Salve, salve Ferreira Gullar
Como maranhense de boa cepa, nascido José Ribamar Ferreira, o escritor, poeta, ensaísta e critico de arte Ferreira Gullar faria no dia 19 exatos 90 anos. Reverencio aqui este grande nome da literatura brasileira, que tem sido considerado por alguns o maior autor do século XX. Afinal, das 9 indicações acadêmicas que recebeu para o Nobel, entre prêmios literários como o Camões e Jabuti, Gullar construiu uma carreira digna de tamanhos méritos.
Nesta minha singela homenagem a quem foi um dos criadores do Neoconcretismo, tento “traduzir” seu jeito de expressar os contrastes e as contradições, pelas lentes com as quais mirava o mundo. Desde o Maranhão. E também do Rio de Janeiro.
E como saudar poetas por meio de poemas representa muito, eis uma das boas “traduções” do grande Gullar.
TRADUZIR-SE
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?
https://www.instagram.com/p/CE9sXNWBwDv/?igshid=qi3xcs639mxn
Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador. Ex-Presidente da Fundação Joaquim Nabuco