O PODER DO SILÊNCIO –

Nossa cultura já incutiu na maior parte das pessoas o poder do silêncio, mas o fato é que nunca damos a ele o seu verdadeiro valor.

Se acreditarmos que “quem cala consente”, concordamos que aceitamos tudo aquilo que não for expressamente rechaçado. Calados, consentimos com a miséria dos pedintes na rua, consentimos com a falta de honestidade das pessoas em geral e, muitas vezes, com as nossas próprias, antiéticas, atitudes. O silêncio nos torna cúmplices, reféns e algozes. O silêncio nos corrompe, nos oprime e, sobretudo, nos torna criaturas frias.

No mesmo nível das afirmações anteriores, encontramos outra pérola do conhecimento popular que ensina que “em boca fechada não entra mosca” e, neste caso, o silencio é justificado e exaltado. A inércia aparece mais uma vez, agora como ponto positivo. Outros exemplos de atitudes semelhantes são dados diariamente. “Quem não chora, não mama” e “quem tem boca vai à Roma” fomentam a dialética humana e estimulam momentos de reflexão.

O ponto crucial de tantas lições é a ética. Tudo converge para quando falar ou quando calar. Qual é o momento exato de se lançar mão deste ou daquele ditado?

Cada pessoa tem seus princípios e por eles deve guiar-se no decorrer de sua jornada, mas existem, ou pelo menos deveriam existir, pontos em comum entre todos os objetivos humanos.

O bem maior e a felicidade do próximo devem auxiliar-nos no desenrolar de nossa existência. Falar ou calar deve ser uma escolha firmemente alicerçada em princípios éticos e morais.

O falar deve ser movido pelo desejo de ajudar alguém, de esclarecer uma situação, de elogiar ou de trazer algum ensinamento. Denunciar alguém que abusa, que maltrata outra pessoa, é um ato de coragem. Essas situações não podem passar “em branco” e calá-las constitui uma infração tão grave quanto executá-las nós mesmos. Denunciar alguém que abusa, que maltrata outra pessoa, é um ato de coragem. Trazer alegria e tecer elogios sem quaisquer outras intenções é maravilhoso. Consolar ou defender a outrem são atos tão louváveis e inexistem palavras para caracterizar ou retribuir tais gestos.

O calar, assim como o falar, deve ser exercido com reserva e meditação. Deve ser consciente e zeloso, para que não se confunda com a omissão nem com a propagação inconsequente e inverídica dos fatos. Diante da injustiça, falamos; diante da boataria, calamos. Não é à toa que nós temos dois ouvidos e apenas uma boca. Ouvir é muito mais importante que falar. Em certas circunstâncias, porém, calar é aceitar, permitir, e nem sempre nossa boca consegue ficar em silêncio enquanto a consciência grita.

Nós somos livres para usar ou não nossas palavras, mas estas opções nos vinculam à escolha que fazemos e por isto a parcimônia deve ser companheira constante em nossa vida, para que possamos usar a nossa voz para melhorar o mundo ao qual pertencemos.

 

Ana Luiza RabeloAdvogada ([email protected])

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