1- Lamentável a declaração de Bolsonaro de que o próximo juiz do ST deve ser alguém alguém que “toma cerveja comigo no fim de semana”. O membro da Corte Magna não deve ser advogado do Presidente. É uma carreira de Estado. Além do mais como disse a Barbara Lagoa, ex-juíza da Suprema Corte da Flórida, “é função dos juízes aplicar e não alterar o trabalho dos representantes do povo”

Com esta declaração, Bolsonaro sinaliza querer trocar o ativismo judiciário de esquerda pelo de direita. Não temos um ethos democrático.

2-  Trump surpreende. Desgosto do estilo bufônico de Trump governar bem como da maneira de abordar seus adversários políticos. Mas, não aprecio o modo como ele é tratado pela maioria da mídia e da academia. Como se não houvesse nada de positivo em seu governo. Mero ranço ideológico. Em 2017, trinta e cinco psiquiatras de instituições, como Harvard e Columbia, declararam ser Trump “incapaz” se servir com segurança no cargo de presidente dos EUA. Concentrar-me-ei na análise no que considero o resultado mais surpreendente de sua política externa.

Em 2015 foi firmado o Plano de Ação Integrado Conjunto entre EUA, China, França, Alemanha, Rússia, Reino Unido, União Europeia e Irã. Pelo mesmo, foram estabelecidos mecanismos para monitorar o plano nuclear iraniano em troca do fim das sanções econômicas impostas pela ONU contra Teerã. Após uma operação do Mossad em solo iraniano, dados foram revelados mostrando a farsa. Trump não teve dúvida: rompeu o acordo alegando que se o Irã obtivesse armas nucleares outros países da região seguiriam o mesmo caminho. Terroristas poderiam usar tais armas contra os interesses norte-americanos. Trump foi criticado por isolar-se de seus parceiros ocidentais, mas o tempo lhe deu razão. O Irã mentiu pois tinha uma usina nuclear secreta em atividade.

O receio de Israel e Arábia Saudita ao Irã gerou uma consequência não intencional e positiva. Eles se aproximaram de um modo inesperado. Entra em cena a figura de Tony Blair que desde o Quarteto do Oriente Médio, formado em 2002 para discutir o conflito na região, vinha propugnando uma mudança no eixo da busca da paz. Em especial após o secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, ter passado nove meses viajando para o Oriente Médio conversando com Natanyahu e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas. Não deu em nada e as conversas foram interrompidas em 2014.

Blair concluiu que a ideia de que só haveria paz entre Israel e os países árabes se a questão palestina fosse, em primeiro lugar, resolvida era improdutiva. Fazia-se necessário que a paz fosse firmada primeiramente entre Israel e os países árabes. A questão palestina seria algo a ser tratada posteriormente. Trump, ao contrário dos Democratas, comprou a ideia e mediou a aproximação informal entre Israel e os estados árabes moderados. Até que a União dos Estados Árabes e Bahrein, com o apoio da Arábia Saudita, fizeram o que muitos achavam impossível: a paz com Israel. Um novo tempo no Oriente Médio.

Antes Trump já mostrara sua divergência com os Democratas. Embora, o Congresso norte-americano tivesse decidido que a embaixada dos EUA deveria ser transferida de Tel-Aviv para Jerusalém, tanto Clinton como Obama se recusaram a cumprir tal decisão com receio da reação do mundo árabe. Trump discordou desta nova política de apaziguamento e fez a transferência. O próprio Kerry disse que esta decisão colocaria fogo no Oriente Médio, mas nada de mais grave aconteceu. O mundo árabe se distanciou da questão palestina. Quem a apoia são dois países islâmicos: Turquia e Irã.

 

 

 

Jorge Zaverucha – Doutor em ciência política pela Universidade de Chicago (EUA), é professor titular do departamento de ciência política da Universidade Federal de Pernambuco. Autor do livro “FHC, Forças Armadas e Polícia – Entre o Autoritarismo e a Democracia” (2005, ed. Record)

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