Já aposentado e precisando engordar o caixa, que era magro, para sustentar a grande família, meu pai, Antônio de Castro, reformada da Polícia  Militar, resolveu ir até o seu estimado amigo e compadre, o Governador Dinarte Mariz, em  busca de um emprego.

Na verdade não era seu costume, nem muito menos do seu agrado: “pedir” era uma palavra que ele não gostava de pronunciar e menos ainda de usá-la.

Foi incentivado pela minha mãe Alice, que teve o cuidado de lhe aprontar para o encontro com  o compadre Governador: roupa limpa, engomada, barba feita, um pouco de água de cheiro no pós barba, lá se foi. O velho amigo o recebeu muito bem, como de costume, e, de pronto, lhe foi assegurado o emprego solicitado.

Alguns dias depois, foi chamado ao Palácio Potengi, sede do governo, para receber a devida dádiva. O novo, prometido e tão esperado emprego foi para ocupar a titularidade da terceira delegacia de polícia da Ribeira, foco maior da prostituição de Natal, por sinal localizada bem em frente à alegre, encrenqueira e famosa Boate Alabama, na rua Ferreira Chaves.

A notícia não agradou à família, uma vez que não combinava e nem se mostrava compatível com o momento da sua vida, já com a idade avançada e a saúde em declínio. Mesmo assim, aceitou, por força das circunstâncias financeiras da época.

Iniciou então a sua missão, que já não era para ele nova, uma vez que já tinha ocupado inúmeras outras delegacias como titular, só que em ocasiões bem diferentes – jovem e cheio de saúde.

Arrumou a casa à seu estilo e bola pra frente. Na época, fazia parte da equipe de investigadores da polícia civil da delegacia um conhecido elemento perverso e desumano, que exercia com muito prazer uma rotina de acordar/levantar os presos pela madrugada e torturá-los na cela com uma bruta surra, usando a sua famosa e pesada palmatória.

Tomando conhecimento do fato, o novo/velho delegado chamou o torturador sádico e lhe falou com palavras bem claras, objetivas e no olho a olho:

– A partir de hoje, não quero mais ouvir falar, nem ao menos sonhar que procedimentos de torturas vieram a acontecer na minha delegacia, ouviu investigador?

Demorou a responder o policial civil; e com um olhar de revolta e repúdio para o novo delegado, respondeu:

– Sim, senhor delegado!

– A ordem foi dada e exijo rigorosamente o seu cumprimento!

A partir daquele momento se encerrava e não mais se ouviria  falar de torturas naquela delegacia.

Assim se configurou e se eternizou o perfil  do homem simples, humano, que destinou grande parte da sua vida, com prazer, amor e respeito, à Polícia Militar e à segurança do nosso Estado.

Descanse em paz, meu querido, meu velho, meu pai, meu amigo!

Berilo de Castro – Médico, escritor, membro do IHGRN  – [email protected]

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