O EROTISMO NA TERRA BRASILIS – 

 

Em 1900, quando Machado de Assis publicou Dom Casmurro, a libidinosidade era bastante contida porque as mulheres não davam margem à expansão desejada pelo imaginário masculino. E não era para menos, as vestimentas femininas cobriam o corpo da cabeça aos pés sem dar chance a qualquer lance erótico.

É incrível imaginar que a fixação sexual de Bentinho por Capitu – personagens do romance acima citado – surgiu no instante em que ele viu, de relance, um naco do calcanhar de sua futura esposa subindo num bonde numa avenida do Rio de Janeiro.

“Bah! Isso foi há 120 anos” – dirão alguns. Não por isso, porque nos anos 50 e 60 ainda persistia a falta de publicações específicas sobre erotismo. Um tabu para a época. Ver mulher despida somente nos prostíbulos, desde que pagas pelo trabalho. Afinal trata-se de uma das mais antigas profissões da humanidade.

A salvação da rapaziada para dar vazão a testosterona abundante eram as histórias em quadrinhos, quentíssimas, de um desenhista desconhecido chamado Carlos Zéfiro. Durante décadas os quadrinhos de Zéfiro foram a única fonte de educação sexual para adolescentes, quando a nudez era rara até em fotografia.

O desenhista pornô reinou absoluto com as edições do seu catecismo – apelido da publicação nas bancas de jornais -, até começar a circulação da revista Playboy, e antes da liberação de nudes nas revistas e no cinema. Em 1991, numa reportagem da própria Playboy, revelou-se o nome do misterioso autor: tratava-se de Alcides Aguiar Caminha (1921 – 1992), datiloscopista do Ministério do Trabalho.

A surpresa ficou por conta de o desenhista não ser um total desconhecido. O ícone dos quadrinhos pornográficos do país era, também, parceiro de Nelson Cavaquinho num dos clássicos do samba brasileiro: A flor e o espinho.

Com a publicação da Playboy, a partir de 1975, deu-se uma nova dimensão ao erotismo no Brasil. Podia-se folhear fotografias de mulheres despidas, tal qual a matriz da revista nos Estados Unidos. O ápice da evolução aconteceu quando celebridades aderiram à moda de se mostrarem nuas e cruas para o mundo.

A primeira atriz brasileira a aparecer despida para a festejada revista masculina foi Betty Faria. Acompanharam-na, praticamente, todas as integrantes do plantel global: Luíza Tomé, Bruna Lombardi, Christiane Torloni, Luíza Brunet, Flávia Alessandra e muitas outras figurinhas carimbadas das televisão, teatro e cinema nacionais.

Após posarem para a Playboy, duas atrizes ficaram gravadas no imaginário masculino, tanto o quanto que foram expostas nas paredes das borracharias pelo Brasil afora: Vera Fischer, a eterna musa, num ensaio de agosto de 1982; e, em janeiro de 1985, Cláudia Ohana, a beleza selvagem, quando ambas mostraram a quem duvidasse que fosse possível, a abundância de seus predicados naturais.

Hoje, Dom Casmurro sobressai-se apenas pelo pioneirismo do estilo contendo ilações suaves sobre erotismo; os quadrinhos de Zéfiro perderiam a razão de existir pelas imagens toscas e pouco detalhistas; e, a Playboy, lançada há quase 43 anos, saiu de circulação pelo desinteresse popular.

Agora, não existem limites para absolutamente nada. O erotismo é tratado como uma coisa banal, o romantismo desapareceu, o imediatismo prevalece em todas as atividades humanas. O sexo deixou de ser visto como um ato quase sagrado, transformado numa atividade ocasional, comumente, sem qualquer encantamento.

Hoje o sexo explícito está disponível para homem, mulher ou criança, bastando acessar sítios específicos da Internet… E melhor, gratuitamente.

 

 

 

 

 

José Narcelio Marques Sousa é engenheiro civil

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

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