O MOTORISTA FANTASMA –

Entrou por uma perna de pato, saiu por uma perna de pinto, o seu Rei mandou lhe dizer que você contasse cinco.”

Estávamos em uma reunião deveras importante no bar do nosso amigo GG, na esquina da Praça Augusto Leite. O assunto era a culpa ou não de Judas na morte de Jesus. Eu e o amigo Fernando Mousinho, discordando do “episcopal” colega Leonardo Sodré, que tentava a todo custo nos convencer da culpabilidade (êta Dr. Caio Augusto) do apóstolo.

Em uma mesa próxima, estavam o som, meus amigos Vicente Barbosa e Airton Ramalho. Vicente que é nosso Canarinho de Ouro cantava com grande eloqüência. Pois bem olhem a música que ele cantava, enquanto Leonardo tentava fazer cair às benções dos Céus sobre nós, Vicente berrava como o autentico Bienvenido Granda – Que murmurem. Faziam ainda parte da nossa mesa: Aureliano (Verinho), Lelo, Brega, e nosso grande advogado Leôncio Fernandes.

 Neste clima festivo, de repente, nada mais que de repente, surge um caminhão em plena avenida, dando ré em direção as mesas na calçada. Foi quando começamos a gritar para o motorista parar, e nada. Lá vem, lá vem, lá vem, puft. Ouviu-se um estrondo e nêgo pulando pra todo lado. GG botou as mãos na cabeça, gritou do balcão – Valha-me Deus, morreram uns cinco. Caí, quando tentei me levantar, senti um peso tremendo nas costas, e ouvi uma voz.

– Isto foi castigo, fomos castigados, a mão de Cristo nos sentenciou.

Olhei para cima e disse: Pastor Leonardo, deixe a mão de Cristo pra lá e tire a sua bunda das minhas costas que quero me levantar. Quando fui me levantando, vi um cidadão correndo, acenando com as mãos e gritando – Segurem o caminhão, segurem o caminhão. Pensei comigo mesmo: “Quem é este filho da puta que estar gritando segurem o caminhão.” Era o motorista, o caminhão tinha descido sozinho, passou por cima de uma moto que estava estacionada, bateu em um poste em frente às mesas e parou. Vendo aquilo, o nosso advogado com a calma que lhe é peculiar, agarrou o “dito-cujo” pela gola da camisa, levantou uns trinta centímetros do chão e berrou – Esteja preso, O motorista ainda sem os pés no chão, olhou para ele e se urinou todinho e falou.

 – Além de perder o emprego, eu ainda vou preso? “Dotô” tenha dó de mim. E começou a chorar.

Naquele momento, a celeuma era geral. Uma voz é ouvida, vindo de dentro do Bar

 – Eu vou dar a Luz, eu vou dar a luz. Lelo se levantou e respondeu, sem olhar para quem.

– Não precisa de porra, de luz, porque são duas horas da tarde e estar tudo muito claro. Foi uma senhora em adiantado estado de gravidez, e com o grande susto, estava chorando muito nervosa, pensava que ia dar a luz. A criança não nasceu.

Com a confusão generalizada, Aureliano que estava mais melado que universitário em dia de trote foi abrindo os olhos, tentou entrar por debaixo do caminhão, gritando.

– Vamos salvar o motoqueiro, eu estou vendo a cabeça dele ali embaixo. Era o capacete que tinha ficado preso na parte de baixo do caminhão.

Para terminar o samba do crioulo doido instalado, chegaram os policiais “competentes” e um deles foi dizendo.

– Boa tarde. O que foi que aconteceu aqui.

Prontamente um bebum entre os muitos respondeu.

– Nada “autoridade”, nada, coisas da vida. A gente tava aqui tomando umas, quando deu uma ventania muito forte, levantou este caminhão que estava estacionado ali (apontando o lugar) ele saiu voando e caiu aqui, quase na cabeça da gente.

 

 

 

 

 

Guga Coelho Leal – Engenheiro e escritor, membro do IHGRN

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