O menor dos felinos é uma obra de arte. Essa afirmação foi feita pelo melhor artista plástico de todos os tempos, Leonardo da Vinci. Ele fez   estudos maravilhosos sobre o seu animal predileto, inclusive, colocou-o nos braços de Nossa Senhora.

Fui a Amboise para ver o local onde Leonardo havia passado os últimos anos de sua vida. O rei Francisco I destinou-lhe um solar, Clos Lucé. No quarto em que falecera, uma surpresa. Em sua cama, coberta com colcha vermelha, refestelava-se um gato sob o olhar divertido de um vigilante da casa.  Imaginei: será que o gato pressentia a presença do artista?

Os gatos protegem. São misteriosos. Sentem e pressentem. Desde o Egito Antigo eles são reconhecidos como seres espirituais, divindades mesmo. O poeta Irapuan Sobral teme que eles sejam feitos dos sonhos que sonhamos. De uma vida na qual somos os atores e “os gatos são o deus que duvidamos”.

Jorge Luís Borges compara o gato ao espelho, a que chamava de misterioso irmão, e confere-lhe dimensão desmedida: “Tu és sob a lua essa pantera”.

A maioria das pessoas tem predileções: gostam de gatos ou de cachorro. Eu prezo igualmente os dois. Só não gosto de um gato preto que tenta caçar os passarinhos que eu crio em liberdade. Mantenho para eles um self-service. Já as pessoas enfaradas com os gatos chegam a dar-lhes um destino cruel. Assim está no cancioneiro popular: “Aquele gato que não me deixava dormir, agora me faz sorrir. É tamborim”. Outros dão o seu nome a instrumento de furto de energia. Chamam também bandidos ladrões de gatunos.

Lygia Fagundes Telles diz que ele traz viva a memória da liberdade. Porque não obedece. Ivo Barroso, sempre genial, traduziu Gato de T. S. Eliot (Prêmio Jabuti, 1992) e criou a palavra pre-miado (com hífen). O que um gato pode tramar antes de emitir sua voz?

Meu primeiro herói de ficção foi O Gato de Botas. Hoje, prefiro Garfield, que imita o homem e ocupa desenhos de jornais de quase todo o mundo. Não simpatizo com a deusa Bastet, a mulher-gato, ainda que seja símbolo de luz e energia.

Chamam de gata a mulheres sedutoras. Em contrapartida, elas estão designando, no masculino, o sedutor. Imagino que a designação é muito antiga, nascida da mitologia grega. Diana, a casta e bela deusa, transformou-se em gata para fugir ao assédio masculino.

O escritor Edson Nery da Fonseca, oblato, vizinho do Mosteiro de São Bento, ao morrer, deixou em sua casa 23 gatos amados. Quem os acolheu?

A minha filha Karenina, ainda menina, amava o seu gato siamês e deu-lhe o nome catalão, Jordi. Ele era poderoso, quase um santo. Como o nosso São Jorge, ele a protegia de todos os dragões da infância.

Se possível, crie os dois bichinhos de estimação. Eles lhe protegerão da humana solidão. O cão fará a proteção física, o gato, de insuspeitáveis malignidades.

 

Diógenes da Cunha Lima – Advogado, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *