CARLOS ALBERTO JOSUÁ COSTA

O MÉDICO, A BOLA E A VACA HOLANDESA –

Faz tempo! Mas não quero iniciar com: Era uma vez…

No primeiro choro, já tinha gente dizendo: “Vai ser um grande tenor”.

Já prestou atenção que todo menino novo, cega os visitantes e familiares! Num instante o bebê é parecido até com o tataravô. Os mais afoitos dizem: “Olhe o pezinho dele, parece o do Pequeno Príncipe”. Como comparar se nunca se viu por aqui, esse tal príncipe?!

Bem, eu nasci com uma pequena deformidade que se caracteriza pelo pé virado para dentro e para baixo (equinovaro), rígido, sendo difícil colocá-lo na posição normal com a manipulação.

Não tem problema: “Vamos corrigir esse empeno”. “Deixe o garanhão ficar mais durinho e levaremos ao doutor para examinar direitinho”. “Quem sabe se com dois espirros não volta ‘pru’ lugar!”

Numa rezadeira não dá três visitas! Basta ela dizer: “Santa disso, santa daquilo / Olha bem pre’se menino/ Tira dele essa tortura / Pois de reza dou um mimo/ Transformada em fartura”.

Pronto! A senhora é a mãe? “Não! Sou sua irmã mais velha: Rejane, filha de Zizinha, sobrinha de Eunice Costa e neta de Da. Aline”. “Amanhã você volta trazendo, além dele, duas bananas e uma banda de jerimum caboclo, que vou fazer uma papa para passar nos pezinhos dele.” “É bater e valer!” “Agora precisa de muita fé! A senhora tem ‘fé de mais’ ou ‘fé de menos’?” Não sei! Quando chegar em casa pergunto a mãe!

Todo menino que nasce já trás anexado os padrinhos: os meus eram o casal, Dr. José Jorge Maciel e Zuleide Meira Maciel.

Vamos conhecê-lo? No Portal Oeste News, Jota Maria, retrata os médicos potiguares, e de seu blog selecionamos:

As pessoas se particularizam pelo caráter que têm e demonstram ao longo das circunstâncias e desafios da vida. Em razão dele é que estabelecem formas inconfundíveis de interação com as demais pessoas, se posicionam com determinadas características no ambiente social em que convivem, tomam atitudes diante do cotidiano mais simples em que todos estão mergulhados ou constroem algumas vezes a sua opção político-ideológica. José Maciel foi sempre o mesmo homem em todas as atividades que exerceu, no âmbito médico-profissional ou no território da política ou, ainda, até mesmo como fazendeiro, quando se tomou um criador seletivo e apaixonado por gado de raça e, mais do que isso, um extraordinário conhecedor e especialista em animais leiteiros, apesar de ocultar a sua experiência e conhecimento sob o disfarce de um discreto observador apenas interessado e diletante. O mesmo homem, idêntico ao que era no relacionamento com familiares e amigos: um homem de convicções firmes, de uma firmeza que inspirava confiança e respeito…

Precisa dizer mais alguma coisa? Precisa! José Jorge Maciel e Ranilson Costa eram primos e daí a afinidade para a escolha do apadrinhamento.  Eles tinham uma espécie de ‘senha’ que se comunicavam a cada encontro e que me chamava muito atenção pela alegria demonstrada por eles.

Um detalhe me fez admirá-lo: quando a tecnologia da informática começou a ‘pegar’, ele já médico e de espírito jovial, enveredou a aprender computação. Dava para perceber a satisfação por ele transmitida, por estar descobrindo os passos da ‘programação’ para controle geral de seus processos. Era contagiante!

Como padrinho e médico, ‘completou’ o que a rezadeira ‘abriu caminho’: fez a cirurgia colocando meus pés no prumo!

Passei a usar botas com ‘cano’ de couro e ferro, para me firmar com segurança. Ainda tenho essa botinha, que minha mãe guardou e, de vez em quando, mostro aos meus filhos, como gratidão e homenagem ao Dr. José Jorge Maciel.

Já garoto crescido, morando na Av. Presidente Bandeira, no Alecrim, bem próximo do Cine São Luiz (hoje, Banco do Brasil) passei a ‘jogar bola’ na calçada de casa. A bola, feita de matéria plástica, era a “Dente de Leite”. Só se recebia no Natal, se tirasse notas boas e fosse bem-comportado. Era o fino da bola que todo menino desejava.

Meu padrinho transforma outro sonho em realidade: Presenteia-me com uma bola de couro branco.  Senti-me o próprio rei do futebol. Naquele tempo quem nos proporcionavam alegrias: Garrincha, Pelé, Didi, Zagalo, Amarildo…

Passei a ‘adorar’ a bola a tal ponto que não permitia nem tocar no chão nem jogar com ela na calçada. Por insistência dos irmãos Nilson e Louis, resolvemos dar os primeiros petelecos utilizando o oitão de nossa casa. Chuta prá lá, rebate pra cá. Era uma alegria só! Com o tempo foi gastando os gomos e ficou só na lona.

“- Meu filho, seu padrinho lhe deu uma vaca holandesa”! Está em Ferreiro Torto, lá em Macaíba, na granja de vovó Ellen (mãe de José Jorge Maciel).

– Mas papai o que eu vou fazer com essa vaca? “Nada!” “Ela vai ficar na granja e quando formos lá, você conhecerá.” Vera Lúcia (minha irmã) foi logo dizendo: “Só não traga pra cá! Não tem onde ela dormir”. “No meu quarto, nem pensar!”

Tá prestando atenção às suas atitudes? Assim era o Dr. José Jorge Maciel: desprendido, de bom coração, de fazer o bem a inúmeras pessoas, sem buscar nenhum retorno. Basta saber sobre suas ações sociais. Quer ver? : Pergunte ao Dr. Olímpio Maciel, seu filho, lá no Instituto de Radiologia ou no Instituto Pró Memória, lá em Macaíba!

O bom de tudo isso é que seu exemplo de hombridade e competência se transmitiu aos filhos: Olímpio, Nadja, Cleide e José, aos netos: Maciel Neto, Felipe, Ingrid, Adriana, Nélio, Luiz Neto, Daniela e Fernanda, e que se perpetuará, sem nenhuma dúvida, aos bisnetos: Álvaro, Alice, Ellen, João Ezequiel, Daniel, Ingrid Dias, Natalia, Sara Dias, Sofia, Beatriz e Sara Medeiros.

Com meus pés trilhei caminhos planos, às vezes ásperos e ondulados, buscando atalhos quando os obstáculos eram intransponíveis, graças à “aprumada” que os mesmos foram submetidos.

Ser grato é perceber a amplitude da ação que o outro, sem receio de “perder”, esbanja em doação por nós.

Sêneca já dizia: “Quem acolhe um benefício com gratidão, paga a primeira prestação da sua dívida”.

Não sei em quantas vezes Deus parcelou a minha dívida, mas a primeira está paga.

 E a senha? Já ia esquecendo: “Taboquinha”.

Quando encontro José (um de seus filhos) não tenho dúvida, vou logo falando: “Taboquinha”! A resposta é idêntica: “Diga Taboquinha”!

O que significa?!

Só eles sabiam.

Carlos Alberto Josuá CostaEngenheiro e Consultor

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

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