O EXEMPLO NEFASTO –
Nesses últimos dias, farto e saturado de tantos acontecimentos policiais na mídia televisiva local, me vejo diante de um acontecimento curioso e inusitado. Diria melhor: o primeiro visto e ouvido por este potiguar de Caicó/RN.
Um pequeno grupo de menores (crianças), de posse de uma velha carroça, estava praticando uma surrupiada ação, colhendo alguns objetos de propriedades alheias, quando foram flagrados e detidos por policiais. Levados à delegacia para justificarem seus atos ilícitos e interrogados por um repórter policial na delegacia, assim se expressaram:
— O repórter: Vocês roubaram esses objetos?
— Sim, nós roubamos sim! Estávamos precisando! Não temos dinheiro, nem muito menos o que comer!
Arremata um outro menor:
– Pior são os políticos, que roubam todos dias na maior cara de pau; que ganham muito dinheiro e não são presos.
O repórter repetiu e insistiu na pergunta e a resposta foi incisiva:
– Os políticos, os políticos mesmos, eles roubam todos os dias, todas as horas.
Diante da firme resposta do grupo de crianças denunciando e justificando sua ação ilícita como um ato “normal” e corriqueiro praticado diuturnamente pelos políticos, o que dizer mais? Como prender e castigar uma criança diante do seu argumento tão verdadeiramente bem colocado a um repórter policial?
Eu diria mais: que medidas repressivas foram tomadas com a descoberta de malas e mais malas com milhões de reais encontradas em um apartamento de políticos na cidade de Salvador/BA; da famosa mala arrastada no meio da rua, cheia de dinheiro, pelo assessor direto e braço direito do presidente da Republica; da cueca cheia de garoupas (notas de cem reais)?
Não há como negar. Tudo foi visto e acompanhado por todos nós.
Que tristeza! Que vergonha! Que imoralidade!
O fato registrado e passado ao público na mídia por uma criança é a pura realidade vivida nos dias de hoje. É lamentável, porém, da mais legítima verdade. É importante dizer que a afirmação não atinge a todos, não é unanimidade, menos ruim. Mas dói e destrói a dignidade de um povo.
O momento é de muito pesar, de muita reflexão e de muita tristeza; assistir a uma cena tão deprimente, quando uma criança chega a dizer que pode roubar porque os políticos lhes dão exemplos.
A que ponto de desmoralização chegou a nossa classe política. Como acreditar em um país governado por esse tipo de gente? Como ficar diante de um quadro tão deprimente e anárquico?
Vamos à frente. Valorizar e pesar mais e mais o nosso voto na escolha dos nossos representantes públicos.
Mudar, mudar e mudar!
Nós podemos!
“Eu fico com a pureza das respostas das crianças/É a vida, é a vida, é a vida…”.
Berilo de Castro – Médico, escritor, membro do IHGRN – [email protected]