano, da observação dos acontecimentos e de saber manter sempre na vida uma conduta sensata”.

 Mais adiante busca convicção na idade e cita: “Resta-me só, repetindo, assegurar que a velhice, por si só, não torna ninguém um sábio. Se quem a houver alcançado por ter levado uma vida de observação, de estudo e de reflexões, com certeza, além de ter obtido boa experiência, provavelmente se aproximará de um sábio”.

Essa duas lições acenderam em mim a “necessidade” de conhecer e conversar com esse magistral escritor mossoroense, que, lá no Colégio Diocesano Santa Luzia, deu seus primeiros passos no arranjo das letras, traduzindo sentimentos.

De tanto desejar, chegou a oportunidade e realizei meu sonho. Afinal, aprendi que nunca devemos desistir.

Qual não foi minha surpresa ao encontrar não apenas um escritor, mas um homem cheio de vida aos seus noventa e cinco anos. Vida transbordante pela vontade de, mesmo com sua gloriosa idade, continuar com a aspiração de escrever. Não por menos, mais um novo livro, “Renascimento”, está escrito e pronto para coroar o seu aniversário agora em setembro, na certeza de que, em cada linha, um novo repensar dará a cada um de nós a oportunidade de ter paciência com a vida.

Pois foi.

Conversamos, tiramos fotos, tomamos mais um café, relembramos nomes e acontecimentos de sua vida profissional e de sua juventude, enfim parecíamos amigos de longas datas.

Como coroamento da visita revigorante de almas que se encontram, recebi, autografado com sua mão firme e sabedora, um de seus livros denominado “Crepúsculo”, que nos traz belas recordações e até alguns contos que demonstram a sua versatilidade nos estilos literários.

No folhear do “Crepúsculo”, na contra capa frontal, uma ERRATA que, por si só, prenunciava o quão gratificante seria percorrer página por página e desfrutar das crônicas desse modesto homem, porém talentoso escritor.

Vamos então à ‘Errata’: “Não cheguei até aqui, a esta altura do tempo, sem encontrar dificuldades em alguns trechos da longa caminhada. Foi fácil em alguns, porém difícil em outros. Mas, devagar e sempre, estou quase chegando ao cume. Qual seria o cume? Me pergunto. Não sei; só Deus conhece. Sei que já estou cansado. De modo particular a mente, que é o motor de tudo, mas já demonstra bastante exaustão.”

Certamente foi a primeira ‘errata’ que não exige ir até à página citada, pois, a própria diz tudo da gratidão de um escritor, que sabe valorizar seus passos fáceis e dificultosos de uma caminhada de glórias.

Obrigado, querido Francisco Obery Rodrigues. Saí da visita mais humano, mais crescido na esperança, mais firme na certeza de que Deus abençoa seus filhos.

Um aperto de mãos; a sua, que vem usando como ferramenta durante toda a sua vida “para trabalhar, para alcançar, pegar e envolver”, a de Deus para te saudar e a minha como um “até logo”.

 

 

 

Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil, escritor e Membro da Academia Macaibense de Letras ([email protected])

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