ENTRE PÁRIAS, METÁFORAS E POESIAS: O ABRAÇO IDEOLÓGICO DO ITAMARATY – 

Em mais uma cena pautada pelo dogmatismo e pela intolerância, a boa fama da diplomacia brasileira perde parte do seu brilho e da sua independência.

Não consigo enxergar o benefício externo para um país, numa relação que aposte no conflito ideológico. Penso que essa opção comete não só uma falha conceitual, como é capaz de gerar riscos de instabilidades. O equilíbrio nas posturas bilaterais ou multilaterais é vital. E isso requer a aplicação de um conhecimento técnico sobre as relações externas e de doses de humanismo.

De modo simplista, o que representa o papel de um diplomata? Ora, trata-se de um servidor público, altamente preparado (tem conhecimentos técnicos e humanos sobre relações internacionais), com habilidades para promover, estimular e negociar tudo que possa sustentar a política externa. Ou seja, não é à toa que o “ser diplomata” já represente uma vocação que extrapola a arte do “bem se relacionar”. Ao se ter o conceito na práxis cotidiana, assim se faz devido às habilidades que primam pela boa vizinhança.

Ao se ter esse conceito, que “bebe na fonte” do humanismo, soa estranho que se execute uma política que ponha as ideologias acima das relações diplomáticas. Assim sendo, como pode funcionar a prática comercial e todas suas derivadas de países que se doutrinaram politicamente de modo diferenciado? Ao contrário do conflito e em função dos interesses que dão sustentação à diplomacia é vital um ofício equilibrado.

Lamentável o que se assiste no ambiente do Itamaraty. Apequenar a política externa no afã de fazê-la pela estreiteza do viés ideológico é um tiro no pé. Por extensão, abusar de metáforas, contradições e dialéticas é outro erro estratégico. Tão inconsequente quanto isso é também insinuar que o humanismo pragmático esteja a serviço do totalitarismo. Nesse sentido, por maiores que tenham sido suas falhas, uma instituição que teve o privilégio de contar com Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto e o “poetinha” Vinicius de Moraes, representa um orgulho nacional.

Em nome desse humanismo, feliz é a Escola de Diplomacia que faz alta conexão com a Academia de Letras.

 

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Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador. Ex-Presidente da Fundação Joaquim Nabuco

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