MULHER DOS OUTROS –

Mulher sempre é bom, embora tenha umas que em determinadas ocasiões estrague. A mulher dos outros em regra geral tem sabor especial, não chateia, não enche seu saco, não briga e sempre quanto lhe ver faz uma festa. Nunca a mulher de ninguém me pediu para levá-la ao supermercado, apanhar filhos ou netos no colégio, pagar conta de água ou luz, acordar cedo para ir ao trabalho, levá-la ao dentista ou ao médico, levar o carro para a oficina, não telefona para sua casa etc. Algumas até fazem questão de quando se encontrar com você está totalmente camuflada, com bonés, óculos escuros e outros acessórios que a mulher sabe usar muito bem. Também o “custo de manutenção” com a mulher dos outros sai bem mais barato que com sua mulher.

Certa vez estávamos na nossa reunião semanal das quartas feiras na Confeitaria Atheneu, quando um colega comentou na mesa, para outro amigo próximo.

– Rapaz eu sai com uma Fulana casada, fomos á um Motel, e eu gastei mil paus em apenas três horas.

– Peraí Cara, ela era boa, bonita, educada?

– Era sim, mas por que isto?

– Porque está de graça. Se eu computar o que eu gasto com minha mulher e as vezes que eu saio com ela, bota mil paus nisto! Falou o amigo entre gargalhadas dos outros.

Na verdade, quando se fala em mulher dos outros, não se fala em mulher de amigos, a respeito disto escreveu o contista Antonio Maria.

“Dia claro. Primeiras horas do dia. Havíamos bebido e procurávamos um café aberto, para uma média, com pão-canoa. Quase todos estavam fechados ou não tinham ainda leite ou pão. Fomos parar em Ipanema, num cafezinho, cujo dono era um português e nos conhecia de nome de notícia. Propôs-nos, em vez de café, um vinho maduro, que recebera de sua terra, “uma terrinha (como disse) ao pé de Braga”. Não se recusa um vinho maduro, sejam quais forem às circunstâncias. Aceitamo-lo. Nossa grata homenagem a José Manuel Pereira, que nos deu seu vinho. Nesse café, além de nós, havia um casal, aos beijos. As garrafas vazias (de cerveja) eram quatro sobre a mesa e seis sob. Beijavam-se, bebiam sua cervejinha e voltavam a beijar-se. Não olhavam para nós e poucos estavam ligando para o resto do mundo. Em dado momento, entraram dois rapazes e pediram aguardente no balcão. Ambos disseram palavrões, em voz alta. O casal dos beijos e da cerveja parou com as duas coisas. Outros palavrões e o cabeça do casal protestou:

—Pára com isso, que tem senhora aqui!

Um dos rapazes dos palavrões:
— Não chateia!
— Não chateia o quê? Pára com isso agora!
Um dos rapazes do palavrão:
— E essa mulher é tua mulher?
— Não é, mas é mulher de um amigo meu!
A briga não foi adiante. Todos rimos. O dono da casa, os rapazes dos palavrões, o casal. “Está provado que: quem sai aos beijos com mulher de amigo não tem direito a reclamar coisa alguma.”

É assim a vida. Fecha o pano.

 

 

Guga Coelho Leal – Engenheiro e escritor, membro do IHGRN

As opiniões emitidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *