OS GATOS – 
 
José Alpiniano, professor aposentado e escritor, era viúvo e tinha como companhia dois gatos de estimação, a quem muito mimava. Um deles era da raça Angorá, preto retinto, porte elegante e pelo longo e sedoso. Chamava-se Koruga. Tinha ares de soberano e passeava por todos os lugares da casa, dormindo nas poltronas ou nos melhores tapetes.
O outro, chamado Kontik, era um gatinho “vira-lata”, ainda “bichano”, bonitinho e brincalhão. Os dois gatos pulavam sobre o birô do seu dono e por cima dos seus escritos, revirando tudo.
José Alpiniano era muito intolerante com as pessoas, mas se divertia com as peripécias dos dois gatos. Tinha prazer de alimentá-los com boa comida.
A companhia dos dois gatos supria a sua solidão. Eram considerados filhos, uma vez que seus dois filhos verdadeiros moravam em outro Estado.
Os gatos eram dóceis, amigos entre si e obedientes às ordens do seu dono. Tinham o lugar certo para satisfazer suas necessidades fisiológicas.
Maria, a antiga criada, cuidava da casa, e também da roupa e alimentação do patrão.
José Alpiniano gostava que os dois gatos estivessem sempre ao seu lado. Isso, para ele, era uma terapia. Entretanto, às vezes fechava-se no escritório, para se concentrar melhor nos seus escritos. Os dois gatos, quando notavam que a porta estava fechada, miavam desesperadamente. Arranhavam a porta com as unhas, até que fosse aberta.
Desejando evitar estresse nos queridos gatinhos, José Alpiniano mandou chamar um conhecido marceneiro e lhe deu a seguinte ordem:
– Jocildo, quero que abra duas passagens, na parte inferior desta porta. Uma, grande, para o gato maior, e outra, pequena, para o gato menor. Quero que os dois possam entrar e sair livremente do meu escritório.
O marceneiro, admirado, respondeu:
-Mas, Seu Alpiniano, basta fazer uma passagem grande! Servirá para os dois gatos! Não há necessidade de duas.
Contrariado, o homem retrucou, grosseiramente:
-Não precisa? E por onde o gatinho pequeno passará? Faça o que eu estou mandando! Quero duas passagens!
O marceneiro nunca tinha se deparado com uma pessoa tão opiniosa.
E obedeceu à ordem recebida.
Violante PimentelEscritora

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