O VENDEDOR DE CASTANHAS –

No trajeto, uma lombada tornou menor a minha pressa.

Ao diminuir a ansiedade de chegar logo ao destino, ultrapassei lentamente a onda amarela e quando quis retomar o movimento para ajustar a velocidade, vislumbrei na calçada uma banca com sacos de castanhas assadas. Nessa fração de pausa percebi um olhar que despertou a minha atenção.

Era um jovem garoto ofertando tais castanhas aos transeuntes menos ou mais apressados, como eu. Confesso que o produto era convidativo, pois me amarro numas castanhas de cajú queimadinhas.

Mas não foram pelos frutos assadinhos que primeiro me interessei. Foi por sua convicção como vendedor e pelo pedido oculto de  “me ajude”,  que ligou meu instinto em vibrar com aqueles que se esforçam em fazer o melhor que podem.

Fiz uma parada na calçada mais adiante e, pelo retrovisor, vi que o jovem vendedor enlargueceu a passada e se aproximou dizendo que “estavam bem novinhas”.

Para testar seu empenho perguntei se não tinha umas mais queimadinhas, ao que ele de pronto disse: “Vou buscar”. “Essa tá do jeito que o senhor gosta”, foi o argumento decisivo. Atendeu a minha necessidade de mastigar uma castanha deliciosa, assadinha a pouco tempo, tudo de acordo com o gosto do “cliente”.

E quanto é?

“R$ 25,00 o meio quilo”.

Já simpático por estar tudo dentro do padrão que gosto, resolvi pechinchar: Vinte reais paga?

Um instante de silêncio.

Eu tomado de expectativa pela resposta fiz minha mente matemática e mercadológica funcionar e imaginar, como a cabecinha daquele jovem estava elucubrando sobre dar ou não o desconto.

Certamente ele era o elo final da cadeia produtiva. Alguém colheu as castanhas in natura, transportou para algum local, para outro processar a queima, para outro descascar, para outro ensacar, para outro comprar, para outro intermediar a venda, enfim àquela banca, na calçada, para ser ofertada.

Voltei ao contexto e indaguei: dá para fazer?

A resposta estava finalmente elaborada: “Dá não!A crise aqui está muito grande!”.

A certeza de que se me desse o desconto poderia usurpar o seu magro lucro frente a atual crise econômica que atinge, principalmente, a subsistência de muitas famílias, me fez pagar o justo preço pedido e extrair do meu coração um sorriso e uma bênção para o pequeno vendedor.

Ele também sorriu, talvez aliviado por eu ter aceitado o seu argumento e de não ter frustrada a sua possibilidade da venda.

Segui meu caminho, mas até esse momento de transformar em letras esse “encontro, fui me transformando em pensamento e reflexão de quantos e quantos jovens estão envolvidos honestamente em contribuir para os pargos sustentos de suas famílias.

Deus o abençoe.

Alí mesmo já degustei as primeiras…

Você também gosta das queimadinhas!?

 

 

 

Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil, escritor e Membro da Academia Macaibense de Letras ([email protected])

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

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