Existem pessoas aficionadas por provérbios. E, realmente, nada consegue exprimir tanta sapiência com tão poucas palavras. Usado na hora certa, o provérbio esclarece a dúvida, forma opinião, resolve qualquer querela e resume o pensamento de quem o profere. Também é chamado de máxima, sentença, adágio, ditado, dito, anexim, exemplo, refrão, refrém, rifão, sabedoria popular, enfim, vox populi, vox dei… Proverbiemos e proverbializemos, portanto.

Tem aquela história do indivíduo que tinha uma absoluta dificuldade em decorar provérbios. Contrariadíssimo, pois iria participar de uma brincadeira onde teria de citar vários adágios, procurou memorizar, pelo menos dois:

– Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.

– Mais vale uma pomba na mão do que duas voando.

Passou o dia inteiro repetindo as duas frases, até que chegou a sua vez de pronunciá-las. E eis o que saiu:

– Mais vale uma pomba dura na mão do que duas moles batendo numa pedra até que fure.

Tivemos um professor de psiquiatria que, nas aulas práticas, testava o poder de abstração, a capacidade associativa e intelectiva dos pacientes, pela competência que estes tinham em interpretar provérbios. Mas o referido docente usava sempre os mesmos ditados:

– O que quer dizer mais vale uma pomba na mão…

O que nos levou a crer que a cultura do mestre era, sem trocadilhos, de uma pobreza proverbial.

PARA INGLÊS VER

A expressão surgiu por volta de 1830, quando a Inglaterra exigiu que o Brasil aprovasse leis que impedissem o tráfico de escravos. No entanto, todos sabiam que essas leis não seriam cumpridas, assim, essas leis eram criadas apenas “pra inglês ver”. Daí surgiu o termo.

RASGAR SEDA

A expressão que é utilizada quando alguém elogia grandemente outra pessoa, surgiu através da peça de teatro do teatrólogo Luís Carlos Martins Pena. Na peça, um vendedor de tecidos usa o pretexto de sua profissão pra cortejar uma moça e começa a elogiar exageradamente sua beleza, até que a moça percebe a intenção do rapaz e diz: “Não rasgue a seda, que se esfiapa”.

O PIOR CEGO É O QUE NÃO QUER VER

Em 1647, em Nimes, na França, na universidade local, o doutor Vincent de Paul D`Argent fez o primeiro transplante de córnea em um aldeão de nome Angel. Foi um sucesso da medicina da época, menos para Angel, que assim que passou a enxergar ficou horrorizado com o mundo que via. Disse que o mundo que ele imaginava era muito melhor. Pediu ao cirurgião que arrancasse seus olhos. O caso foi acabar no tribunal de Paris e no Vaticano. Angel ganhou a causa e entrou para a história como o cego que não quis ver. Já dizia Millôr Fernandes que o pior cego é o que quer ver, pois dá um trabalho danado…

ANDA À TOA

Toa é a corda com que uma embarcação reboca a outra. Um navio que está à toa é o que não tem leme nem rumo, indo pra onde o navio que o reboca determinar.

ÁGUA MOLE EM PEDRA DURA, TANTO BATE ATÉ QUE FURA

Um de seus primeiros registros literários foi feito pelo escritor latino Ovídio (43 a.C.-18 d.C), autor de célebres livros como “A arte de amar” e “Metamorfoses”, que foi exilado sem que soubesse o motivo. Escreveu o poeta: “A água mole cava a pedra dura”. É tradição das culturas dos países em que a escrita não é muito difundida formar rimas nesse tipo de frase para que sua memorização seja facilitada. Foi o que fizeram com o provérbio, portugueses e brasileiros.

JURAR DE PÉS JUNTOS

– Mãe, eu juro de pés juntos que não fui eu.

A expressão surgiu através das torturas executadas pela Santa Inquisição, nas quais o acusado de heresias tinha as mãos e os pés amarrados (juntos) e era torturado pra dizer nada além da verdade. Até hoje o termo é usado pra expressar a veracidade de algo que uma pessoa diz.

MOTORISTA BARBEIRO

– Nossa, que cara mais barbeiro!

No século XIX, os barbeiros faziam não somente os serviços de corte de cabelo e barba, mas também, tiravam dentes, cortavam calos, etc, e por não serem profissionais, seus serviços mal feitos geravam marcas. A partir daí, desde o século XV, todo serviço mal feito era atribuído ao barbeiro, pela expressão “coisa de barbeiro”. Esse termo veio de Portugal, contudo a associação de “motorista barbeiro”, ou seja, um mau motorista, é tipicamente brasileira.

TIRAR O CAVALO DA CHUVA

– Pode ir tirando seu cavalinho da chuva porque não vou deixar você sair hoje!

No século XIX, quando uma visita iria ser breve, ela deixava o cavalo ao relento em frente à casa do anfitrião e se fosse demorar, colocava o cavalo nos fundos da casa, em um lugar protegido da chuva e do sol. Contudo, o convidado só poderia pôr o animal protegido da chuva se o anfitrião percebesse que a visita estava boa e dissesse: “pode tirar o cavalo da chuva”. Depois disso, a expressão passou a significar a desistência de alguma coisa.

NÃO VI NADA, NÃO SEI DE NADA

Falada pelos políticos brasileiros corruptos. No menor pecado – o Sítio de Atibaia – Lula pegou nove anos e meio. Quando somar tudo não vai dar tempo para cumprir a pena… o que é uma pena!

Armando Negreiros – Médico e Escritor
 As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

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